O Fantástico (TV Globo) teve acesso a um relatório exclusivo da organização não governamental Stop Hate Brasil que revelou um aumento expressivo de bandas extremistas no Brasil, que utilizam o gênero black metal para disseminar discursos de ódio contra negros, a comunidade LGBTQIAP+ e judeus. Segundo o levantamento, já são 125 bandas identificadas, com maior concentração em São Paulo (45 delas), Paraná e Rio de Janeiro, que juntas já lançaram mais de 650 álbuns.
Boa parte desse material está disponível em plataformas de streaming, como o Spotify, e muitas dessas bandas mantêm parcerias com grupos neonazistas de outros 35 países. Michele Prado, coordenadora do Stop Hate Brasil, destaca a gravidade da situação:
“É um assunto grave, sério, que precisa ser enfrentado com a colaboração de instituições de segurança pública e inteligência. Não pode ser menosprezado, porque a tendência não é melhorar.”
Extremismo Online e Conexões Internacionais
Esses grupos também estão associados a um canal chamado “Terrorgram” no Telegram, que funciona como uma rede de supremacistas brancos para recrutamento de jovens e incentivo a ações violentas. Entre os administradores do canal está o brasileiro Ciro Daniel Amorim Ferreira, já incluído na lista de terroristas do governo dos Estados Unidos.
No Brasil, Ciro possui antecedentes criminais, incluindo furto e cárcere privado, e já foi preso duas vezes. Autoridades americanas afirmam que o Terrorgram é usado para planejar ataques e promover doutrinação. Um exemplo seria o ataque em Nashville, nos EUA, que resultou na morte de uma adolescente e deixou dois feridos.
A Stop Hate Brasil afirma que outros brasileiros também estão envolvidos nessa rede. Michele Prado reforça a necessidade de ações globais:
“Foi muito importante a designação dessa rede como terrorista. Além de Ciro, há outros brasileiros conectados e ainda atuando no país.”
Resposta Nacional e Internacional
A Polícia Federal do Brasil criou uma unidade especializada no combate ao extremismo. O delegado Flávio Rolin destacou que a inclusão de Ciro na lista de terrorismo dos EUA permitirá maior cooperação entre as agências de segurança dos dois países, possibilitando bloqueios financeiros e outras medidas legais. Ele também alerta para o papel dessas organizações no recrutamento de jovens:
“Esses grupos têm aptidão para atrair crianças e adolescentes, que, muitas vezes, não possuem discernimento para resistir ao conteúdo.”
O Black Metal e o Extremismo
Wlisses James, doutor em História Social e pesquisador do heavy metal no Brasil, esclarece que o extremismo violento promovido por bandas neonazistas não representa o black metal como um todo:
“Essas bandas organizam eventos restritos e não são bem-vindas em festivais gerais de black metal, que, no geral, rejeitam essas ideologias.”
A Luta Contra o Ódio
Representantes de vítimas desses grupos também se posicionaram. Jurema Werneck, da Anistia Internacional no Brasil, defende maior ação social:
“Se há espaço para esse tipo de violência, é porque não estamos promovendo dignidade e direitos como deveríamos.”
Camila Marins, jornalista e militante lésbica, cobra políticas públicas mais eficazes:
“O Estado precisa regular as redes sociais, social e economicamente, para enfrentar o ódio.”
Já Rony Vainzof, secretário da Confederação Israelita do Brasil, destaca a conexão entre o virtual e o real:
“A permissividade online se traduz diretamente no terror da vida presencial.”
Respostas de Plataformas Digitais
Após ser questionado pelo Fantástico, o Spotify informou que suas políticas proíbem conteúdos que promovam terrorismo ou extremismo violento. A plataforma revisou materiais e removeu várias músicas que violavam as regras. O Telegram, por sua vez, afirmou que removeu mais de 25 milhões de conteúdos extremistas no final de 2024 e que canais como o Terrorgram são banidos sempre que identificados.
(Com informações do G1 via Fantástico)