Crédito: Maringas Maciel
Por Mattias de Sales – Via Cobertura Namoskà
O teatro tem a capacidade de nos colocar diante do que muitas vezes preferimos ignorar. Kraken faz exatamente isso. Sem palavras, sem discursos prontos. Apenas corpos, movimento e imagens que falam por si.
O espetáculo parte de uma questão simples, mas inquietante: o que acontece com os corpos que sustentam essa “máquina” que chamamos de capitalismo? A resposta vem não por palavras, mas pelo desgaste, pela repetição dos movimentos, pela exaustão que se torna visível no palco.
O cenário sugere ascensão e queda. Um andaime ocupa o espaço, representando os diferentes níveis de poder – enquanto alguns sobem, outros permanecem presos na base.
E então surge um cogumelo gigante no meio da cena. Ele pode ser um delírio, uma fuga, uma tentativa de escapar da realidade. Ou, talvez, uma metáfora para o que nos resta quando o corpo e a mente não suportam mais.
O nome do espetáculo não é por acaso. Assim como a criatura mitológica que o inspira, Kraken se espalha, envolve e captura. Mas, diferente da lenda, aqui não há monstros externos. A peça nos lembra que a “máquina” não é uma entidade distante – ela está no corpo, nas relações, no dia a dia.
Não há mocinhos ou vilões, apenas engrenagens de um mecanismo que se alimenta da força de quem nele trabalha.
O esforço do corpo e o cansaço real do elenco constroem a narrativa. Cada movimento importa.
A ausência de palavras amplia a potência do que se vê e se sente. É teatro físico. É sobre aquilo que vivemos, mas nem sempre percebemos.
NAMOSKÀ
Kraken é um dos espetáculos que integram a 2ª edição da NAMOSKÀ, a mostra de peças que reúne os trabalhos mais recentes desenvolvidos pela Cia Ká de Teatro. O evento acontece de 26 a 30 de março, no Espaço Excêntrico Mauro Zanatta.
Serviço
Data: 28 de março
Sessões: 18h30 e 20h30
Local: Espaço Excêntrico Mauro Zanatta
Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia)
Link para ingressos: Sympla – Kraken