Festival de Curitiba para todos: Língua

Foto: Renato Mangolin

O texto de Vinicius Arneiro, Pedro Emanuel, em interlocução com Catherine Moreira, foi premiado na categoria de melhor Dramaturgia da 35ª edição do Prêmio Shell, considerado um dos mais importantes do teatro brasileiro.

No Festival de Curitiba, o espetáculo foi apresentado nos dias 28 e 29 de março,  no Teatro José Maria Santos, dentro da Mostra Lúcia Camargo.

Diversas formas de narrativa, discurso, comunicação e percepção se entrelaçam não apenas no tema escolhido pelo grupo, mas também em uma prática cênica relevante, que evidencia como as relações sociais influenciam a formação da identidade própria e do outro — sejam esses “outros” totalmente distintos, semelhantes ou parcialmente parecidos.

Explorar as possibilidades do amor, da convivência e da constante transformação pela qual passamos, especialmente quando nos propomos a construir uma narrativa coletiva, transforma o espetáculo em um espaço de instabilidade criativa. Isso se dá, principalmente, pela necessidade de compreender e aceitar que muitos elementos da história escaparão à compreensão total do público. Assim, estabelece-se um paralelo expressivo com as formas de não comunicação e exclusão, conduzindo os espectadores à perspectiva de quem utiliza a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio de expressão, mas vive em uma sociedade estruturada por outra linguagem predominante.

Vale destacar que o espetáculo não recua diante de suas questões centrais; ao contrário, reafirma com força seu caminho de reconhecimento, empatia e troca.

Foto: Renato Mangolin

Com uma proposta cênica envolvente, a obra consegue prender nossa atenção, sem jamais perder o impulso inicial, sustentando continuamente uma investigação sensível e um jogo refinado entre compreensões implícitas e narrativas discretamente indicadas.

O elenco, habilidoso e carismático, também se destaca ao tornar fluida a estrutura da direção e ao preencher os espaços cênicos com uma dramaturgia pulsante, que traduz intenções por meio de cada detalhe. Assim, a encenação aparenta leveza, mas sustenta internamente um conteúdo profundo e estruturado em convenções sólidas.

Trata-se de uma das mais consistentes e sensíveis investigações do teatro contemporâneo.

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