Lançado nesta quarta-feira, 29, Biônicos é a mais nova produção a estrear no catálogo da Netflix. Recordo de ter ficado bastante impressionado com seu trailer, com um valor de produção digno de um filme hollywoodiano e por se tratar de um filme nacional sobre a temática cyberpunk, gênero de ficção científica na qual sou bem fã. Em suma, fiquei empolgado para assistir ao filme, o que só aumenta ainda mais a decepção que senti quando os créditos subiram.
Ambientado em 2035, a trama gira em torno de Maria (Jéssica Córes), uma atleta de salto em distância frustrada que tem sua carreira interrompida com a ascensão de atletas utilizando próteses biônicas, com sua irmã Gabi (Gabz) sendo uma das expoentes dos atletas biônicos. Mas ao conhecer o misterioso Heitor (Bruno Gagliasso), a vida de Maria e sua família terá uma inesperada e sombria reviravolta.
Ao começar pelos positivos, o filme de Afonso Poyart tem um bom valor de produção, apresentando e ambientando bem o espectador nesta versão futurista não muito distante de uma metrópole brasileira, seja nos letreiros neon que tomam os prédios, os celulares e demais dispositivos do futuro além da próprias próteses biônicas que ficaram super feitas. É nítido que houve bastante trabalho e empenho por trás da equipe de produção para dar vida a esse cenário futurista.
O filme tem uma premissa interessante ao explorar o dilema das limitações humana comparada a máquina e como isso afeta o mundo esportivo. Apesar da ideia legal, é nesse momento que o filme começa a me perder, já que vários conceitos são apenas pincelados e nunca propriamente explorados. As próteses, por exemplo, é dito no começo do filme que atletas normais estariam se sujeitando a terem membros removidos de seus corpos para poderem substituí-los por próteses, afim de obterem um desempenho superior, o que seria uma analogia bem interessante com o doping em competições. Entretanto, o assunto é rapidamente esquecido, o que é uma pena.

Outro ponto que acaba não funcionando para mim também, é a rixa entre Maria e Gabi. Além do antagonismo e competição das irmãs beirar o caricato, a raiva de Maria por sua irmã estar quebrando recordes no esporte é um tanto injustificável, já que Gabi tem de fato uma perna amputada. O que seria muito diferente se Gabi tivesse voluntariamente amputado a perna para receber a próteses e superar a irmã.
E por falar nos personagens, a forma como os personagens tomam as decisões soam extremamente forçadas. Após conhecer Heitor, o personagem de Gagliasso promete ajudar a protagonista a conseguir próteses para ela, em troca da ajuda de Maria em seus esquemas criminosos. O fato de tanto ela, quanto seu irmão mais novo Gus (Christian Malheiros) recorrerem ao crime para atingirem seus objetivos e integrarem uma organização criminosa não faz o menor sentido, ainda mais que é apresentado na trama que a família possui uma boa condição financeira e estabilidade. E sem dar spoilers do filme, mas a maneira como os três irmãos levam numa boa todos os eventos e consequências que ocorrem durante o filme, consequências que viram suas vidas completamente de cabeça para baixo, beirando o ridículo e o brega

Esta foi uma palavra que pensei em diversos momentos do filme: brega. Seja em uma cena de sexo entre Maria e Heitor um tanto vergonhosa de assistir, ou em cenas de ação lotadas de slow motion e cortes desnecessários que deixariam Zack Snyder impressionado. O embate final, cena que deveria ser o clímax e ápice de empolgação, é resolvido de forma tão rápida, em uma luta tão mal gravada e com um remix punk-rock de “Vem Quente Que Eu Estou Fervendo”, que serviu para encerrar o filme na forma mais apressada, desinteressante e brega possível.
Infelizmente, Biônicos se tornará mais um filme esquecível em meio ao mar de filmes originais esquecíveis da Netflix. É um longa que começa muito bem, mas vai se perdendo pelo caminho pela falta de explorações de ideias, personagens marcantes e conflitos e intrigas artificiais e forçadas. Mesmo que o filme não seja lá grande coisa, deve-se reconhecer que ele possui um bom nível de produção e boas ideias que só não foram tão bem lapidadas.
⭐⭐