Mercado da música independente apesar de positivo tem suas dificuldades
A música independente brasileira sempre teve personalidade, seu nicho de mercado, seus fãs e muita diversidade de estilo. Nas próximas linhas, vamos tentar não só entender esse mercado, mas, também ter uma visão holística do cenário independente brasileiro.
Pra começo de conversa, o termo “Indie” é uma abreviação de “Independente” e essa abreviação começou a ser usada lá nos idos anos de 1980, nos EUA e Inglaterra. O estilo de música assim caracterizado, se refere a artistas, bandas e gravadoras que operam de forma independente, ou seja, sem apoio de grandes selos ou corporações. A música independente, ou indie, é caracterizada pela liberdade criativa, originalidade e experimentação, sempre se desviando dos padrões estéticos comerciais e explorando novas sonoridades e abordagens artísticas. Por conta de toda essa originalidade e experimentação, a música independente sempre foi considerada “underground”.
A música indie é conhecida por sua diversidade sonora, que pode variar desde o folk acústico até o pop eletrônico, passando pelo rock alternativo, o punk rock e o manguebeat. No cenário atual, a música indie continua a prosperar, com uma infinidade de artistas emergentes e estabelecidos explorando novas fronteiras e expandindo os limites do gênero. Festivais de música independente, sites e revistas online, Youtubers, são muitas as plataformas de divulgação da cena independente no Brasil.
Trocando em miúdos, a música indie é muito mais que um gênero musical, muito mais que um “lugar de passagem” – é um movimento cultural e artístico que celebra a diversidade, a criatividade e a independência. É onde os artistas com suas linguagens diversas, desafiam as normas e seguem seus próprios caminhos e instintos criativos.
Pela primeira vez na história uma pesquisa de mercado
A ABMI (Associação Brasileira da Música Independente), é uma entidade que visa mapear a produção de conteúdo criativo musical brasileiro, desde sua fundação em 2002.
Em seu relatório de análise de mercado da música independente do Brasil de 2019/2020, apresenta um cenário promissor de crescimento no setor. De acordo com o resultado apresentado no estudo, artistas independentes emplacaram mais da metade dos hits que atingiram o Top 200 do Spotify Brasil, representando 53,52% do total, de acordo com dados coletados pela empresa Chartmetric (pag. 10).
Outra informação do relatório sobre o cenário da música indie no Brasil, mostra que a maioria dos agentes do mercado independente de música desempenha diversas atividades no setor, principalmente os que operam no formato de Microempreendedor Individual. Esses agentes necessitam diversificar as atividades para gerar receitas e viabilizar seus negócios. Ou seja, ao mesmo tempo que um agente pode ser um artista/músico independente, ele também pode ser: o produtor de shows e eventos, social mídia, produtor de clipe, distribuidor, entre outros.
Nesse relatório podemos ver que o mercado brasileiro da música independente é amplo, heterogêneo e que as necessidades de seus agentes são distintas e complexas. O acesso facilitado às ferramentas de produção, distribuição e consumo digital proporcionou a queda das barreiras a novos entrantes; ficou mais fácil gravar, distribuir e lançar uma música. Antigamente, gravar era restrito e caro. Ademais, a popularização dos estúdios caseiros e dos meios colaborativos de produção remota facilitaram e baratearam os custos de produção.
Um cenário promissor
O setor independente de música encontra-se em franca expansão. Os artistas ganharam mais autonomia por conta do advento e difusão de agentes de mercado, como agregadoras (ou distribuidoras) digitais, que geraram economia de custos de transação aos músicos. Os serviços de streaming não somente se tornaram dominantes em termos de modelo de consumo de música gravada, como também são fornecedores de dados essenciais para a estratégia de marketing dos artistas. Ferramentas de análise de dados de audiência como Spotify For Artists, Amazon Music for Artists e a Deezer Backstage vêm contribuindo de maneira significativa para o desenvolvimento global da indústria da música gravada, gerando otimismo na maioria dos agentes do setor independente.
Os Principais Festivais da cena independente
A música independente, sempre foi vista como ambiência perfeita para a inovação e experimentação. Tudo isso deu a ela uma aura de contracultura e até marginalidade, no sentido de não se prender a nenhuma estética vigente, estando a margem das produções previsíveis do mainstream.
Neste cenário de efervescência produtiva, nada mais natural que a música independente conseguir conquistar espaços e driblar as limitações do mercado através de seus festivais.
Festival CoMa (Br – DF) Um dos mais relevantes do país.
DoSol (Natal – RN) Festival que impulsiona novos nomes do Nordeste e do Brasil.
Se Rasgum (Belém – PA) Valorização da música Amazônica e novas tendências nacional.
Bananada (Goiânia – GO) Mistura música, gastronomia e artes visuais.
Sarara (Belo Horizonte – MG) Um dos eventos mais diversos em termos de gênero e raça. Une pop, Indie e Experimental.
Festival MADA (Natal – RN) Atrações locais e nacionais.
Rec-Beat (Recife – PE) Acontece durante o carnaval, com uma programação alternativa.
Pinhão RockFest (Curitiba – PR) Convergência poderosa entre arte, comunidade e transformação social.
A música independente brasileira, é muito mais que um lugar de passagem, tem personalidade e heterogeneidade.
“A cena independente tem muita força e ainda não percebeu, só a gente ver como os influencers viraram o jogo na mídia digital. O mercado hoje é fluido, volátil, ágil…Ninguém ficará famosos como o Nirvana, mas pode-se viver de música independente sim!!!Sou da geração anos 1990 do Rock curitibano, tínhamos muita banda boa aqui e ninguém, efetivamente, saiu da bolha, por vários motivos que não vem mais ao caso, é passado. Hoje a briga é para ter uma cara forte, uma cena forte, porém mais digital, pois as casas nem enchem mais, o público se diversificou e é consumidor “omnichannel.”” Diz Walter Feldthaus, produtor e curador do Pinhão RockFest e músico da banda Conexão Capivara.
“Tenho banda e corro atrás de outros meios…precisamos fazer tudo que a pandemia nos ensinou…entender o “novo normal”. Em uma ou duas semanas de divulgação digital para organizarmos o Pinhão RockFest, tivemos mais de 70 bandas interessadas…de boa qualidade, com vontade de ter um novo espaço, de fora das velhas panelas…” Acrescenta Walter.
Os diferentes canais de divulgação
Muitos são os canais de veiculação da música indie. Sites como Monkeybuzz e TMDQA (Tenho Mais Discos Que Amigos), embora não sejam específicos sobre o estilo, estão sempre veiculando matérias sobre os novos nomes da cena. Entre outras rádios, destaque para Rádio Vaca Brava Rock, que tem 100% de sua programação voltada ao Rock independente e suas vertentes.
Uma das características da cena independente, é o trabalho quase artesanal e, um pouco isolado, dos divulgadores desse estilo. Sites, revistas online, canais do YouTube, rádios online. São muitos os canais de divulgação e notícias sobre a cena da música indie.
Eles estão bombando
A Heterogenia é uma das marcas registradas da música independente, quando vamos destacar alguns artistas da cena, isso fica bem patente. Vários artistas estão renovando o cenário e outros artistas, há mais tempo na estrada vem trazendo seus novos trabalhos. O importante é que há uma constante renovação dos nomes.
Banda Skarno, punk rock de Goiânia
Banda Zabilly, psychobilly, blues, do Paraná
O Maldito, groove metal, do Paraná
Ana Frango Elétrico, mpb, psicodelia do Rio de Janeiro
Francisco, El Hombre, ritmos latinos, mpb, punk, de São Paulo
Rachel Reis, pop, axé, da Bahia
Desafios e futuro da cena
Eu conversei com a jornalista Ketlen Lomazzi, de Goiás, ela tem um canal no YouTube e Instagram, chamado Broken Rock, onde entrevista vários artistas independentes em seu videocast. Ela diz, “As bandas independentes precisam correr atrás de seu espaço e fazer a coisa acontecer. Precisam fazer um bom network, isso é fundamental…o marketing das bandas precisa melhorar muito.”
No geral, Ketlen nos fornece um bom panorama da música indie goiana, especialmente o punk rock, mas, destaca um problema entre as bandas, “Há uma certa falta de conexão entre as bandas e uma coisa que tem atrapalhado muito é a polarização política entre os artistas.”
O que vem?
Essa matéria não esgota o assunto e nem tem a pretensão de ser a porta-voz desse nicho, apenas faz uma provocação em meio aos desafios naturais, as incertezas e as transformações do mercado da música independente.
Pela primeira vez na história da música independente, os diversos agentes desse estilo têm acesso a uma pesquisa mostrando um cenário promissor, com as plataformas, sites e maior facilidade para gravação e divulgação de seus trabalhos, os vários festivais, rádios e revistas online. Tudo isso mostra uma cena efervescente, tão plural, mas, que ao mesmo tempo carece de profissionais mais capacitados, multimídia e multitarefa.