Foto: UFO Distribution
Sendo o grande representante da Letônia nesta temporada do Oscar 2025, Flow é uma animação independente dirigida por Gints Zilbalodis que vem ganhando grande repercussão em festivais de cinema e outras premiações importantes. O longa foi vencedor da estatueta de Melhor Animação no Globo de Ouro 2025 e concorre ao Oscar nas categorias de Melhor Animação e Melhor Filme Internacional. Flow chega ao Brasil nesta semana, e o Folhetim Cultural já assistiu ao filme, uma belíssima animação cheia de vida.
Em Flow, acompanhamos a história de um solitário gatinho preto que vive na natureza. Quando uma enchente devasta a floresta, o felino encontra refúgio em um barco com outros animais, onde todos devem aprender a deixar suas diferenças de lado e trabalhar juntos para sobreviver.
Logo de cara, o que chama bastante a atenção em Flow é a qualidade empregada na animação, que faz um ótimo trabalho de cores e luz, rendendo um verdadeiro deleite visual. O filme é recheado de sequências muito bonitas e difíceis de tirar os olhos da tela. O que torna isso ainda mais impressionante é o fato de que Flow foi criado usando um programa chamado Blender, um software gratuito de modelagem 3D.
O nível técnico que a equipe de produção conseguiu alcançar neste longa, utilizando ferramentas consideravelmente mais simples e “ultrapassadas” quando comparadas aos sofisticados softwares de estúdios como Pixar ou DreamWorks, é de se tirar o chapéu.
A animação também é muito competente em representar os animais do barco. Flow é uma história contada sem qualquer tipo de diálogo. As únicas “vozes” que escutamos são os grunhidos, miados e latidos dos animais; sendo assim, o longa depende muito do uso de linguagem corporal e olhares para estabelecer as interações entre os personagens, algo que faz muito bem. O filme é recheado de momentos engraçados do gatinho aprendendo a conviver e cooperar com os demais animais da tripulação, rendendo sequências muito divertidas e fofas.

Se você gosta de animais, com certeza irá amar este filme. Assistindo Flow, foi impossível não pensar nas minhas próprias gatas, Tempestade e Ventania (que, curiosamente, também são pretas e com olhos dourados). Todos os trejeitos, movimentos e humor do gatinho são extremamente verossímeis com o comportamento de um gato.
A direção do filme também é muito boa, utilizando ângulos dinâmicos de câmera em sequências com mais tensão e adrenalina, ou em momentos mais contemplativos deste mundo inundado. A trilha sonora, com melodias muito bonitas, complementa bem o tom de contemplação do longa.
Talvez o ponto que mais possa incomodar algumas pessoas em relação a este filme seja a sua história. Flow é bastante vago sobre sua ambientação e o mundo em que se passa. Conseguimos entender que estamos diante de remanescentes de uma civilização humana, mas o que cada coisa significa, o que pode ter acontecido com os humanos e como o mundo chegou a este ponto são aspectos que o filme deixa propositalmente em aberto para o espectador refletir e tirar suas próprias conclusões.
De forma alguma isso é um problema; é simplesmente uma escolha narrativa por parte da equipe. Entretanto, acho importante pontuar isso antes de assistir. Assim como há pessoas que vão gostar deste aspecto vago e aberto a interpretações, também sei que muitos preferem algo mais “fechado” e com uma resposta definitiva.
No geral, Flow é uma belíssima animação e uma conquista técnica para este grupo de cineastas independentes da Letônia, que merece ser assistida. A repercussão do filme foi tamanha que o próprio gatinho ganhou uma estátua na capital do país. É muito legal poder ver um filme fora do grande circuito de Hollywood, estrangeiro e de animação, ainda por cima, recebendo tanto prestígio e visibilidade.
⭐⭐⭐⭐
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