Oficina ofertada pela Cia Ká de Teatro, para os amantes da arte do terror, baseado nas técnicas de Butoh e Artaud.
Esse relato será puramente pessoal, de uma cinéfila de filmes de terror, podcasts de true crime e pesquisadora do horror na cena.
A oficina contou com dois ministrantes e abordou uma questão muito importante: fazendo terror, você é quem causa, ou quem sente medo?
Eu, com certeza causei medo.
Iniciamos a parte prática da oficina caminhando pelo espaço, variando velocidades e logo depois partimos para uma caminhada com os 4 elementos, como se nossos corpos fossem formados por eles. Como seria sua movimentação, seu caminhar se você fosse feito de ar? E de terra? Qual a diferença de densidade? De ritmo? Tudo isso foi explorado de forma física e individual, nada era certo ou errado, mas sim a sua própria percepção sobre o tema proposto. Alguns dos participantes foram ao chão, enquanto outros pareciam tentar flutuar.
Em seguida, deitamos no chão de forma confortável, enquanto os ministrantes nos guiavam na experiência. Devíamos deixar nosso corpo relaxar, e então, sentir como cada membro tocava o chão, e com essa consciência, nos tornaríamos criaturas. Criaturas não identificadas, sem rosto, sem nome, sem pernas ou braços, sem nada. Apenas uma massa. E essa massa foi ganhando forma, adquirindo consciência, aprendendo a emitir sons conforme respirava. Como essas criaturas poderiam se movimentar?
Tivemos alguns minutos para que essa experiência fosse se realizando, e então os ministrantes formaram uma espécie de corredor polonês com os participantes, para que todas as criaturas pudessem interagir. Em um primeiro momento, apenas olhando uns para os outros, com seus corpos criados e sem perder o contato visual com quem estivesse passando pelo meio. Com o tempo, comecei a enfrentar os demais participantes, gritando, gemendo, batendo com a cabeça e com os ombros. Logo eu, pequena, magra, com um metro e meio, enfrentando pessoas muito maiores que eu, com corpos criados a partir dos mesmos estímulos. Em dado momento, os olhares se cruzavam e nem parecíamos os artistas que estavam participando de uma oficina, e sim criaturas recém-nascidas em uma distopia.
Foi muito interessante notar as nuances de cada um. Alguns fugiram, alguns choraram e outros me enfrentaram. O teatro nos dá essa liberdade de criar, e se tratando de terror, de medo, pude explorar algo que sempre me chamou atenção.
FICHA TÉCNICA
Ministrante: Bruno Sanctus e Kelvin Millarch / Produção: CIA KÀ DE TEATRO