13º Olhar de Cinema: As Noites Ainda Cheiram a Pólvora

É noite em Moçambique. A noite, uma representação das sombras em torno da guerra, todos os traumas causados e ainda existentes nos sobreviventes.
Inadelso Cossa, membro da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas desde 2020, fundador da 16mmFILMES, produtora especializada em documentários e longas-metragens, explora temas como traumas, vozes silenciadas e memórias em Moçambique.
O longa-metragem em formato de documentário, mostra a vida de uma vila de sobreviventes da Guerra Civil em Moçambique. Entre arquivos, encenações e cicatrizes da guerra, o diretor visita sua avó, revirando o passado. Ao mesmo tempo em que busca respostas para seus traumas, procura desafiar e experimentar formas que permitam trazer respostas em nível pessoal e dramático ao próprio cinema. Um filme que custou muito em termos pessoais ao diretor.

Triste, denso, intenso e longo, o filme mostra a vida das pessoas que vivenciaram todos os tipos de horrores na guerra, seja um soldado ou alguém que precisou se esconder com sua família para não ser executado. O longa retrata uma realidade tão dura, tão sensível, mostrando memórias e famílias praticamente 100% a noite, pois as poucas cenas durante o dia são retratadas como lembranças ou sonhos.
A avó que perdeu o marido ao pisar em uma mina, ou que precisou se esconder dos rebeldes que invadiram sua vila e sua casa, para não ser torturada, executada.

O soldado com traumas que ainda aparenta o horror que viveu quando ouve sons na mata e qualquer coisa lhe parece com uma baioneta.
A tristeza retratada em cada palavra causa ainda mais repulsa à qualquer tipo de guerra, mas também traz uma visão de sensibilidade, pois muitos dos soldados apenas foram convocados, e um dos principais entrevistados diz nem saber os motivos pelos quais estava lutando, apenas foi levado para batalhas e precisou fazer o necessário para sobreviver, vendo seus aliados morrendo, cavando covas rasas usando sua baioneta pois não carregavam pás e não podiam enterrar seus mortos com dignidade.
Perturbador e doloroso, o longa também mostra conversas entre os cinegrafistas, que eram pequenos na época, mas não foram poupados dos horrores, como ver cabeças decapitadas e penduradas à beira da estrada.
O longa passa com maestria o sentimento de tristeza, mas é arrastado e poderia ser menor em questão de tempo.

 

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