Quando se observa o histórico de animações produzidas pela Disney, chama atenção a quantidade de sucessos que o estúdio já emplacou e que se tornaram obras queridas pelo público. Desde os primeiros filmes no fim da década de 1930 e início dos anos 1940, passando pela “Era da Renascença”, entre meados dos anos 1980 e a década de 1990, até o ressurgimento na década de 2010, com títulos como Frozen (2013), Moana (2016) e, claro, Zootopia (2016).
Entretanto, outra tendência igualmente perceptível — e muitas vezes ignorada — é o fato de que as continuações dessas animações raramente alcançam a mesma magia, impacto e repercussão de seus longas originais. Infelizmente, sinto que esse padrão se repete em Zootopia 2, que, apesar de muito bem produzido e de cumprir o papel de entreter, não possui o mesmo charme que tornou o primeiro filme um sucesso moderno.
Na trama, Judy Hopps e Nick Wilde precisam desvendar um novo caso envolvendo o misterioso aparecimento de uma cobra — algo chocante, já que répteis não são vistos em Zootopia há mais de cem anos. Além de lidarem com conflitos internos como equipe, a dupla embarca em uma aventura que promete revelar segredos sobre a origem da metrópole animal.
Começando pelos acertos, Zootopia 2 é um filme visualmente deslumbrante. A animação é colorida, expressiva e extremamente detalhada, especialmente no trabalho de iluminação, nos cenários e nas texturas dos diferentes animais — pelos, couro, escamas. Tudo é realizado com esmero e apuro técnico.
Outro ponto forte herdado do original é a dupla protagonista. A dinâmica entre Judy — certinha e altruísta — e Nick — sarcástico e cínico — continua funcionando muito bem. As interações entre eles são divertidas e seus conflitos mantêm o interesse do público, o que é essencial, já que a relação dos dois é o coração da franquia.
Parte da personalidade marcante do primeiro Zootopia vem de sua construção de mundo e da forma criativa como os animadores mostram animais de diferentes tamanhos, espécies e necessidades convivendo em um mesmo espaço. Neste segundo filme, a expansão do universo, com a introdução de novos biomas e da classe dos répteis, é um dos elementos mais interessantes.
Se o longa original abordava preconceito por meio da alegoria entre presas e predadores, Zootopia 2 discute temas como gentrificação e apagamento histórico — ambos relevantes no cenário atual. Embora a mensagem do primeiro filme seja transmitida de forma mais sutil e elegante, o novo longa ainda trata assuntos complexos de maneira acessível, permitindo que até espectadores mais jovens compreendam, mesmo que por meio de uma abordagem mais explícita.
Quanto às fragilidades, o filme não apresenta uma narrativa tão envolvente quanto a do original, em parte porque, além da dupla principal, nenhum dos novos personagens se destaca ou tem desenvolvimento significativo. A cobra, que deveria ser um dos elementos centrais da história, acaba sendo decepcionante; ao fim, sentimos que sabemos muito pouco sobre ela. O mesmo vale para os vilões, que são genéricos e pouco inspirados.
O humor também é consideravelmente mais fraco que o primeiro, filme este que possui sacadas de humor muito criativas envolvendo os animais e as profissões que exercem. As piadas que funcionam em Zootopia 2 são piadas visuais presentes no fundo de cena, mas as piadas faladas, sobretudo as da personagem castor, são excessivamente óbvias e chegam a cansar.
Para não dizer que nenhum personagem novo funciona, o prefeito–cavalo rende boas risadas ao parodiar astros de ação que migraram para a política. A referência a Arnold Schwarzenegger é evidente em seus maneirismos e no modo de falar, o que garante momentos realmente engraçados.
No fim, Zootopia 2 é um filme competente e fácil de recomendar para quem busca um entretenimento agradável em família. Porém, a sensação ao deixar a sessão é a de estar diante de um derivado do primeiro filme — simpático, mas menos memorável e com menos personalidade do que seu antecessor.
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