Com uma narrativa que entrelaça diferentes tempos, o romance “São Sebastião”, de Luis Felipe Abreu, vencedor do I Prêmio UERJ de Literatura, chega às prateleiras com uma proposta sensível de reflexão sobre os impactos das pandemias. A obra acompanha um menino que, durante os anos 1990, parte em uma viagem enigmática com o pai. Somente anos mais tarde ele descobre que o trajeto era, na verdade, uma fuga diante do luto pela morte do companheiro do pai em decorrência da Aids. Três décadas depois, já adulto e hospitalizado com Covid-19, o protagonista revive essas memórias, confrontando questões sobre doenças, segredos familiares e narrativas silenciadas. A orelha do livro é assinada pelas escritoras Adriana Lisboa e Ieda Magri, juradas da premiação promovida pela UERJ.
A primeira sessão de lançamento ocorre no Rio de Janeiro, no dia 10 de junho, às 18h30, na Capela Ecumênica da UERJ, durante a cerimônia de premiação da obra. Já em Porto Alegre, cidade natal do autor, o lançamento acontece no dia 14 de junho, às 16h, na Bancaberta, situada na Praça Berta Starosta, no bairro Bom Fim.
“Só entendemos quem foram nossos pais muitos anos depois, da mesma forma que só compreendemos o impacto de uma epidemia após décadas. No momento, as feridas estão abertas; é preciso tempo — e a ficção — para elaborar”, afirma Luis Felipe, que é sobrinho do escritor Caio Fernando Abreu, falecido em 1996 em decorrência da Aids. Publicado pela Editora da UERJ (Eduerj), o livro nasce do desejo de encarar os silêncios em torno das duas crises sanitárias. “A Covid-19, assim como a Aids, parecia não caber na ficção. Era como se fossem assuntos a serem evitados”, comenta o autor.
A narrativa também inclui um monólogo teatral inspirado na vida de São Sebastião, padroeiro dos doentes cuja imagem foi ressignificada pela cultura queer no século XX. A figura ambígua do santo — ao mesmo tempo símbolo religioso e ícone homoerótico — reflete os conflitos do protagonista, um ator que recorre à arte para ocultar suas dores. “Não é o que faz todo escritor? Ou mesmo qualquer pessoa, ao contar suas lembranças?”, provoca Luis Felipe. A estrutura da obra se divide entre três vozes narrativas, construindo um mosaico de tempos que evidencia a delicadeza da memória.
Com referências que vão de João Gilberto Noll a Alejandro Zambra, além de inspirações cinematográficas como os filmes de Wim Wenders, “São Sebastião” convida o leitor a refletir sobre como as epidemias moldam vínculos e identidades. “É uma provocação para que o desejo de superação não se dê pelo apagamento”, afirma o autor.
Sobre o autor
Luis Felipe Abreu nasceu em Porto Alegre em 1993. É escritor, pesquisador e professor. Doutor em Comunicação pela UFRGS, atualmente realiza pós-doutorado em Ciência da Literatura na UFRJ. Premiado com o I Prêmio UERJ de Literatura em 2025, também é autor do romance “As Rimas Internas” (Aboio, 2024) e do ensaio “A Linguagem Não Pertence: Fantasmas da Propriedade na Literatura Contemporânea” (Margem da Palavra, 2024). Seus trabalhos abordam temas como identidade, trauma geracional e os limites entre realidade e ficção.
Via Assessoria de Imprensa
Foto de capa: Crédito Caroline Jacobi