Tron: Ares: Sem estilo ou substância

Reprodução Disney

“Estilo sem substância.” Se eu tivesse que sintetizar a franquia Tron em uma frase, seria esta. Seja o filme original de 1982 ou sua sequência, Tron: O Legado (2010), ambos conseguem estabelecer uma estética visual e um universo muito singulares e interessantes, mas que, no entanto, não se sustentam devido à falta de um enredo mais coeso e de personagens carismáticos. Talvez este seja um dos motivos pelos quais a saga nunca tenha alcançado o primeiro escalão da ficção científica. Fora seus elementos estéticos, Tron é uma obra rasa.

Faço todo esse contexto prévio porque acredito que Tron: Ares, o mais novo filme da saga, tenha quebrado essa tradição, infelizmente, para pior. O longa entrega uma aventura sem qualquer tipo de substância ou estilo, esvaziando justamente o que dava identidade aos filmes anteriores.

Em Tron: Ares, acompanhamos a jornada de Ares (Jared Leto), um programa de segurança da Grade que é enviado do mundo digital para o mundo real com o objetivo de cumprir uma perigosa missão e encontrar seu propósito.

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Talvez meu maior problema com o filme seja justamente sua premissa, que, a meu ver, autossabota o projeto. O que confere identidade à franquia Tron é o mundo e a estética digital da Grade; porém, ao longo das duas horas de filme, temos apenas cerca de 10 a 15 minutos ambientados nesse universo cibernético. Todo o restante se passa no mundo real. Se não houvesse elementos clássicos, como os discos ou as motos de luz, a sensação ao assistir seria a de estar vendo um filme genérico de super-heróis — e não um filme de Tron.

Além da premissa problemática, outro receio que eu tinha, a partir dos trailers, era justamente o protagonista Jared Leto, ator pelo qual não nutro qualquer apreço, especialmente após as várias produções controversas em que se envolveu desde o polêmico Coringa de Esquadrão Suicida (2016). Para minha surpresa, o ator não está mal no filme. Apesar de parecer atuar no “piloto automático”, Leto não compromete a produção, e sua performance é condizente com o papel.

O mesmo não pode ser dito dos demais personagens do longa: todos unidimensionais e nada memoráveis. É uma pena, já que o elenco conta com bons nomes, prejudicados, no entanto, por um roteiro raso. Ainda sobre o texto, o filme tenta levantar questionamentos sobre inteligências artificiais, mas o faz de maneira banal, requentando conceitos já explorados — e muito melhor — por diversas outras obras de ficção científica.

Por mais que Tron: O Legado não tenha uma história ou personagens particularmente interessantes, o que o torna divertido são as sequências de ação com as lutas de disco e os embates com as motos de luz, filmadas com energia por Joseph Kosinski (Top Gun: Maverick, F1). Já Joachim Rønning, diretor de Ares, não consegue articular sequências empolgantes ou que valorizem de fato os efeitos especiais que, embora bem acabados e detalhados, não têm o mesmo impacto e empolgação de O Legado.

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Nem mesmo a trilha sonora composta pelo Nine Inch Nails consegue empolgar. Trata-se de um grupo musicalmente competente e talentoso, mas as faixas soam como uma versão diluída da excelente trilha composta pelo Daft Punk para Tron: O Legado.

Para não dizer que nada se salva, Ares conta com uma sequência que presta homenagem ao clássico filme de 1982 — momento que certamente agradará aos fãs mais saudosistas. Entretanto, esse segmento isolado não sustenta um filme de duas horas que, francamente, me fez olhar várias vezes para o relógio de tão desinteressante que se tornava a experiência.

E talvez essa seja a palavra que melhor define o filme: desinteressante. Tron: Ares não é exatamente um filme ruim, mas é tão insípido que o sentimento ao sair da sala de cinema é o da indiferença. Tron nunca foi uma saga popular entre a crítica nem um sucesso de bilheteria; portanto, trazê-la de volta após 15 anos de hiato criava a expectativa de que alguém na Disney tivesse uma ideia realmente inspirada para revitalizá-la. No entanto, além de repetir os mesmos pecados de seus antecessores, Ares remove justamente tudo o que tornava Tron minimamente memorável.

Depois de Ares, não me surpreenderia se a franquia entrasse em mais um longo hiato.

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