No universo teatral, onde as palavras costumam reinar, a Cia KÀ de Teatro decidiu abrir mão do texto convencional e entregar ao corpo a missão de contar uma história. Pandora, o mais recente espetáculo da companhia, estreia na segunda edição da Namoska, uma mostra que celebra a inovação e a ousadia artística. Com uma narrativa que se desenrola através de movimentos, gestos e silêncios, a peça convida o público a uma experiência sensorial intensa, onde a esperança é questionada como um paradoxo: libertadora ou aprisionadora?
A criação de Pandora foi um processo colaborativo e desafiador, liderado por uma direção que buscou desconstruir as narrativas tradicionais. O elenco — Caio Frankiu, Beatriz Marçal, Bruno Sanctus e Luana Busnello — mergulhou em um laboratório de experimentações físicas e improvisações, construindo imagens cênicas que falam mais alto que qualquer diálogo. A inspiração veio das reflexões de Carlos Millarch sobre aprisionamento, liberdade e a dualidade da esperança, mas a adaptação foi moldada coletivamente, permitindo que a história emergisse organicamente dos corpos em cena.
“Queríamos que o público se sentisse desarmado, sem o conforto das palavras para explicar o que está acontecendo”, explica a direção. Em Pandora, o corpo se torna o texto, e cada movimento, uma linha carregada de significado. A ausência de falas não é um vazio, mas um convite para sentir antes de compreender.
A fisicalidade dos atores oscila entre contenção e explosão, criando imagens que sugerem ora liberdade, ora aprisionamento. Cada gesto interrompido, cada olhar suspenso e cada posicionamento no espaço revelam a ambiguidade da esperança — algo que impulsiona, mas também pode prender. De todo o contexto, apenas duas performances possuem texto. Afinal, o espetáculo é construído em 4 solo performances independentes, com apenas um único arco dramático sustentado no paradoxo entre liberdade e prisão, sonho e desilusão.
A sonoplastia, ainda em construção por Luiz Nogueira, e a trilha sonora ao vivo de Mila Leão amplificam essa experiência, criando um ambiente sonoro pulsante que acompanha os movimentos dos atores, intensificando sensações de sufocamento e alívio.
“A esperança em Pandora não é um colapso, mas um paradoxo”, reflete a equipe. “Ela mantém o público e os personagens em movimento, mas também questiona se esse movimento realmente leva a algum lugar.” A peça não oferece respostas fáceis, mas lança perguntas incômodas: o que você guarda dentro de sua própria caixa? Suas esperanças libertam ou funcionam como prisões disfarçadas?
A estreia na Namoska é um marco significativo para a Cia KÀ. A Mostra, da própria Cia, é um espaço para produções que desafiam o convencional, sendo o cenário ideal para Pandora. “Estar na Namoska é um reconhecimento do nosso trabalho árduo e da nossa missão de provocar, emocionar e desafiar as convenções”, afirma a companhia.
Ao final da apresentação, o público é convidado a carregar consigo não apenas a experiência do espetáculo, mas também o peso das perguntas que surgiram durante a peça. Pandora é mais do que teatro: é uma jornada de autodescoberta, onde cada gesto, som e silêncio ecoam dentro de quem assiste, deixando uma marca visceral e inquietante.
Prepare-se para abrir sua própria caixa. Pandora promete ser uma experiência que vai além do palco, desafiando você a confrontar suas próprias esperanças e verdades reprimidas.
Sinopse: E se a esperança não fosse um presente, mas um engano? E se aquilo que nos faz seguir em frente também nos mantivesse presos? Pandora não é uma história convencional. Aqui, o texto se desfaz, tornando-se apenas um vestígio, enquanto o corpo assume o protagonismo como principal instrumento de comunicação. Através do movimento, da presença e da intensidade de cada performance, a peça cria um espaço onde as palavras são substituídas por gestos, silêncios e sensações. Entre reflexões e liberdade poética, Pandora desafia o público a abrir sua própria caixa. O que ainda está trancado dentro de você? Você está pronto para libertar ou para se prender ainda mais?
SERVIÇO NAMOSKA II
Data: 26 a 30 de março
Local: Espaço Excêntrico Mauro Zanatta (Rua Lamenha Lins, 1429 – Rebouças)
Valor: entre R$60,00 e R$40,00 (inteira) e R$30,00 e R$20,00 (meia)
Ingressos: www.sympla.com.br/eventos?s=namoska
Site: www.ciakadeteatro.com.br
Instagram: @ciakadeteatro