Espetáculo “Homens Pink” celebra a ancestralidade LGBT+ no Festival de Curitiba

Foto: Renan Perobelli

Montagem resgata memórias de homens gays mais velhos em performance documental nos dias 2 e 3 de abril, no Teatro José Maria Santos

O depoimento de homens gays mais velhos, que viveram a maior parte de suas vidas fora do armário e foram inspiradores para a juventude gay do diretor Renato Turnes, é o ponto de partida da peça “Homens Pink”.

A montagem da La Vaca Companhia de Artes Cênicas, de Florianópolis, terá duas sessões na Mostra Lucia Camargo do 33º Festival de Curitiba, nos dias 2 e 3 de abril, às 18h30, no Teatro José Maria Santos.

Segundo o diretor, o projeto nasceu como um filme documentário e chega a Curitiba como uma performance dramática que celebra o orgulho da ancestralidade LGBT+. 

Tanto a peça quanto o filme tratam de infâncias fora da norma, juventudes à sombra do regime militar, o fervo como resistência, a devastação da AIDS e a passagem do tempo sob o ponto de vista dos sobreviventes.

Homens Pink utiliza a experiência de pessoas como ex-curador do Festival de Curitiba, Celso Curi, e de Carlos Eduardo Valente, José Ronaldo, Júlio Rosa, Eduardo Fraga, Luis Baron, Tony Alano, Paulinho Gouvêa e Wladimir Soares para falar de memórias ameaçadas de apagamento, registradas em documentos, objetos, fotos e vídeos de acervos particulares. Esses materiais se misturam às lembranças do ator e diretor para compor um espetáculo que enaltece o orgulho das ancestralidades dissidentes.

Inquietação pessoal

Renato Turnes explica que a investigação para o projeto surgiu de uma inquietação pessoal. “Ao alcançar a faixa dos 40 anos, iniciei um processo de reflexão sobre as possíveis repercussões da idade nos âmbitos social, afetivo, sexual, profissional e de saúde”, disse. 

Esse movimento veio acompanhado de certa angústia, devido à associação comum entre a velhice, especialmente a de pessoas LGBTQIAPN+, e imagens de solidão, incapacidade, invisibilidade e doença.

O diretor observa que, ao fim da pesquisa, direcionou seu olhar para o passado, buscando na memória os homens maduros que admirou durante sua adolescência como jovem gay.

O objetivo era estabelecer um diálogo, mesmo à distância, e construir um espelhamento que auxiliasse na compreensão das minhas próprias inquietações sobre o futuro.

Com o tempo, conta Turnes, surgiu a necessidade de dar voz a essas memórias ameaçadas de apagamento, tornando-se um amplificador de muitas outras vozes. “Hoje, costumo dizer que Homens Pink não é exatamente sobre envelhecer. É sobre celebrar as vidas dos que vieram antes da gente.”

Foto: Renan Perobelli

Provocações

Ele conta que os dois roteiros – o do filme e o do espetáculo – foram sendo desenhados ao mesmo tempo, mas em duas frentes.

Enquanto o filme seguiu o roteiro das entrevistas, a peça pôde utilizar narrativas presentes no documentário e desenvolvê-las, incluir depoimentos não utilizados, conversas fora de cena, incorporar experiências pessoais e textos autorais, além de preencher os vazios da memória com invenção. O resultado foi uma dramaturgia mais ligada ao performativo.

“Na sala de ensaio recebi colaborações de outros artistas gays para a criação do espetáculo. Inventei procedimentos que chamei de Provocações, nos quais esses artistas trabalharam comigo durante uma semana a partir do material bruto das entrevistas”, explica.

No final desse processo, apresentamos performances resultantes e debatemos com o público. Essas ações ajudaram a definir a diversidade de linguagens que o espetáculo apresenta”, conclui.


A Mostra Lucia Camargo no Festival de Curitiba é apresentada por Petrobras, Sanepar – Governo do Estado do Paraná, Prefeitura de Curitiba e CAIXA Cultural, com patrocínio de Copel – Pura Energia, ClearCorrect – Neodent, Viaje Paraná – Governo do Estado do Paraná, CNH Capital – New Holland e EBANX, e realização do Ministério da Cultura, Governo Federal – Brasil União e Reconstrução.

 

Ficha Técnica:
Direção Artística, Texto e Performance: Renato Turnes;
Assistência de Criação: Karin Serafin;
Iluminação e Projeções: Hedra Rockenbach;
Edição de Vídeos: Marco Martins;
Imagens VHS: Carlos Eduardo Valente e Dominique Fretin;
Figurinos e Máscara: Karin Serafin;
Trilha Sonora Original: Hedra Rockenbach;
Arte Gráfica: Daniel Olivetto;
Fotos: Cristiano Prim;
Produção: Milena Moraes;
Realização: La Vaca Companhia de Artes Cênicas;
Artistas Provocadores: Anderson do Carmo, Vicente Concilio, Fabio Hostert e Max Reinert;
A partir das memórias de: Carlos Eduardo Valente, Celso Curi, José Ronaldo, Julio Rosa, Eduardo Fraga, Luis Baron, Tony Alano, Paulinho Gouvêa e Wladimir Soares.
Acervos pessoais gentilmente cedidos pelos entrevistados;
Apoio: Rumos Itaú Cultural e Sesc.

Serviço:
“Homens Pink”
Dias 2 e 3 de abril (sexta-feira e sábado)
No Teatro José Maria dos Santos
Gênero: Contemporâneo / Documentário
Classificação: 14 anos
Origem: Florianópolis (SC)
Duração: 50’
La Vaca Companhia de Artes Cênicas – @cialavaca

33º Festival de Curitiba
Data: De 24/3 a 6/4 de 2025
Valores: Os ingressos vão de R$00 até R$85  (mais taxas administrativas).
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e na bilheteria física exclusiva no Shopping Mueller (Segunda a sábado, das 10h às 22h e, domingos e feriados, das 14h às 20h).
Verifique a classificação indicativa e orientações de cada espetáculo.
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