“Fica aqui minha torcida para que a narrativa comece a ganhar ritmo nas próximas semanas e que os episódios não se tornem uma ‘encheção de linguiça’.” Foi exatamente com esta frase que terminei a crítica do primeiro episódio da segunda temporada de The Last of Us.
E, se você leu minha crítica do episódio anterior, deve se lembrar de que mencionei o fato de a trama finalmente estar caminhando e que meus temores quanto à “encheção de linguiça” haviam sido apaziguados. Entretanto, ao assistir ao terceiro episódio, O Caminho, tenho que dizer que essa inquietação em relação à série voltou a crescer.
Após os eventos de Através do Vale, era de se esperar um “episódio de respiro”, voltado justamente para mostrar como os personagens estão reagindo à morte de Joel e às repercussões do ataque a Jackson pela horda de infectados.
Quando O Caminho realmente foca nesses aspectos — como na cena de abertura, com Tommy vendo o corpo de seu irmão e pedindo que ele desse um beijo em sua sobrinha por ele; quando Ellie está em casa olhando o casaco e o revólver de Joel; ou ainda quando a garota presta sua homenagem final no túmulo do personagem — temos momentos poderosos e com impacto emocional, nos quais os atores realmente podem demonstrar seu talento.
Entretanto, o clima de luto que o episódio se propõe a criar é quebrado quando começa a mostrar a reconstrução de Jackson. Há um salto temporal de três meses entre a abertura e o restante do episódio, e a forma como a direção retrata os cidadãos de Jackson — despreocupados, sorrindo enquanto reconstroem o muro de proteção — somada ao uso de iluminação e cores mais quentes, acaba gerando a sensação de falta de consequências do ataque, como se o evento fosse algo que simplesmente aconteceu e passou. Vida que segue.
Acredito que, se tivesse sido utilizada uma paleta de cores mais soturna e mostrado Jackson ainda abalada após o ataque, reforçaria o tom melancólico do episódio. O pior exemplo dessa desconexão é a cena do jogo de beisebol, em que Tommy aparece conversando com a psicóloga — personagem que, diga-se de passagem, em nada tem contribuído para a trama.
Além de me fazer questionar o real tamanho de Jackson, que deixa de parecer um assentamento em um cenário apocalíptico e mais se assemelha a um condomínio de luxo, essa leveza só deixa escancarada a ausência de peso narrativo, já que todas as pessoas estão levando suas vidas normalmente. Isso, ao meu ver, acaba gerando inconsistências na narrativa e nos desconectando da obra.
Para não dizer que tudo relacionado a Jackson foi negativo, gostei bastante das cenas com Seth. Como comentei nas críticas anteriores, acho muito interessante como a série consegue expandir personagens secundários dos jogos, dando a Seth um pequeno arco de redenção. Ele é um dos poucos que se mostra favorável ao desejo de Ellie de caçar Abby, chegando inclusive a ajudá-la a fugir da cidade.
Também gostei da atuação de Bella Ramsey neste episódio. Num primeiro momento, suas atitudes piadistas ao interagir com os demais personagens me incomodaram um pouco, mas entendi que isso é apenas uma forma de a personagem mascarar sua tristeza — algo que transparece bem em seus momentos mais íntimos, sendo o tipo de comportamento que uma pessoa de verdade poderia ter.
Os fãs mais puristas do jogo podem se incomodar com a forma como Tommy foi abordado neste episódio, já que, na trama do game, ele é o primeiro a deixar Jackson para ir atrás de Abby. Particularmente, isso não me incomoda, pois as decisões que este Tommy toma são bastante coerentes com a forma como o personagem vem sendo construído ao longo da série. Sem contar que é bem provável que ele ainda deixe Jackson, possivelmente para proteger Ellie.
O Caminho conclui com Ellie e Dina finalmente chegando à cidade de Seattle e, mais uma vez, preciso destacar o excelente trabalho de design de produção em trazer à vida uma metrópole dilapidada, consumida pela natureza. Porém, a chegada a Seattle pode sinalizar um possível problema para o restante da temporada.
Para quem não jogou The Last of Us: Parte II (2020), toda a sequência inicial — com a apresentação de Jackson e a morte de Joel — constitui o prólogo da história, com cerca de duas horas de duração. O jogo em si, quando o jogador passa a explorar cenários e enfrentar inimigos, começa efetivamente quando Ellie e Dina chegam à cidade em busca de Abby. A série, por sua vez, concentrou quase metade de sua temporada — três dos sete episódios — apenas nessas horas iniciais do jogo, com momentos claros de “encheção de linguiça”, especialmente nos episódios 1 e 3, que poderiam ter sido condensados para tornar a experiência menos arrastada.
Vale lembrar que a terceira temporada já foi confirmada e continuará a adaptar a história do segundo jogo. Pelo ritmo atual, é bem provável que a segunda temporada se encerre aproximadamente na metade da campanha, com a temporada seguinte adaptando a segunda metade. Comento isso como forma de ajustar as expectativas de quem está assistindo à série e conhecendo a história pela primeira vez, para que não se decepcione com o fato de que, muito provavelmente, a trama não será concluída nesta temporada.
No geral, O Caminho é um episódio ruim? Não, definitivamente não. Mas, assim como Dias Futuros, a trama avança muito pouco, o que torna a experiência de assisti-la um tanto cansativa. Apesar de ser um episódio um pouco arrastado e com problemas de inconsistência de tom, ele conta com bons momentos e atuações competentes do elenco. Resta saber se o restante desta temporada finalmente engrenará na jornada de vingança de Ellie.