Bailarina: Nova assassina, mesma essência

Reprodução Lionsgate

Quem imaginaria que um filme de ação protagonizado por um ator com a carreira em baixa, após uma sucessão de projetos fracassados; dirigido por coordenadores de dublês que sequer tinham experiência com longas-metragens; com uma história de vingança absurda envolvendo um cachorro; e que, por muito pouco, não foi lançado diretamente em DVD, iria revolucionar o cinema de ação moderno? O sucesso inesperado de John Wick não só catapultou a carreira de Keanu Reeves e dos então diretores estreantes, Chad Stahelski e David Leitch, como também revigorou a forma como os filmes de ação são produzidos, influenciando projetos como Atômica (2017) e Anônimo (2021). Após quatro filmes de sucesso crescente, a franquia recebe seu primeiro longa derivado: Bailarina.

Derivados de grandes franquias são um verdadeiro jogo de “cara ou coroa”: ou entregam uma história que consegue introduzir novos personagens e expandir elementos da obra original, enriquecendo ainda mais aquele universo, ou se revelam produções cuja natureza caça-níquel é escancarada, sem agregar valor ao espectador ou à narrativa central. Felizmente, Bailarina se encaixa no primeiro caso, ao apresentar uma nova protagonista, expandir o já complexo submundo de assassinos e, ao mesmo tempo, manter a essência e o estilo que todo fã da saga aprecia.

Ambientado entre os eventos de John Wick 3 e John Wick 4, Bailarina conta a história de Eve Macarro (Ana de Armas), uma jovem treinada desde a infância pela organização Ruska Roma. Entretanto, ao descobrir pistas sobre o paradeiro dos responsáveis pela morte de seu pai, Eve embarca em uma sangrenta jornada de retaliação.

Reprodução Lionsgate

Assim como os longas da franquia principal, Bailarina não tem a pretensão de entregar uma história complexa e cheia de reviravoltas. A trama é bastante simples — o que não significa que seja ruim. O acerto do filme está justamente na expansão desse excêntrico e instigante universo de assassinos de aluguel, ao se aprofundar na Ruska Roma, sua história e tradições, além de apresentar novas facções inimigas — algo que a franquia vem fazendo muito bem desde o segundo capítulo.

Ana de Armas também está muito bem no papel principal. Da mesma forma que o marketing dos filmes anteriores focava no preparo físico de Keanu Reeves, com treinos de artes marciais e manuseio de armas, o mesmo se aplica aqui. É visível na tela o quanto a atriz se dedicou para entregar sequências de ação autênticas.

A maneira como o longa articula o caráter iniciante da personagem nas cenas de ação é particularmente interessante. Eve é uma assassina novata, e isso se reflete nos combates: ela comete erros, demonstra inexperiência e recorre frequentemente à sorte e ao improviso para escapar das enrascadas. Ao meu ver, esse é um ponto bastante positivo, pois torna a personagem mais crível e humana — menos “lenda” e mais vulnerável que John Wick.

Falando nas cenas de ação — os grandes destaques da franquia —, todas são muito bem coreografadas e filmadas, permitindo ao público acompanhar com clareza o desenrolar dos combates, sem cortes excessivos ou câmeras tremidas que tornam a ação confusa. Além disso, é impressionante como, já no quinto filme do universo, a equipe ainda consegue criar sequências criativas, como Eve utilizando as lâminas de um par de patins de gelo como armas, ou a intensa batalha com um lança-chamas.

Reprodução Lionsgate

Entre os pontos negativos do longa, alguns membros do elenco acabam sendo subaproveitados. É o caso do antagonista Chanceler (Gabriel Byrne), raso e esquecível, ou do personagem Daniel Pine (Norman Reedus), cuja participação é surpreendentemente pequena, especialmente considerando sua presença destacada nas campanhas de marketing.

Outro aspecto que considero uma faca de dois gumes é a participação de John Wick — revelada nos próprios trailers. Por um lado, o filme sabe trabalhar bem a aura lendária do personagem, especialmente por estarmos vendo a história pelos olhos de Eve, o que reforça a ideia de que, se você está na mira do Baba Yaga, é melhor começar a rezar. Por outro lado, essa é o tipo de surpresa que teria sido muito mais impactante se descoberta apenas na sala de cinema, sem o material promocional ter estragado o momento.

Em resumo, Bailarina é uma boa adição ao universo John Wick, conseguindo estabelecer uma nova protagonista, explorar novas áreas desse mundo e entregar uma experiência bastante satisfatória para os fãs de ação. É gratificante ver que a franquia não depende exclusivamente de seu personagem-título para oferecer ótimas produções.

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