‘O Brutalista’: A grandiosidade e os desafios de um épico contemporâneo

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Com 10 indicações ao Oscar 2025, O Brutalista chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20) como um dos títulos mais comentados da temporada. Mas, para além do favoritismo nas premiações, o longa de Brady Corbet provoca discussões sobre o tempo – tanto em sua narrativa, que se desenrola ao longo de 35 anos, quanto na experiência do espectador, desafiado por uma duração de 3 horas e 35 minutos.

Liderado por uma atuação visceral de Adrien Brody, que desponta como forte candidato ao prêmio de Melhor Ator, o filme combina direção precisa, fotografia marcante e uma trilha sonora poderosa para contar a trajetória de um arquiteto húngaro que, após sobreviver ao Holocausto, tenta reconstruir sua vida nos Estados Unidos. Entre barreiras culturais, relações tóxicas e os desafios de um artista frente ao poder dos mecenas, O Brutalista ecoa dilemas atemporais sobre a dependência entre criadores e investidores.

Longo, mas necessário?

Em um momento em que a atenção do público parece cada vez mais fragmentada, apostar em um épico de longa duração pode parecer um risco – e Corbet sabe disso. No entanto, o cineasta, que passou sete anos desenvolvendo o projeto, não se intimidou pelas expectativas. “Essa história se passa em décadas, tem muitos personagens. Ela leva o tempo que precisa. Acho estranho questionar o tamanho de um filme da mesma forma que ninguém questiona o tamanho de uma pintura”, comentou em entrevista.

Seu argumento ressoa ainda mais em uma era dominada por maratonas de séries, onde espectadores facilmente dedicam horas a uma única história. A reflexão que O Brutalista propõe, portanto, vai além da tela: estamos dispostos a dar ao cinema o mesmo tempo que damos a outras formas de entretenimento?

Um feito cinematográfico com orçamento enxuto

Mesmo com um orçamento relativamente modesto para os padrões hollywoodianos – US$ 10 milhões –, O Brutalista conquistou um espaço de destaque na temporada de premiações. O filme já acumula vitórias importantes, incluindo os Globos de Ouro de Melhor Filme de Drama, Direção e Ator, e segue como forte concorrente no Oscar em categorias como Trilha Sonora (Daniel Blumberg) e Fotografia (Lol Crawley).

O sucesso, no entanto, não veio sem sacrifícios. Corbet, que começou sua carreira como ator e hoje se firma como um dos diretores mais audaciosos de sua geração, afirma não ter recebido um centavo pelo trabalho – uma situação que reflete a própria temática do filme. “A dinâmica entre um arquiteto e seu cliente não é tão diferente da relação entre um cineasta e seus financiadores. Cada lado tem o que o outro precisa, e esse equilíbrio de poder nem sempre é justo”, explicou.

Uma aposta que vale a pena?

Faltando menos de duas semanas para o Oscar, O Brutalista já não é o favorito ao prêmio principal – posição que agora pertence a Anora. Ainda assim, o filme segue forte na disputa e se firma como um marco para seu diretor. Em um meio onde a duração de um filme pode ser vista como um empecilho, Corbet aposta na audácia como diferencial. “No trabalho, eu corro em direção ao conflito. Se não há algo pelo qual lutar, então você não está fazendo nada de verdade”, reflete.

No final, a pergunta que fica para o público é: estamos prontos para abraçar um cinema que desafia não só nossas emoções, mas também nossa paciência? O Brutalista convida a essa experiência – e para aqueles dispostos a embarcar, a recompensa pode ser grande.

*Texto desenvolvido a partir da entrevista exclusiva de Cobert ao G1

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