Missão Impossível: O Acerto Final – Uma conclusão nostálgica, bagunçada e explosiva

Depois de desafiar o impossível sete vezes ao longo de quase 30 anos, a jornada de Ethan Hunt e Tom Cruise com a franquia Missão: Impossível chega ao fim com o oitavo filme, Acerto Final, que promete não só amarrar as pontas narrativas deixadas pelo longa anterior, como também oferecer uma despedida satisfatória para a franquia e a história do agente Hunt. Definitivamente, este é um filme grandioso e, como de costume, recheado de cenas de ação espetaculares, mas acaba não atingindo o mesmo auge que outros títulos anteriores conseguiram alcançar.

Após os eventos de Acerto de Contas (2023), Ethan e sua equipe conseguem recuperar a chave em forma de cruz das mãos de Gabriel. Em posse do artefato, o grupo precisa encontrar uma forma de localizar um submarino afundado no oceano, na tentativa de impedir a Entidade: uma IA super avançada que se infiltrou nos sistemas de defesa globais e ameaça o mundo com uma aniquilação nuclear.

Como o filme anterior termina com um gancho para a continuação, Acerto Final começa com uma recapitulação dos eventos do último longa. É neste momento que já destaco meu maior problema com o filme: a introdução arrastada e o impacto disso no ritmo da narrativa. O longa tem quase três horas de duração, e praticamente sua primeira hora é dedicada a contextualizar o espectador sobre a ameaça da Entidade e os diversos inimigos envolvidos nesse grande jogo de xadrez pelo destino do mundo.

O problema é que essas sequências se tornam uma sucessão de exposições, quase como se o espectador estivesse assistindo a uma palestra e precisasse tomar nota de todos os nomes de personagens, locais, siglas e artefatos relevantes para poder compreender a trama. Isso torna o primeiro terço do filme bastante arrastado e um tanto entediante.

Felizmente, quando o filme finalmente engrena, ele realmente engrena — com ótimas sequências de ação. A franquia Missão: Impossível nunca decepcionou nesse quesito: sempre entrega cenas de ação impressionantes e icônicas. Seja com Tom Cruise pendurado em aviões bimotores — algo amplamente divulgado na campanha de marketing —, a tensa exploração de um submarino afundado ou lutas muito bem coreografadas, tudo contribui para tornar a experiência cinematográfica ainda mais empolgante.

Reprodução: Paramount

Algo pelo qual dou muito crédito a Tom Cruise é que, mais do que um bom ator, ele é um excelente showman. Cruise sabe como proporcionar uma grande experiência que precisa ser vivida no cinema, seja com a franquia Missão: Impossível ou com o recente Top Gun: Maverick (2022). Se você é do tipo de pessoa que vai ao cinema só para ver qual é a nova loucura acrobática feita pelo ator, com certeza vai se divertir.

Ainda sobre o roteiro, Acerto Final é repleto de referências, homenagens e conexões com tramas dos filmes anteriores, o que reforça o senso de grandiosidade e de que todos os eventos passados culminaram na ameaça da Entidade. Para os fãs que acompanham a jornada de Ethan desde o primeiro filme, lançado em 1996, várias dessas referências certamente trarão um sorriso ao rosto.

Quanto ao desenvolvimento de personagens, esse é outro ponto em que o roteiro acaba tropeçando. Com exceção de Ethan, Luther (Ving Rhames) e da presidente Sloane (Angela Bassett), o restante do elenco não é muito aprofundado, e Gabriel (Esai Morales) é o pior exemplo. O personagem teve uma construção interessante no sétimo filme, atuando como um guerreiro fiel à Entidade, enxergando a IA quase como uma manifestação divina. No entanto, ele é pouco aproveitado no filme final, o que resulta em um vilão raso e um tanto caricato.

Reprodução: Paramount

A própria Entidade é outro elemento que deixa a desejar, especialmente em comparação com o longa anterior. O sétimo filme conseguiu articular sua ameaça de forma bastante intrigante, forçando os heróis a abandonarem recursos tecnológicos e informações digitais — que podiam ser facilmente comprometidos — e a recorrerem a equipamentos analógicos. Já neste oitavo filme, a IA se transforma em uma versão genérica da Skynet de Exterminador do Futuro, com um plano de dominação global.

Em um mundo contemporâneo em que o uso e a proliferação de inteligências artificiais atingiram níveis sem precedentes, e cada vez mais se discute a nível global a necessidade de regulamentação e uso ético das IAs, é uma pena que o roteiro não consiga apresentar algo mais criativo ou provocador com essa premissa.

Christopher McQuarrie tem sido o responsável pela direção e roteiro da franquia desde o quinto filme, Nação Secreta (2015), e, de todos os Missão: Impossível sob sua direção, Acerto Final é definitivamente o mais fraco. Não apenas o filme falha em atingir o mesmo patamar de Protocolo Fantasma (2011) e Efeito Fallout (2018), que considero os pontos altos da saga, como também fracassa em entregar uma conclusão satisfatória.

Sem entrar em spoilers, a sensação ao chegar ao desfecho do filme não é a de que testemunhamos o grande encerramento da franquia, mas sim de que assistimos a mais um Missão: Impossível. Embora continue sendo um ótimo filme de ação, muito bem produzido e empolgante de se assistir, é inegável o sentimento de decepção diante da expectativa gerada pela campanha de marketing.

De modo geral, Missão: Impossível – O Acerto Final é mais um bom capítulo da franquia. Mesmo com um início arrastado e uma duração um tanto excessiva, problema herdado do filme anterior, o longa consegue impressionar com suas sequências de ação explosivas e seu tom nostálgico. Se você for ao cinema, certamente terá uma experiência divertida. Contudo, os problemas de roteiro e o ritmo desequilibrado impedem que esta conclusão seja tão satisfatória quanto poderia (e deveria) ter sido.

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