Kamal Aljafari cruza histórias pessoais com experiências coletivas marcadas por conflitos, silenciamentos e deslocamentos. Fora do modelo tradicional de produção, Kamal trabalha com liberdade artística, criando filmes que usam imagens e sons para construir um espaço afetivo, onde o espectador sente o impacto da ausência e da violência.
Em Fidai Film, vencedor de mais de 15 prêmios internacionais, Aljafari parte de imagens de arquivo que, mesmo antigas, expõem tensões ainda presentes. Criadas sob o olhar do colonizador, essas imagens passam por intervenções como rasuras, cortes, ruídos e mudanças de ritmo, recursos que não apenas expõem a censura, mas também cobram responsabilidade diante do futuro.
Os borrões vermelhos que cobrem algumas imagens e palavras representam visualmente a censura imposta a um povo, tornando o apagamento visível. O cinema de Aljafari não serve só como registro, ele resiste. Sua “ocupação cinematográfica” propõe um cinema que revisita ruínas e transforma fragmentos em memória viva.
Apesar de usar materiais do passado, o filme fala diretamente com o presente. O que se vê na tela permanece atual. A história se repete sob novas formas, mas com a mesma estrutura de apagamento.
Radicado na Alemanha, Aljafari constrói uma das filmografias mais relevantes do cinema recente. Em 2024, teve uma retrospectiva no IndieLisboa, em Portugal, e em 2021 foi homenageado na Mostra Foco do 10º Olhar de Cinema. Seus filmes não se limitam a mostrar, eles tomam posição e por isso continuam tão necessários
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