Reprodução: Matteo Gualda
O espetáculo Juventude, apresentado na Mostra Fringe e encerrado ontem (02) no Festival de Curitiba, encontrou no palco da Alfaiataria Espaço de Arte uma casa cheia e atenta. Trata-se de um monólogo conduzido por Nathan Milléo Gualda, que constrói um jogo cênico dinâmico e interativo, convidando o espectador a refletir sobre os hiatos entre as fases da vida e a fluidez da identidade.
Desde os primeiros instantes, a cenografia se impõe como um elemento dramatúrgico de peso. Placas brancas, araras e bastões de luz LED deixam de ser meros adereços e tornam-se coadjuvantes dessa encenação que busca existir visualmente tanto quanto na palavra. A iluminação e a sonoplastia acompanham essa proposta com um trabalho sofisticado, explorando o potencial da cena e imprimindo ritmo ao espetáculo.
Nathan Milléo Gualda transita com habilidade entre as camadas de seu personagem. Por vezes, aposta na caricatura; em outros momentos, recorre a uma naturalidade sutil; e, quando a peça pede maior densidade, encontra profundidade sem perder a leveza da interação com o público. É nesse jogo que emerge a subjetividade de Roberto Carlos, personagem que serve como ponte entre o ator e a plateia.
Se a encenação é competente em sua execução, a dramaturgia, por outro lado, caminha por terrenos já demasiadamente trilhados. Não há aqui uma perspectiva inédita ou um debate provocador. Isso, em si, não constitui um problema – nem toda obra precisa reinventar a roda. Contudo, o espetáculo se rende à previsibilidade e, apesar do dinamismo inicial, perde fôlego à medida que se aprofunda, resvalando na monotonia típica dos monólogos que se alongam além do necessário.
O público sente essa diluição rítmica. Se no início a interação e o humor garantem o envolvimento, com o passar do tempo, percebe-se a dispersão – evidenciada por espectadores que, sutilmente, desviam o olhar para o brilho das telas de seus celulares.
Longe de ser um espetáculo frágil, Juventude é uma experiência teatral digna de atenção, sobretudo para aqueles menos familiarizados com a cena contemporânea. É um trabalho bom – não excepcional, mas competente. Para que atinja seu potencial máximo, talvez falte um olhar mais preciso na lapidação do texto e no equilíbrio das interações, garantindo que a imersão do público se sustente até o final.
O que distingue Juventude não é o que diz, mas como existe no palco. Há um ator versátil, uma estética bem trabalhada e um jogo cênico interessante. No entanto, quando o espetáculo se propõe a mergulhar mais fundo, ironicamente, se dispersa. E nessa dispersão, a juventude que se busca representar se torna, paradoxalmente, um reflexo de sua própria fugacidade.