Reprodução: Iyad Muna
A polícia israelense realizou uma operação no domingo (9) em duas livrarias palestinas na Jerusalém Oriental ocupada, confiscando livros e detendo um dos proprietários e seu sobrinho, conforme relataram familiares.
Imagens captadas por câmeras de segurança, divulgadas pelos donos — quatro irmãos da família Muna —, mostram agentes policiais colocando livros em sacos de lixo em uma das filiais da Livraria Educacional, uma instituição de longa data com unidades que oferecem obras em árabe e inglês.
“Eles derrubaram alguns livros no chão, mas os maiores danos materiais ocorreram na loja de língua árabe”, declarou Iyad Muna, proprietário do estabelecimento, à CNN.
Fotografias compartilhadas por Muna mostram o interior da loja com livros, cadernos e materiais de escrita espalhados pelo chão.
Em comunicado oficial divulgado na segunda-feira, a polícia israelense informou que as detenções ocorreram sob suspeita de “venda de livros que incitam e apoiam o terrorismo”.
“O suspeito que supostamente comercializou os livros foi detido por investigadores da polícia”, afirmou o porta-voz da corporação.
Na segunda-feira, um tribunal israelense determinou a ampliação da detenção de Mahmoud e Ahmed Muna por mais 24 horas, seguidas de cinco dias de prisão domiciliar. Inicialmente, as autoridades haviam solicitado um período maior de detenção, de oito dias, para continuidade das investigações.
O advogado dos detidos, Nasser Odeh, declarou à CNN que ficou “surpreso” com o pedido de extensão da prisão. “Durante o processo, argumentamos que a ordem de busca carecia de bases jurídicas sólidas”, explicou.
Odeh também destacou que os livros em questão abordam a história palestina, direitos humanos e as dificuldades enfrentadas pelo povo palestino e outras comunidades. “Defendemos que esses livros não representam ameaça ou risco, nem sustentam as alegações feitas contra os detidos”, acrescentou.
Antes da audiência, representantes de missões diplomáticas da União Europeia, diversos países do bloco, Reino Unido e Brasil estiveram presentes no tribunal, segundo um jornalista da CNN que acompanhava o caso.
De acordo com a polícia israelense, foram encontrados “livros contendo material incitante com temas nacionalistas palestinos” nas livrarias.
Entre os itens apreendidos estava um livro de colorir infantil intitulado “Do Rio ao Mar”, frase considerada politicamente sensível em Israel. Enquanto alguns palestinos a utilizam para defender a criação de um Estado entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo, muitos judeus interpretam a expressão como um apelo à destruição de Israel.
Tradição e relevância cultural
Fundada em 1984 na movimentada rua Salah el Dein, a Livraria Educacional cresceu ao longo dos anos, tornando-se um dos principais centros culturais de Jerusalém Oriental. A unidade original comercializa livros em árabe, enquanto a filial voltada para o público de língua inglesa foi inaugurada posteriormente. O espaço recebe visitantes palestinos, israelenses e estrangeiros.
Uma terceira unidade, situada dentro do American Colony Hotel, é frequentada por diplomatas, jornalistas e personalidades internacionais hospedadas no hotel histórico.
A livraria foi criada por Ahmad Muna, residente de Jerusalém que lecionava no campo de refugiados de Shu’fat, nos arredores da cidade.
Segundo seu filho, Mahmoud — que atualmente administra a livraria e foi detido no domingo —, Ahmad dedicava suas manhãs ao ensino e, no restante do dia, operava o estabelecimento.
O catálogo da livraria inclui obras sobre história palestina, o conflito árabe-israelense e Jerusalém, além de ficção contemporânea palestina, livros de arte, culinária local, reimpressões de mapas históricos e gravuras artísticas.
O grupo “The Time Has Come”, que defende a paz entre judeus e palestinos, destacou a importância da livraria para o futuro da cidade.
“A prisão e o confisco não apenas violam o direito à liberdade de expressão e informação, mas também colocam em risco o futuro compartilhado de Jerusalém”, alertou a organização.
A relatora especial da ONU para os territórios palestinos, Francesca Albanese, expressou indignação com a ação policial, classificando a livraria como “um farol intelectual e uma joia familiar que resiste ao apagamento palestino sob o apartheid”.
(Com informações e imagem via CNN Brasil)