The Last of Us Temporada 2: Episódio 2 – Agora a série começou de verdade

Se você leu minha crítica sobre o episódio 1 da segunda temporada de The Last of Us, deve se lembrar de quando mencionei que o episódio de estreia do segundo ano da série havia sido bastante morno e que a trama tinha dado pouquíssimos passos adiante. Um dos meus receios, inclusive, era que a série tivesse vários momentos de “encheção de linguiça” para alongar a trama do segundo jogo ao longo de duas temporadas. Ao terminar de assistir Através do Vale, fico feliz em dizer que, não só este segundo episódio apaziguou minhas angústias, como também funciona como um ótimo pontapé para o decorrer da temporada.

Se Dias Futuros serviu como um grande prólogo da temporada, Através do Vale é o verdadeiro capítulo 1 desta narrativa, em que vemos a trama dar seus primeiros grandes passos. Após aparecer de forma bem breve no episódio anterior, neste segundo episódio os espectadores conhecem melhor a história de Abby, interpretada de forma brilhante pela atriz Kaitlyn Dever. Dever transpõe muito bem para a tela os sentimentos de raiva, angústia e luto, tornando a personagem e seu desejo de vingança bastante palpáveis. As interações com os demais integrantes de seu grupo também são ótimas.

Uma mudança considerável em relação ao jogo é que o passado e as motivações de Abby são explorados somente na segunda metade da aventura, enquanto, na série, os eventos são mostrados em uma sequência mais cronológica. É um ponto que pode acabar incomodando fãs mais puristas do jogo, mas não acho que seja necessariamente ruim – é apenas uma abordagem diferente.

Reprodução: Max

Além de recriar boa parte da sequência inicial de The Last of Us: Parte II (2020), Através do Vale também conta com uma excelente sequência inédita, na qual a cidade de Jackson é atacada por uma enorme horda de infectados. Como mencionei na crítica anterior, a construção de Jackson enquanto comunidade havia sido um dos pontos mais interessantes do primeiro episódio. Ver os cidadãos se unindo e elaborando estratégias para combater os infectados foi muito bacana e enriqueceu ainda mais este mundo.

A direção de Mark Mylod brilha especialmente nessas cenas, retratando o conflito como um verdadeiro cerco medieval e transmitindo a escala e a sensação de uma batalha grandiosa – não só pela imensa quantidade de inimigos tentando invadir, mas por mostrar as diferentes frentes do conflito: os esquadrões protegendo as muralhas, as crianças e os idosos barricados nos porões, ou os soldados equipados com lança-chamas, prontos para conter qualquer brecha na defesa.

Gosto de como a equipe da série consegue encontrar formas de inserir novas sequências que fazem sentido com a história e enriquecem a experiência tanto para quem já jogou os games quanto para aqueles que estão conhecendo a história pela primeira vez. Seja a abertura com os cientistas no talk-show do episódio piloto, o romance no episódio 3 ou agora a batalha de Jackson, a série consegue manter a experiência fiel à obra original e, ao mesmo tempo, trazer uma sensação de frescor e novidade, mesmo para os fãs mais ávidos.

Um aspecto bastante criticado na primeira temporada foi a ausência – especialmente na segunda metade – dos infectados, quase como se a produção tivesse medo de assumir que é uma “série de zumbis”. Como mencionado anteriormente, os infectados voltam com força em Através do Vale, e Mylod consegue trazer à série os sentimentos de tensão e terror característicos do jogo.

Se fosse para tecer alguma crítica, diria que, em certos momentos, fica nítido que os atores estão diante de um fundo verde ou que alguns dos infectados da horda – especialmente os ao fundo da cena – são elementos inseridos digitalmente. Contudo, são detalhes que não atrapalham a experiência nem comprometem a imersão. A questão da consciência coletiva dos infectados por Cordyceps, elemento introduzido na série, retorna na sequência do cerco a Jackson, mas ainda acho que é um conceito mal explicado e que, sinceramente, soa um pouco deslocado no roteiro.

(ATENÇÃO!! Os próximos parágrafos contêm SPOILERS do episódio! Leia por sua própria conta e risco!!)

Obviamente, não poderia comentar sobre Através do Vale sem mencionar seu evento mais marcante. Assim como no jogo, Abby mata Joel de forma brutal e inesperada no começo da história. É uma grande quebra de expectativas, já que ninguém espera que o protagonista morra no início da aventura. Além de manter o fator surpresa e o impacto visceral do momento, a série consegue fazer adições que complementam ainda mais a sequência, como o monólogo carregado de ódio e raiva por parte de Abby, ou Ellie se arrastando e abraçando o corpo sem vida de Joel.

Reprodução Max

Por conhecer a história do jogo, sabia que cedo ou tarde esse momento viria, mas não achei que a série teria a mesma coragem do game ao colocar a morte de Joel tão cedo. Minha aposta, inclusive, era de que a cena apareceria entre o episódio 4 ou 5 – então fico feliz de estar errado. Para alguém como minha mãe, que está assistindo pela primeira vez, jamais passaria pela cabeça a possibilidade de o personagem morrer, o que a deixou não só surpresa, mas curiosa para ver o que vai acontecer.

(Fim da seção com spoilers!)

Se você assistiu ao primeiro episódio e se sentiu levemente decepcionado, tenho certeza de que Através do Vale vai te satisfazer muito mais. Com ótimas cenas cheias de tensão, ação e grandes atuações, este segundo episódio verdadeiramente inicia a história desta temporada e serve como o pontapé inicial para a grande jornada emocional que Ellie e os demais personagens irão enfrentar – e mal posso esperar para ver as repercussões nas próximas semanas.

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