Depois de adaptar alguns de seus longas animados mais clássicos, como A Bela e a Fera, O Rei Leão, Aladdin e A Pequena Sereia, chegou a vez de animações mais modernas da Disney receberem o tratamento live-action. Lançado em 2002, Lilo e Stitch foi uma animação bastante subestimada na época de sua estreia, já que, no início dos anos 2000, as animações 2D da Disney estavam em baixa, e toda a atenção se voltava para as produções em 3D de estúdios como Pixar e DreamWorks.
Mesmo sem ter sido um enorme sucesso nas telonas, o longa conquistou o carinho do público ao longo dos anos, seja por meio das locadoras, das exibições na TV, da série animada ou das continuações lançadas diretamente em DVD. Embora nenhuma nova produção da franquia tenha sido feita em mais de uma década, é impressionante como Stitch continua popular entre pessoas de todas as idades.
Vinte e três anos após o lançamento original, Lilo e Stitch ganha uma versão em live-action que, apesar de divertir, arrancar boas risadas e contar com uma boa produção, não possui o mesmo impacto emocional que torna a animação tão marcante e especial.
Uma das críticas mais recorrentes aos live-actions da Disney diz respeito aos efeitos especiais mal-acabados, especialmente na representação de personagens “cartunescos” e momentos fantásticos. A Pequena Sereia (2023) e Branca de Neve (2025) são exemplos recentes disso. Felizmente, esse não é o caso de Lilo e Stitch, cujos efeitos visuais são um dos pontos altos da produção.
Os recursos utilizados para dar vida a Stitch e aos demais alienígenas são bastante caprichados, tamanha a expressividade e riqueza de detalhes, é fácil acreditar que se trata de seres reais. Conquistar o mesmo carisma e expressividade do personagem na animação original é um dos principais desafios do live-action, não apenas por Stitch ser o grande atrativo do filme, mas também por ser essencial à construção da relação de amizade entre ele e Lilo.
Lilo é interpretada pela atriz mirim Maia Kealoha, que transmite bem o carisma e peculiaridades da personagem. Suas interações com Nani (Sydney Agudong) e Stitch rendem vários momentos cômicos, além de recriações de cenas icônicas da animação.
O roteiro da nova versão realiza algumas adições, cortes e mudanças em relação à história original, com resultados variados. O papel expandido de Nani ou o fato de Pleakley e Jumba usarem disfarces holográficos para se misturarem entre os humanos são acréscimos que funcionam bem e fazem sentido dentro da proposta live-action. Outras alterações, como a inclusão de personagens extras, mudanças nas personalidades de Jumba e do agente Cobra, ou a completa exclusão do Capitão Gantu da trama, provavelmente desagradarão os fãs mais saudosistas.
Embora Lilo e Stitch (2002) seja recheado de humor, a animação não tem receio de abordar temas mais profundos, como luto, solidão e a relação tensa entre Lilo e Nani, já que a irmã mais velha precisa cuidar da caçula após a morte dos pais. É uma obra surpreendentemente adulta e dramática quando necessário, o que contribui para seu forte impacto emocional.
Essa carga dramática é bastante suavizada no live-action, que adota um tom mais leve e voltado para a comédia. Isso faz com que cenas como a briga entre as irmãs, as falas sobre “ohana”, ou o momento em que Lilo conta a Stitch o que aconteceu com sua família não tenham o mesmo peso e emoção da animação original.
Outro ponto que certamente irá desagradar fãs do original é o terceiro ato do filme, completamente diferente da versão animada, a ponto de gerar dúvidas sobre se estamos realmente diante de um remake ou apenas de uma releitura da história.
De modo geral, Lilo e Stitch (2025) consegue divertir mais do que outros live-actions do estúdio, com seu bom humor, elenco carismático e efeitos especiais bem executados. No entanto, as mudanças no tom da narrativa e as alterações questionáveis no roteiro, especialmente no desfecho, impedem a produção de alcançar o mesmo nível de qualidade e memorabilidade da obra em que se baseia.