(Reprodução: Blumhouse)
Acaba de estrear nos cinemas o novo filme de terror da Blumhouse (produtora de Atividade Paranormal e Sobrenatural), ‘Lobisomem’. Embora com uma lenda batida que todos conhecem, o universo foi pouco explorado pelo cinema comparado a vampiros e zumbis. E isso, enche a expectativa de quem entra na sala de cinema, e pode esperar que ela vai ser atingida em partes.
No novo longa, acompanhamos Blake, filho de um caçador que mora nas margens da floresta dominada pela criatura medonha. O filme nos mostra a relação de Blake com a paternidade de forma íntima e intrigante. Criado com um pai tóxico e super rígido, 30 anos depois, Blake se torna pai da pequena Ginger, fruto do relacionamento com a jornalista Charlotte.
Durante a construção dos arcos dos personagens, vemos que apesar de ser um pai carinhoso, brincalhão e protetor, Blake carrega um sentimento pesado relacionado as dores da infância difícil no meio da floresta. Contudo, ele precisa lidar com algo um pouco pior: A morte de seu pai.
Depois de anos afastado do pai, Blake se obriga a ir até sua velha casa na floresta para encaixar os pertences e possivelmente vender a propriedade. Durante o trajeto, a criatura ataca o caminhão da família, fazendo-os sofrer um grave acidente. No meio da confusão, Blake é arranhado pelo Lobisomem, mas não percebe.
Conforme o desenrolar da história se mostra, é nítido que a transformação do protagonista no monstro do filme é inevitável. Embora o roteiro tenha clichês e diálogos rasos em alguns pontos, é notável que há um amadurecimento e preocupação em explicar cada etapa da história, da relação dos personagens e principalmente, da transformação.
Com direção de Leigh Whannell (Sobrenatural), o filme segura ao máximo as imagens nítidas da criatura para que se crie uma verdadeira esteira de tensão que só aumenta conforme a história se desenrola. Talvez alguns achem que isso tenha sido a salvação para manter a emoção, porém, ao meu ver, foi a estratégia perfeita para que pudéssemos conhecer a criatura da visão de Blake e não da fera que o arranhou.
Aos poucos vemos a transformação do personagem de forma dolorida e como uma luta interna entre a consciência humana e os reflexos animais tentam vencer o controle da mente do rapaz. É possível notar na atuação de Christopher Abbot. O ator entrega uma performance que nos leva para o interior do Lobisomem.
Julia Garner, interprete de Charlotte, também entrega uma atuação de tirar o chapéu, principalmente nos momentos em que se vê diante da criatura que se tornou seu amado companheiro. É possível ver em seus olhos o dilema entre querer proteger sua filha, mas não conseguir machucar o seu esposo. Afinal, ele ainda é Blake?
A fotografia do filme é simples, o que se encaixa perfeitamente com a estética e ideia do longa. A maquiagem é impecável. É claro, não se compara com outras produções que dependiam exclusivamente da categoria para existir. Uma cara peluda e garras já seriam suficientes, mas Whannell se preocupa em fazer algo perto da verossimilhança.
A TRANSFORMAÇÃO
Um dos pontos fortes do filme é a transformação de Blake no Lobisomem (não é spoiler, está no trailer). Não é do nada, de uma hora para outra e muito menos lenta que nem zumbi. É no ponto certo. Além disso, a fotografia e o roteiro se preocupam em mostrar do ponto de vista dele o que está acontecendo dentro de seu corpo.
Christopher Abbot como Blake em ‘Lobisomem’ (Reprodução: Blumhouse)
OS PONTOS FRACOS
Como todo filme atual, Lobisomem também possui pontos fracos (nem tanto quanto os de super-heróis). Entre eles, estão as brechas que o roteiro não responde. É claro que não precisamos de uma continuação e o próprio diretor entende isso, contudo, dúvidas são deixadas em aberto. Além disso, o universo ficcional do longa é um tanto pequeno e pouco desenvolvido. Não somos apresentados a personagens, mesmo que coadjuvantes. Ao que parece, todos são importantes, como se Whannell não quisesse se desfazer de ninguém.
Alguns diálogos demonstram que há muita história por trás daquelas falas, mas não são aprofundados. É claro que nem sempre é o objetivo do filme, porém, alguns pontos poderiam ser explorados. Afinal, porque se restringir se ainda temos ao menos mais meia hora de tela?
Digo isso, pois o filme tem aproximadamente 90 minutos e visto que a grande maioria das produções atuais possuem em média 120, porque não explorar o universo construído? Talvez, pela fixação em ser eletrizante, rápido ao estilo thriller e a sagacidade de manter o público tenso o filme todo.
É notório, Whannell e elenco não decepcionam ao manter a ‘peteca’ no ar, mas poderia ter sido feito muito mais com o tempo que ainda tinha.
Por fim, Lobisom é um excelente filme para assistir com os amigos numa sexta-feira noite ou em algum streaming (a cara do Prime Video), mas não é nada de extraordinário. Está longe de ser o melhor filme da Blumhouse ou de Whannell. É bom naquilo que se propõe: Entrega personagens cativantes e profundos, cenas de tensão, ação e suspense, fotografia boa e o mais importante, não há personagens ‘burros’.
Essa talvez tenha sido o ponto que mais gostei da história. É tão cansativo assistir qualquer filme que seja, onde temos personagens ‘burros’ que agem unicamente pela emoção e acabam desencadeando uma onda de obstáculos completamente aleatórios que poderiam ser evitados com um grito abafado. Até mesmo Ginger, pequena, é inteligente o suficiente para saber que se o Lobisomem está atrás dela, não pode fazer barulho.
Lobisomem está em cartaz nos cinemas brasileiros.
⭐⭐⭐
Assista ao trailer: