Wicked foi, com folga, uma das maiores surpresas cinematográficas de 2024. Um musical que esbanja carisma graças à excelente dupla protagonista, às sequências musicais criativas e a um valor de produção de encher os olhos. Fato é que expectativas foram criadas, ainda mais quando se considera que aquele era apenas o primeiro capítulo de uma história maior.
Enfim lançada a Parte 2, qual é o veredito? A verdade é que Wicked: Parte 2, embora mantenha muitas das qualidades de seu predecessor, acaba ficando aquém e entrega uma conclusão menos satisfatória do que se esperava.
Após os acontecimentos do primeiro filme, Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande) encontram-se em caminhos opostos. Enquanto Elphaba, agora reconhecida como a Bruxa Má do Oeste, prossegue em sua luta para expor a verdade sobre o Mágico de Oz, Glinda tornou-se sua aliada política, assumindo o papel de Bruxa Boa. Com as tensões escalando, ambas precisam encontrar uma forma de enfrentar o conflito que as separa e, quem sabe, preservar a amizade.
Se você leu minha crítica de Wicked, perceberá que diversos elementos elogiados no filme anterior também se aplicam à sequência. Tudo o que diz respeito à parte técnica de Wicked: Parte 2 é impecável: design de produção, direção de arte, cenários, figurinos, penteados, adereços, efeitos digitais, tudo realizado de maneira meticulosa.

Somada a isso, há uma fotografia inspirada, capaz de transmitir com eficiência o senso de escala, grandiosidade e magia da terra de Oz, consolidando o filme como um épico de aventura e fantasia que impressiona sobretudo na tela grande.
Outro destaque herdado do primeiro longa é a dupla Cynthia Erivo e Ariana Grande, que mantém o carisma, a química e a força emocional em cena, além dos excelentes vocais nas sequências musicais. Quanto ao restante do elenco, porém, se no primeiro filme o roteiro conseguia estabelecer coadjuvantes carismáticos e relevantes para a trama, aqui muitos deles parecem subaproveitados e até mesmo escanteados.
E este talvez seja o principal problema do filme: o roteiro. A narrativa demonstra dificuldade em ganhar ritmo, o que torna a experiência, por vezes, arrastada. Para efeito de comparação, Duna: Parte 2 (2024), que também inicia sua história já no Ato II, rapidamente prende a atenção do público desde sua primeira sequência.
Particularmente, nunca li o romance Wicked (1995), de Gregory Maguire, nem assisti ao musical da Broadway que adapta a obra; minha experiência com Wicked é exclusivamente cinematográfica. Após a sessão, contudo, conversei com pessoas familiarizadas com as obras originais, que comentaram que a metade final é de fato menos envolvente que a inicial. Assim, não posso afirmar com certeza se o menor engajamento de Wicked: Parte 2 em relação à Parte 1 é um problema específico do roteiro ou uma limitação herdada do material de origem.
Outro ponto que me incomodou foi a forma como se estabelece o conflito entre as protagonistas. Por se tratar de um prelúdio à clássica história do Mágico de Oz, sabemos que Elphaba e Glinda acabarão em lados opostos, a Bruxa Má e a Bruxa Boa. Em X-Men: Primeira Classe (2011), por exemplo, também conhecemos o destino da relação entre Xavier e Magneto, mas o filme constrói tão bem a amizade entre eles que o desfecho inevitável ainda assim impacta.

Aqui, sem entrar em detalhes, o ponto de ruptura e conflito entre Elphaba e Glinda não se baseia em um dilema moral ou ideológico, mas em um motivo excessivamente novelesco, no pior sentido do termo. Talvez isso não incomode a todos, mas, para mim, prejudicou a conexão emocional com a narrativa.
No aspecto musical, esta segunda parte também é inferior à primeira. Embora as músicas sejam boas e Erivo e Grande entreguem interpretações excelentes, as canções não se mostram tão memoráveis quanto as do filme anterior. As próprias sequências musicais são consideravelmente mais simples, carecendo da criatividade e do dinamismo que marcaram a Parte 1.
Ao deixar a sessão, tive a sensação de que Wicked: Parte 2 se aproxima muito mais de IT: Capítulo 2 (2019) do que de Duna: Parte 2 (2024). Faço essa comparação porque ambos repetem muitas qualidades de seus respectivos predecessores, mas, por falhas de roteiro, resultam em experiências menos coesas e menos impactantes que suas Parte 1.
No fim, resta a pergunta: Wicked: Parte 2 é um bom filme? Sim, ele é. Graças à carismática dupla de protagonistas e ao excelente valor de produção, trata-se de uma experiência que certamente vai entreter muitos espectadores. Contudo, seus defeitos impedem que esta conclusão alcance o voo grandioso que poderia — e deveria — ter tido.
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