‘Duna: Parte 2’ – A Épica Obra-Prima de Denis Villeneuve

Warner Bros

Lançado em outubro de 2021, Duna foi uma experiência cinematográfica que me surpreendeu profundamente. Meu contato com a obra literária de Frank Herbert era nulo, tendo feito apenas uma pesquisa básica sobre a premissa da história antes de assistir ao filme. Ao longo de 2 horas e meia, Denis Villeneuve me conduziu por este complexo e fascinante mundo de Duna, com seus personagens e as diferentes facções que lutam pelo controle do planeta Arrakis. Some isso um excelente trabalho de atuação, fotografia, design de produção, efeitos especiais, som e trilha sonora, e temos a receita para um verdadeiro épico nas telonas, pelo qual sou muito grato, por ter sido meu primeiro filme nos cinemas após um longo período de isolamento devido à pandemia.

Recordo de muitas pessoas reclamando, desde a época do lançamento, sobre o ritmo mais lento do filme e a ausência de um final. Por se tratar de uma Parte 1, este é um aspecto que, em momento algum, atrapalhou minha experiência, já que fui com as expectativas corretas, esperando um filme que servisse para apresentar a trama, o universo e preparar o terreno para a conclusão. Pelo contrário, isso só me deixou ainda mais empolgado para a Parte 2. Eu gostei tanto de Duna que não só assisti uma segunda vez no cinema, como fiquei motivado a comprar e ler o livro, algo que, particularmente, é bem raro eu fazer.

Diga-se de passagem, eu estava extremamente empolgado para Duna: Parte 2, sendo, de longe, meu filme mais antecipado de 2024. As expectativas estavam nas alturas, ainda mais após terminar o livro poucas semanas antes do lançamento. Me lembro como se fosse ontem a experiência de assistir ao filme na semana de estreia. Os créditos subindo, eu olhando para meus amigos, de queixo caído, com os demais me olhando com a mesma expressão, todos completamente embasbacados com a experiência surreal de assistir Duna: Parte 2. Sim, o filme era tudo o que eu queria e muito mais. Eu ainda veria o filme mais duas vezes no cinema de tanto que amei, uma produção que rapidamente se tornou, e continua sendo, o meu filme favorito de 2024.

Entretanto, agora que a empolgação inicial passou e a premiação do Oscar 2025 se aproxima, assim como o aniversário de 1 ano do filme, será que Duna: Parte 2 era tudo isso mesmo? Para descobrir, convido você, caro leitor ou leitora, a me acompanhar nesta crítica de um dos filmes mais populares e comentados de 2024.

Após a morte de seu pai e a queda da Casa Atreides, Paul (Timothée Chalamet) e sua mãe Jéssica (Rebecca Ferguson) se refugiam nos desertos de Arrakis, em meio ao povo Fremen. Ao lado de Chani (Zendaya) e Stilgar (Javier Bardem), Paul deve forjar uma aliança com os Fremen para libertar o planeta da Casa Harkonnen e obter sua vingança.

Arrakis (Reprodução Warner Bros)

Mesmo que você não seja fã de Duna: Parte 1, é inegável o primoroso trabalho técnico do filme. Parte 2 não só mantém o padrão como, em minha opinião, consegue ser ainda melhor. O trabalho de direção de arte, design de produção e efeitos especiais para dar vida a este complexo universo de Frank Herbert nas telonas é meticuloso. O design de figurinos, ambientes, naves, armas e demais adereços ajuda a estabelecer muito bem, para o espectador, os diferentes personagens e facções do universo de Duna. O árido e belo deserto de Arrakis é totalmente diferente do ambiente opressivo de arquitetura brutalista de Giedi Prime, planeta natal da Casa Harkonnen, que contrasta com a elegância e sofisticação do planeta da família imperial Corrino.

A belíssima fotografia de Greig Fraser, diretor de fotografia do longa anterior, também sabe estabelecer muito bem as cenas e as emoções que elas devem transmitir. Fraser consegue alternar com maestria entre momentos épicos e grandiosos e momentos mais intimistas e contemplativos. Algo que é característico da filmografia de Villeneuve é o quanto o diretor gosta de usar a imagem para contar sua história, e com Duna: Parte 2 não é diferente. “Uma imagem vale mais que mil palavras”, como diz o ditado, e o longa é recheado de cenas poderosas, trazendo forte desenvolvimento e simbolismo para os personagens que não precisam ser explicitados pelo roteiro.

Duna, enquanto franquia cinematográfica, consegue transmitir uma escala de grandiosidade e épico, que a única comparação no mesmo nível seria a trilogia O Senhor dos Anéis. Assim como Peter Jackson, que adaptou as obras de Tolkien para as telonas, Denis Villeneuve consegue unir o melhor de dois mundos: conhecer profundamente a história,  personagens e os temas do livro e, ao mesmo tempo, ser um bom cineasta e contador de histórias, reconhecendo muito bem quais elementos adaptar, cortar ou alterar do livro para algo que funcione na linguagem cinematográfica.

Por Duna ser um livro muito extenso e complexo – com quase 700 páginas – a decisão de dividir a obra em dois filmes foi bastante acertada e favoreceu muito o desenvolvimento da trama. Diferente da adaptação de 1984, de David Lynch, que teve que comprimir toda a jornada em duas horas, os longas de Villeneuve conseguem estabelecer e desenvolver muito melhor personagens, relações e construção de mundo.

E com o terreno preparado no filme anterior, Duna: Parte 2 já joga o espectador diretamente na história, adaptando a segunda metade do livro. E sim, se você foi uma das pessoas que se incomodou com o fato do primeiro filme não ter tido uma conclusão, fique tranquilo, que este aqui finaliza sim a história. O filme tem uma duração total de 2 horas e 45 minutos, e sabe muito bem utilizá-la. Mesmo sendo uma produção longa, em nenhum momento ele é maçante ou desinteressante.

Duna: Parte 1 é uma adaptação bastante fiel, com poucos cortes e alterações, já em Parte 2 é onde podemos enxergar as mudanças mais substanciais. Sendo alguém que leu a obra original, acredito que as alterações feitas pelo diretor foram bastante coerentes. Me atrevo até a dizer que alguns desses elementos funcionam ainda melhor no filme do que no livro, e não há exemplo melhor disso do que a personagem de Chani.

Sendo uma personagem bastante superficial na obra de Herbert, que serve apenas como par romântico para Paul, a Chani de Villeneuve é muito mais tridimensional e tem um maior senso de urgência na trama, com a personagem praticamente se tornando uma coprotagonista da história. Não só as interações entre Paul e Chani são mais bem trabalhadas, fazendo com que o relacionamento amoroso se torne bastante natural, mas é através de Chani que o diretor consegue explorar os principais temas dos livros de Duna: os perigos do fanatismo religioso e as consequências de seguir cegamente líderes carismáticos. Zendaya entrega um ótimo trabalho de atuação, contracenando muito bem ao lado de Timothée Chalamet.

E como poderia falar de Duna: Parte 2 sem exaltar a fenomenal atuação de Chalamet como Paul Atreides? O ator consegue transpor muito bem os conflitos internos de Paul, que se encontra dividido entre seu desejo de vingança contra os Harkonnen e o receio das consequências que a manipulação da religião dos Fremen pode trazer para aqueles que ama e para o universo como um todo. O ator consegue transitar com maestria entre um garoto carismático e bondoso e um líder forte e imponente. Suas falas e comportamento durante todo o terceiro ato do filme são de arrepiar, tamanha sua presença em tela.

Paul Atraide (Warner Bros)

O restante do elenco também entrega ótimas atuações. Se em Duna: Parte 1 vimos um lado mais maternal e protetor de Lady Jessica, em Parte 2, Rebecca Ferguson consegue retratar muito bem o lado frio, calculista e manipulador da Bene Gesserit. O Stilgar de Javier Bardem é um personagem carismático, com ótimas tiradas cômicas, que ao mesmo tempo divertem e mostram o quão devoto e cego ele é em suas crenças. Gostaria também de ressaltar o trabalho de Austin Butler como Feyd-Rautha, sobrinho do Barão Harkonnen e um dos principais antagonistas do filme. Assim como Paul, Feyd é um personagem com forte presença de tela, e Butler consegue transmitir muito bem os sentimentos de psicopatia do personagem.

Outro excelente elemento do filme original que retorna para a sequência é a trilha sonora de Hans Zimmer, em mais um exímio trabalho do compositor, que considero até melhor que a trilha do filme anterior. Cenas como a contemplação de Arrakis, o duelo de Feyd no coliseu de Giedi Prime, Paul cavalgando o verme de areia pela primeira vez ou a batalha final se tornam ainda mais grandiosas, impactantes e emocionantes graças ao trabalho de Hans Zimmer.

Após assistir uma quarta vez para escrever esta análise, o que eu penso de Duna: Parte 2? Bom, se você chegou até aqui, creio que tenha percebido meu amor por este filme, que continua tão incrível como na primeira vez. Há muito o que se amar aqui em Duna: Parte 2: ótimas atuações, personagens ricos e complexos, uma trama cativante, trabalho técnico primoroso, trilha sonora memorável, uma belíssima fotografia, tudo isso em uma experiência verdadeiramente épica, como poucos filmes de ficção científica conseguem ser. Se você gostou do primeiro filme, e especialmente se você não gostou, por achar o primeiro parado e sem final, dê uma chance para Parte 2. Tenho certeza de que não irá se arrepender.

Não vejo a hora da chegada de Messias de Duna aos cinemas, adaptação do segundo livro da saga, que serve como encerramento da jornada de Paul Atreides. Tenho plena confiança de que Denis Villeneuve e sua equipe vão entregar mais um grande filme e encerrar com chave de ouro essa trilogia. A barra está alta para este terceiro filme, pois, em minha opinião, Duna: Parte 2 é uma obra-prima do cinema de ficção científica que será lembrada por anos como um dos grandes expoentes do gênero.

⭐⭐⭐⭐⭐

ASSISTA AO TRAILER:

 

Junte-se a comunidade que vive a cultura de verdade: Apoie o Folhetim Cultural no apoia.se agora mesmo! Clique aqui.

About The Author