Pinguim: Um derivado de excelência

Reprodução: Max (DC/ Warner Bros)

Em 2022, o diretor Matt Reeves trouxe ao mundo uma nova versão do Cavaleiro das Trevas com The Batman. Com fortes inspirações em longas de investigação policial, a nova versão do herói foi um grande sucesso, ao trazer uma atmosfera sombria e suja de mistério para Gotham e explorar de forma profunda a psique de Batman e demais personagens.

Dois anos após seu lançamento, chega o próximo capítulo desta saga de crimes, uma série derivada focada no Pinguim. Saber que a série seria produzida por Matt Reeves e pela HBO, já era o bastante para me convencer que seria uma produção competente. No entanto, a cada nova semana com o lançamento dos episódios, Pinguim constantemente me surpreendeu com sua altíssima qualidade, em uma série que é digna de estar entre as melhores de 2024.

Passando-se algumas semanas após os eventos de The Batman, Gotham está um verdadeiro caos. Não só a cidade está se recuperando das enchentes causadas pelo Charada, como o submundo do crime está lutando pelo vácuo de poder deixado por Carmine Falcone. Observando a oportunidade de ascender, Oswald Cobb/Pinguim arquiteta um complexo plano para que possa se tornar o novo chefão do crime de Gotham.

Por se tratar de uma série de 8 episódios, a história tem muito mais tempo para explorar e desenvolver o personagem do Pinguim. Agora como protagonista, exploramos a fundo a psique de Oz, um homem astuto, manipulador e carismático vivido por Colin Farrell. O ator dá um show em sua atuação, mostrando de formas sutis as nuances da personalidade do Pinguim e transacionando muito bem entre os lados manipulador e sincero do personagem.

Este é um mérito de roteiro e atuação que se estende para todos os personagens da série: todos são tridimensionais e complexos. Em nenhum momento parece que estamos assistindo personagens em cena, mas sim pessoas de verdade, com suas qualidades, defeitos, traumas e desejos, o que deixa a série muito mais cativante e interessante de se assistir.

Outro aspecto que o roteiro da série trabalha muito bem é a construção de tensão e incerteza. Fazia tempo que não via uma série onde temi tanto pelo destino dos personagens, que parece que poderiam morrer a qualquer instante. Quanto à incerteza, nunca sabemos ao certo as reais intenções dos personagens, algo que fica bem claro na relação de Oz com Victor, já que ficamos em dúvida se o Pinguim está apenas manipulando o jovem rapaz ou genuinamente se preocupando com ele.

Reprodução: Max (DC/ Warner Bros)

E por falar nele, Vic é um garoto em situação de vulnerabilidade social que é recrutado de forma inesperada ao cargo de capanga do Pinguim. Com o passar dos episódios, conhecemos mais sobre sua história, sua família e a evolução de sua relação com Oz. Rhenzy Feliz, intérprete de Vic, traz bastante profundidade e humanidade para o personagem, o que gera um contraste e dinâmica interessantes com o Pinguim.

Entretanto, eu não poderia falar de atuação sem mencionar a personagem que rouba completamente a cena, Sofia Falcone. Interpretada de forma brilhante pela atriz Cristin Milioti, Sofia é filha da maior família criminosa de Gotham e uma mulher profundamente atormentada devido aos anos de internamento no Asilo Arkham. A construção do passado de Sofia, a relação com Oz e o restante da família Falcone e seus traumas no Arkham, foram alguns dos pontos mais fortes da série. O episódio 4, focado em contar a história da personagem, é de longe o melhor e um dos mais chocantes de todo o seriado.

Um ponto importante de ressaltar, é que a série segue num crescente constante, tanto de tensão, quanto de qualidade. Pinguim é uma daquelas raras séries com 100% de aproveitamento, onde todos os episódios são muito bons e movimentam a trama de forma satisfatória. Mesmo que seja uma série com um tom mais lento, em momento algum achei a série chata ou maçante de assistir. Muito pelo contrário, a cada episódio que assistia, não via a hora de lançarem o próximo na MAX.

Reprodução: Max (DC/ Warner Bros)

Indo para outros aspectos técnicos, o design de produção e fotografia da série seguem na mesma linha de The Batman, mostrando uma metrópole decadente, pobre e suja. Um ponto muito interessante que auxilia na narrativa visual da série é o grande contraste gerado entre as cenas dos personagens vagando pelas ruas e becos de Gotham e as luxuosas mansões dos Falcone no subúrbio, o que estabelece bem a diferença social e de poder entre a elite criminosa e a restante da população de Gotham, em uma cidade que se tornou uma verdadeira terra de ninguém após as enchentes.

Enquanto derivado de um filme, a série consegue trabalhar e expandir ainda mais o mundo que nos foi apresentado no longa do Homem Morcego, aprofundado personagens que já conhecíamos com o próprio Pinguim e Carmine Falcone e introduzindo novos integrantes ao elenco, deixando a Gotham de Matt Reeves muito mais viva e abrindo possibilidades para novas histórias. Fico realmente empolgado com o que o diretor planeja com The Batman: Parte II e futuros derivados deste universo.

Talvez aquele que seja o único “defeito” de Pinguim é a completa omissão do próprio Batman. Veja bem, eu entendo que o herói não é o foco da série e acho muito positivo que um de seus mais icônicos vilões tenha a chance de brilhar nas telas. Também gosto do fato dele não aparecer e simplesmente resolver o conflito da guerra de gangues. Entretanto, o que acho bizarro é o fato do vigilante sequer ser mencionado em conversas, seja dos criminosos ou da população de Gotham.

O que torna ainda estranho é o fato do Batman ser uma figura conhecida do público, já que ele estava ajudando militares e bombeiros a salvar as pessoas das enchentes ao final do filme. Acho um tanto difícil de acreditar que ninguém ao menos falaria no vigilante vestido de morcego. Um comentário como “Rápido, vamos levar essas drogas antes que os policiais ou o Morcego apareçam!” já resolveria a questão para mim.

Reprodução: Max (DC/ Warner Bros)

Mas se este é o único “problema” com a série, isso só mostra a real qualidade da obra. Pinguim é mais um grande acerto da HBO e de Matt Reeves. Uma produção com excelentes personagens, atuações, roteiro e produção que merece ser assistida, seja você fã do Batman ou fã de séries dramáticas e de máfia, pois Pinguim é facilmente uma das melhores séries lançadas em 2024 e um verdadeiro exemplo de como um derivado de excelência deve ser.

⭐⭐⭐⭐⭐

 

Assista ao trailer da série:

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