“Rebel Moon Parte 2:” O fundo do poço da carreira de Zack Snyder (até agora)

Uma conclusão épica! Sob direção de um visionário diretor, esta parte 2 encerra brilhantemente a jornada iniciada no longa anterior, com uma história densa e profunda, personagens e atuações memoráveis, cenas de tirar o fôlego e um primor de direção ao entregar um dos universos mais ricos e complexos da ficção em um filme que certamente será lembrado, anos à frente, como um dos maiores da ficção científica. O filme a qual estou me referindo neste primeiro parágrafo é Duna: Parte 2, pois Rebel Moon – Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes, a nova superprodução da Netflix, almeja todos os pontos e qualidades citadas acima, e falha miseravelmente em tudo.

Com roteiro, direção, produção e fotografia por Zack Snyder, o longa continua exatamente onde o anterior terminou, com Kora e o grupo de guerreiros retornando para a vila na lua de Veldt, preparando os aldeões para resistirem e lutarem contra a iminente invasão dos soldados do Mundo-Mãe.

De maneira resumida, a Parte 2 repete os mesmos erros da Parte 1, e estão ainda mais acentuados aqui. Ao começar pela história: não havia necessidade alguma de dividir em dois filmes. O segundo filme tem 2 horas de duração, sendo que durante a primeira hora inteira não acontece nada. É uma hora de tela onde os heróis treinam os aldeões a lutarem e prepararam as defesas da vila, que poderia ser resumida em uma montagem de 5 minutos. E considerando que o primeiro filme não passa de uma montagem de recrutamento, típica de filmes de assalto, estendida para 2 horas, era plenamente viável juntar todos os pontos narrativos em um único filme.

O roteiro não colabora nenhum pouco, com personagens muito mal construídos e nada memoráveis, diálogos forçados e expositivos em que os personagens contam suas origens e momentos em que deveriam impactar ou emocionar o espectador de alguma forma saindo totalmente pela culatra pois você não consegue se conectar ou se importar com os personagens. Todos os filmes escritos pelo diretor sofrem desses mesmos problemas, seja Suckerpunch (2009), Army of the Dead (2021) e agora com a franquia Rebel Moon, Snyder é muito fraco como roteirista.

O que incomoda, é que o Snyder não consegue nem entregar o básico com esses filmes. Originalmente, Rebel Moon nasceu como ideia para um possível Star Wars que não foi aprovado pela Disney/Lucasfilm. Star Wars, especialmente Uma Nova Esperança (1977) também apresenta uma história simples, mas diferente de Rebel Moon, o longa de George Lucas consegue em sua execução contar uma trama “redondinha”, introduzir personagens carismáticos e memoráveis e uma construção de mundo fantástica.

Divulgação Netflix

Rebel Moon nem isso tem. São filmes sem personagens interessantes e uma construção de mundo tão pobre que, diferente de outros universos como Star Wars ou Duna em que ficamos interessados para ver e saber mais desses mundos, a vontade de assistir mais produções nesse universo concebido por Snyder é zero. É um universo sem identidade própria, seja na parte visual como cenários, vestimentas, veículos e tecnologia em geral ou a falta de temas musicais marcantes. A sensação que passa é que todo esse universo foi gerado por IA, algo extremamente derivativo de outras obras pré-existentes.

Nem mesmo na direção consegue salvar o filme. Zack Snyder fez seu nome como diretor pela identidade visual de seus filmes, como 300 (2006) e Watchmen (2009). Porém, nos últimos anos, o diretor ficou tão viciado em seus maneirismos de direção que chegam a ser uma piada, especialmente a câmera lenta. Eu não sou contra o recurso, pelo contrário, acho que quando bem aplicado em cena, ela fica muito mais interessante e marcante. Aí que está o ponto, quando é bem aplicada. Pois o Snyder usa e abusa da câmera lenta ao ponto que o efeito perde todo seu impacto. Da mesma forma em que ela é aplicada em uma cena de luta, a câmera lenta é aplicada em, e eu não estou brincando, uma montagem dos aldeões colhendo trigo. Sim, uma montagem de colheita em câmera lenta que mais parece um comercial de alguma empresa do agronegócio.

Se dá para mencionar algum ponto positivo no filme todo, é que de fato existem cenas de ação que são bem gravadas, visualmente bonitas e minimamente interessantes, mas sem serem exatamente marcantes.

E quando mencionei no título que esse era o fundo do poço da carreira de Zack até o momento, não foi por acaso, já que o filme termina com gancho para uma continuação e, segundo o próprio Snyder, ele tem planos para 6 filmes de Rebel Moon. Por que eu veria um terceiro, quarto ou mesmo um sexto filme da franquia se ele sequer conseguiu entregar uma primeira história boa para me interessar ao ponto de querer ver mais deste mundo? Se você for ver algum filme de ficção científica no streaming em abril, assista Duna: Parte 2, um filme muito mais empolgante, épico e recompensador para o espectador e passe longe de Rebel Moon – Parte 2.

 

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