O grandioso musical “Ney Matogrosso – Homem com H”, lotou o Teatro Guaíra nos dias 01 e 02 de abril e foi um dos grandes destaques da programação da Temporada de Musicais do 32º Festival de Curitiba.
Como transformar em arte o que já é arte em sua pura essência? Contar e recontar histórias de personalidades tão importantes para a cultura brasileira não é uma tarefa fácil, mas a produção e todo o elenco de “Homem com H” conseguiram cumprir esse desafio com maestria.
O espetáculo – no sentido literal da palavra, narra a trajetória de Ney Matogrosso, e os principais momentos de sua vida pessoal e sua carreira artística. Dono de uma voz e personalidade inigualáveis, Ney Matogrosso é um dos artistas mais completos e irreverentes da nossa história. O garoto tímido da cidade de Bela Vista – MS, possuía em seu âmago a vontade de atuar, de estrear nos palcos. Desde sua adolescência, Ney possuía o desejo de conhecer mais sobre o universo artístico e de se aventurar por esse mundo.
Os dramaturgos Marília Toledo e Emílio Boechat, construíram o texto costurando passagens das três biografias publicadas do artista, assim como receberam também consultoria do próprio Ney. Juntos, selecionaram os principais enredos que permeiam a vida do ícone brasileiro. Dirigidos por Fernanda Chamma e Marília Toledo, a performance de todo o elenco entrega toda a magia que o público espera de um grande musical. Destaco aqui o trabalho primoroso de Daniel Rocha que assume a Direção Musical do espetáculo, e Andréia Vitfer, preparadora vocal do elenco.
Destaque também para o trabalho de pesquisa do ator Renan Mattos, que encarnou a figura de Ney nos palcos e entregou uma performance incrível e extremamente respeitosa, de fato honrando toda a trajetória e arte de Matogrosso.
O cenário prático e móvel de Carmen Guerra consegue cumpre muito bem seu papel, ora servindo de cenários mais fixos, como as casas das personagens, ora servindo como o palco das apresentações do artista, formando desenhos junto aos corpos dos atores e atrizes em cena.
Um ponto crítico que me incomodou muito na apresentação foi a qualidade da saída do som dos microfones, provavelmente problema do próprio Teatro Guaíra. Em muitos momentos não era possível entender as falas do elenco, o que frustrou minha experiência como espectadora. Infelizmente, o mesmo aconteceu em “Tatuagem”, apresentado no Guairinha, também parte da programação principal do Festival. Uma pena, pensando na estrutura e importância do complexo cultural do Teatro Guaíra, que provou não estar acusticamente preparado para receber grandes musicais.
De qualquer modo, a frustração não diminui a qualidade do espetáculo, e da mensagem primordial que ele nos deixa, assim como toda a trajetória de Ney Matogrosso no cenário artístico brasileiro: não podemos jamais ignorar nossos anseios pela liberdade, liberdade de expressão, liberdade no amor, liberdade de ser quem se é!
FICHA TÉCNICA:
Texto: Marília Toledo e Emílio Boechat; Direção: Fernanda Chamma e Marília Toledo; Coreografia: Fernanda Chamma; Direção Musical: Daniel Rocha; Cenografia: Carmem Guerra; Figurinos: Michelly X; Visagismo: Edgar Cardoso; Desenho de som: Eduardo Pinheiro; Desenho de luz: Fran Barros & Tulio Pezzoni; Preparação vocal: Andréia Vitfer; Realização: Paris Cultural; Apresentado por: Petrobras Premmia; Patrocínio master: EMS; Produção Geral: Paris Cultural; Elenco por ordem alfabética: Bruno Boer – Cover Ney Matogrosso, Daniela Cury – Elvira, Enrico Verta – Gérson Conrad, Fábio Lima – Simonal, Giselle Lima – Beíta, Hellen de Castro – Rita Lee, Ivan Parente – Moracy do Val, Ju Romano – Lena, Maria Clara Manesco – Luli, Maurício Reducino – Ensemble, Matheus Paiva – João Ricardo, Murilo Armacollo – Ney jovem, Vitor Vieira – Matto Grosso, Renan Mattos – Ney Matogrosso, Tatiana Toyota – Repórter, Vinícius Loyola – Cazuza e Yudchi – Vicente Pereira.