Com estreia marcada para o dia 24 de abril, o Teatro SESC Copacabana recebe a montagem “Abdias do Nascimento”, encenada por Lincoln Oliveira, que também assina a idealização do projeto. A temporada segue até 18 de maio, com apresentações de quinta a domingo, sempre às 19h.
A peça se inicia nos bastidores de um ensaio, mas rapidamente revela-se mais do que uma simples dramatização biográfica. Trata-se de um mergulho profundo nas camadas da memória, da ancestralidade e da luta por igualdade racial, tendo como ponto de partida a figura de Abdias do Nascimento (1914–2011). Escritor, político, ativista e criador do Teatro Experimental do Negro (TEN), Abdias é interpretado por Lincoln Oliveira em uma performance que transcende a representação cênica e se aproxima da vivência pessoal.
A trama apresenta dois personagens centrais: o ator e o diretor, ambos homens negros, que compartilham com o público não apenas a construção da peça, mas os impactos que essa reconstrução provoca em suas subjetividades. Oliveira dá corpo e voz a Abdias, enquanto Paulo Guidelly, no papel do diretor, conduz o processo cênico e, simultaneamente, se debruça sobre suas próprias experiências em uma sociedade marcada pelo racismo estrutural. A eles se junta João Vitor Nascimento como stand-in do diretor, estreitando ainda mais os laços entre as gerações e reafirmando a atualidade do legado de Abdias.
Com dramaturgia de Ivan Jaf e Diego Ferreira, e direção conjunta de Johayne Hildefonso e Iléa Ferraz, a montagem ultrapassa o caráter documental e propõe uma discussão sobre o fazer teatral como prática política. O TEN, fundado por Abdias em 1944, foi um marco na história da arte brasileira ao desafiar a invisibilização de artistas negros e propor novos caminhos para a representatividade nos palcos.
Mais do que encenar a história de um personagem ilustre, “Abdias do Nascimento” revela o próprio teatro como espaço de transformação e preservação cultural. Durante os ensaios, o que se revela é o entrelaçamento das histórias individuais com a coletividade de uma luta que segue pulsante. A entrega de Oliveira ao papel é atravessada pela consciência de que seu trabalho carrega uma herança que precisa continuar sendo contada, discutida e reimaginada.
“O teatro é e sempre foi um campo de luta e reinvenção, um espaço onde a cultura do povo negro se recria a cada ato, a cada palavra, a cada cena, preservando a memória de um povo tão talentoso”, afirma a diretora Johayne Hildefonso. Para ela, o processo de criação da peça é, em si, um ato político. “Por trás das luzes do palco, o ensaio revela muito mais do que a construção de uma peça teatral. Ele é o reconhecimento da importância de um legado e o lembrete de que, enquanto a luta não for completa, o teatro continuará sendo um lugar onde a história se faz, se reconta e se reinventa.”
O espetáculo, portanto, não se limita à celebração da figura de Abdias do Nascimento. Ele se transforma em convite — ou provocação — para que o público também se reconheça nessa narrativa. Ao refletir sobre o passado e suas reverberações no presente, a montagem convida à escuta, ao diálogo e à ação.
“A preservação da memória sobre a história de Abdias do Nascimento é mais do que uma simples homenagem; é um grito de resistência e um convite para que o público, também ele, se reconheça na história, se reconheça nas vozes negras que atravessaram o tempo e, de algum modo, sempre estarão presentes”, destaca Lincoln Oliveira.
SERVIÇO:
Teatro SESC Copacabana – Sala Multiuso
Temporada: de 24 de abril a 18 de maio
Dias e horário: quinta-feira a domingo, às 19h
Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160, Copacabana, Rio de Janeiro – RJ
Ingressos: R$ 10 (associado do Sesc), R$ 15 (meia-entrada), R$ 30 (inteira)
Informações: (21) 3180-5226
Bilheteria – Horário: terça a sexta-feira, das 9h às 20h, sábados, domingos e feriados, das 14h às 20h
Duração: 60 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Foto Dora Lima
Via Assessoria de Imprensa