Disney Studios
Dizer que o remake em live-action de Branca de Neve é um dos lançamentos mais controversos de 2025 seria um eufemismo. Desde polêmicas envolvendo os sete anões (que, em determinado momento da produção, seriam substituídos por criaturas mágicas), passando pela escolha e caracterização das atrizes Rachel Zegler e Gal Gadot nos papéis de Branca de Neve e Rainha Má, até rumores de brigas no set entre as atrizes principais, declarações negativas de Zegler em relação à história e caracterização de Branca de Neve na animação original, Gadot se pronunciando pró-Israel em meio ao conflito Israel/Palestina… enfim. Este filme parecia um imã de polêmicas. Onde quer que fosse, especialmente nas redes sociais, o longa acumulava comentários negativos em seu circuito de pré-lançamento.
Sendo bem sincero, eu não estava me importando muito com essas polêmicas. Entretanto, a situação tomou uma proporção tão grande que, somado à minha antipatia por esses remakes da Disney, me levou a crer que o filme seria um completo desastre. E, ao sair da sessão, cheguei à seguinte conclusão: é ok. Um filme água com açúcar, inofensivo, com os mesmos acertos e defeitos de outros live-actions da Disney.
Existe um detalhe muito importante a ser pontuado, algo que pode ajudar ou arruinar sua experiência com o filme: Branca de Neve é mais uma reinterpretação do que um remake da animação de 1937. Apesar de o filme se apoiar muito na iconografia do clássico animado, a história apresenta expansões e alterações consideráveis, fazendo do live-action mais uma reimaginação da trama.
Reprodução: Disney Studios
Se você esperava uma recriação 1 para 1 da animação original, é possível que se decepcione. No entanto, caso você esteja de mente aberta, acredito que conseguirá se divertir com esta nova versão da história. O que é esquisito é que este filme é uma verdadeira faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que tenta atualizar a trama de Branca de Neve, ele se vende como um remake da animação original. Ao tentar executar ambas as ideias, o filme não consegue extrair ao máximo nenhuma das duas abordagens.
Falando sobre a história em si, acredito que as novas adições ajudam a desenvolver melhor os personagens, dando-lhes mais camadas e trabalhando melhor seus relacionamentos. Sejamos francos, mesmo sendo um clássico eterno das animações, Branca de Neve e os Sete Anões é uma história bastante simples, até simplista para alguns. Portanto, achei bem interessante a forma como o remake explora mais a relação de Branca de Neve com seus pais, o reino em que habita e a Rainha Má.
Rachel Zegler está muito bem em tela e consegue retratar de forma convincente o lado gentil, atencioso e empático de Branca de Neve, sendo uma protagonista com a qual o público consegue se afeiçoar com facilidade. Além disso, ela é muito mais proativa do que sua contraparte original, que é bem rasa. Zegler também canta muito bem nas sequências musicais do longa e acredito que sua experiência prévia em musicais, como Amor, Sublime Amor (2021), tenha ajudado bastante.
Algo que senti bastante enquanto assistia é que há muito DNA de outras princesas mais modernas da Disney injetado nesta nova Branca de Neve. Em vários momentos, me peguei pensando na Rapunzel de Enrolados (2010), especialmente em sua relação com a Rainha Má e com o personagem Jonathan, interesse romântico da protagonista. Andrew Burnap e Rachel Zegler têm uma dinâmica interessante e, apesar de simples, pelo menos o romance nesta versão da história é melhor trabalhado, tornando cenas famosas como o beijo de amor verdadeiro um pouco mais naturais do que o príncipe que simplesmente aparece no final da história.
Reprodução: Rainha Má
Quanto à participação de Gal Gadot, ela é passável. Gadot sempre chamou mais atenção por ser uma atriz muito bonita e carismática do que necessariamente por ter um grande alcance de atuação, e seu papel como Rainha Má é um exemplo perfeito disso. Sua caracterização e visual como a personagem estão ótimos, e sua atuação cumpre o papel, mas nada que mereça grandes elogios ou críticas.
É dessa mesma forma que me sinto em relação à trilha sonora e às sequências musicais. Algumas, principalmente aquelas que recriam a animação, são muito boas, com bom trabalho de ritmo, voz, coreografia e direção. Já a maioria das canções originais, compostas pela dupla Benj Pasek e Justin Paul (La La Land), são bem esquecíveis, o que me deixa um tanto intrigado, considerando os trabalhos prévios da dupla.
Quanto aos demais aspectos técnicos, todos cumprem seus papéis de forma competente, como os departamentos de design de produção, fotografia, figurino e efeitos especiais dos animais que interagem com a Branca de Neve. O mesmo não posso dizer sobre os efeitos especiais usados nos sete anões, que são muito esquisitos. O live-action tentou recriar o visual e as proporções cartunescas dos anões da animação, fazendo com que os anões fossem personagens inteiramente gerados em computação gráfica, mas, com um visual realista, isso não combinou nem um pouco, especialmente quando estão contracenando com atores reais.
É uma situação muito “água e óleo”, onde um estilo visual não combina em nada com o restante. A expressão de Dunga mais parece o mascote da revista MAD, de tão bizarro que ficou. O que me deixou ainda mais encabulado enquanto assistia é que existe um personagem coadjuvante que é interpretado por um ator com nanismo, e fica muito esquisito quando ele interage com um dos anões digitais. Por que não simplesmente fizeram os sete anões serem interpretados por atores reais? Não existe justificativa para isso.
O terceiro ato do filme também é um ponto que me incomodou, sendo bastante anticlimático e fazendo com que o filme se encerre em baixa, ao invés do confronto poderoso que o filme tenta construir entre Branca de Neve e a Rainha Má pelo destino do reino.
No fim das contas, Branca de Neve é mais um entre tantos remakes live-action produzidos pela Disney. Se você curtiu empreitadas anteriores do estúdio com essa temática, provavelmente se divertirá com este filme, da mesma forma que evitaria caso não tenha gostado de outros live-actions. Particularmente falando, Branca de Neve não me ofende como o remake de O Rei Leão (2019) nem me entedia como A Pequena Sereia (2023). É apenas um filme inofensivo para passar o tempo, mas que provavelmente não deixará muitas lembranças depois que terminar.
NOTA: ⭐⭐⭐
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