Júpiter e a Gaivota: Um novo olhar sobre um clássico

Reprodução: Diego Bresani

A peça A Gaivota, de Anton Tchekhov, escrita em 1895, segue sendo um marco no teatro mundial. No entanto, a dramaturga e diretora Ada Luana, da Cia. Setor de Áreas Isoladas, sentiu a necessidade de revisitar essa história sob um olhar “feminino e feminista”. O resultado é Júpiter e a Gaivota – É impossível viver sem o teatro, espetáculo que integra a Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba, com apresentações nos dias 3 e 4 de abril, às 20h30, no Guairinha.

Nesta releitura, Ada Luana expande as vozes femininas da peça, eliminando rivalidades entre as personagens e criando laços de irmandade. O desfecho também foi alterado: “Não se pode dizer que as mulheres terminam felizes, mas pelo menos estão livres”, explica a diretora. O título faz referência ao poder patriarcal, simbolizado por “Júpiter”.

Inspirada tanto na obra quanto na biografia de Tchekhov, Ada reconhece que o autor criou personagens femininas fortes para sua época, mas sua visão ainda estava distante do feminismo contemporâneo. Por isso, a dramaturga incorporou monólogos autorais no início de cada ato, dialogando com escritoras como Virginia Woolf e Hélène Cixous (O Riso da Medusa).

Desafios e Repercussão

A montagem já passou por palcos internacionais, incluindo o Teatro Alexandrinsky, em São Petersburgo – o mesmo onde Tchekhov estreou A Gaivota em 1896, enfrentando vaias tão intensas que pensou em abandonar o teatro. Desta vez, a releitura provocou reações diversas: Ada Luana enfrentou questionamentos incisivos, especialmente sobre sua retratação dos personagens masculinos. “Um jornalista parecia particularmente incomodado com a minha versão do Trigorin. Acho que ele era fã do personagem”, brinca.

Além da recepção crítica, a peça também enfrentou censura. Uma cena de nudez e os figurinos, considerados “carnavalescos”, geraram restrições. Trechos do texto precisaram ser adaptados para evitar referências explícitas aos genitais femininos, devido a leis locais. Apesar dos desafios, Ada encontrou apoio no público feminino: “Após as apresentações, mulheres vinham conversar comigo. E eu também percebia como as mulheres do teatro tentavam burlar as regras da forma que podiam.”

Festival de Curitiba

A Mostra Lucia Camargo é apresentada por Petrobras, Sanepar, CAIXA e Prefeitura de Curitiba, com patrocínio de CNH Capital – New Holland, EBANX, ClearCorrect – Neodent, Viaje Paraná – Governo do Estado do Paraná e Copel – Pura Energia, além do apoio especial da Universidade Positivo.

A 33ª edição do Festival de Curitiba acontece de 24 de março a 6 de abril, reunindo cerca de 350 atrações em mais de 70 espaços da cidade e região. Os ingressos podem ser adquiridos no site www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física do Shopping Mueller.

Serviço:
Júpiter e a Gaivota – É Impossível Viver Sem o Teatro
Mostra Lucia Camargo – Festival de Curitiba

3 e 4 de abril às 20h30

No Guairinha

Gênero: Drama

Classificação: 16 anos

Origem: Brasília – DF

Duração: 210’ (intervalo de 15’)

Cia Setor de Áreas Isoladas – @ciasetordeareasisoladas

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