Multiverso: A história da teoria no cinema

Assim como qualquer mídia, o cinema passa por ciclos de popularidade com diferentes gêneros e temáticas de filmes. Os anos 50 e 60 foram marcados pelos longas de Velho Oeste, a década de 80 com os filmes de ação com brucutus e os terrores slashers e nos anos 2000 e 2010 a ascensão das grandes franquias e filmes de super-heróis. Mas se tem uma temática que dominou a cultura pop no final dos anos 2010 e início da década de 2020 é a temática de multiverso.

O conceito de múltiplos universos existindo paralelamente ao nosso é bem mais antigo do que imaginamos, sendo cunhada pela primeira vez na década de 50 em estudos e teorias da física quântica. Já na cultura pop, é comumente atribuído ao quadrinho The Flash, número 123 de setembro de 1961, como o primeiro grande uso do conceito de terras paralelas.

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Na história intitulada Flash de dois mundos, acontece o encontro do Flash original da década de 40, Jay Garrick, com a versão contemporânea do personagem, Barry Allen. É a partir desta história que a ideia de terras paralelas é estabelecida, dando origem ao multiverso da DC Comics e ao conceito que viria a se tornar bem corriqueiro em HQs e histórias de super-heróis.

Entretanto, por mais que o conceito em si possa ser traçado para décadas atrás e ter sido tema central de várias histórias em quadrinhos, livros e animações, o multiverso nunca caiu no mainstream da mesma forma que a viagem no tempo, por exemplo. Creio que a primeira grande exposição do público ao tema tenha sido na animação Rick and Morty (Desde 2013). A história da série envolve as bizarras aventuras de um cientista alcoólatra e seu neto medroso pelo multiverso e ganhou muita popularidade em meados dos anos 2010.

Some a popularidade da série com o lançamento de Homem-Aranha no Aranhaverso no final de 2018, animação vencedora do Oscar de melhor longa animado, e a temática de multiverso explode em popularidade. E Hollywood sendo Hollywood, os estúdios observaram uma tendência que chamava atenção do público e resolveram investir pesado em filmes e séries com histórias que abordam o assunto.

A Marvel, em especial, fez o multiverso o foco central de seu novo arco de histórias, seja em séries como WandaVision (2021) e Loki (2021-2023), em filmes como Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021), Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) e no aguardado Deadpool & Wolverine (2024), com o planejamento de culminar toda essa saga multiversal em Vingadores Guerras Secretas (2027). Até mesmo a DC abordou o multiverso no filme Flash (2023) e na recente adaptação animada de Crise nas Infinitas Terras.

E não podemos falar de filmes de multiverso sem comentar sobre Tudo em todo lugar ao mesmo tempo (2022) filme fenômeno que pegou todos de surpresa, tornando-se o maior sucesso do estúdio A24. Ao todo, o longa levou 7 Oscars incluindo Melhor Filme.

Entretanto, é difícil não sentir uma sensação coletiva de fadiga por parte do público. “Mais uma história de multiverso?!” tornou-se uma reclamação corriqueira. O que explicam esse sentimento é uma combinação de exposição excessiva da temática em produções, causando a exaustão, e o uso de multiverso pura e simplesmente pelo fanservice.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura e Flash são dois ótimos exemplos deste problema, já que o multiverso não existe no filme por um motivo narrativo ou de direção, mas sim como uma mera desculpa para poder trazer de volta atores queridos do público para reprisar icônicos papéis em participações especiais, na intenção de pirar a cabeça dos fãs e chamar mais a atenção do público.

Dito isso, existem sim ótimas obras que abordam bem o multiverso, como o já citado Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (2023) e até mesmo a segunda temporada de Invincible (Desde 2021), todas histórias em que o multiverso exerce propósito narrativo e temático para a história sendo contada e a jornada que os protagonistas passam.

 

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