Uma Batalha Após a Outra, comédia com muita ação que subverte o papel do herói clássico

Uma Batalha Após a Outra começa com o grupo rebelde chamado French 75, que protesta usando bombas e armas contra um governo tirano. Nesse grupo, eles resgatam imigrantes, explodem bancos e lutam contra o sistema. Entre eles está Pat, interpretado por Leonardo DiCaprio, responsável por construir os explosivos. No meio disso, Pat se apaixona por Perfídia (Teyana Taylor), integrante do French 75 e a mais impulsiva e irresponsável do grupo.

Quinze anos depois, Pat muda seu nome para Bob Ferguson e vive cuidando de sua filha Willa (Chase Infiniti), fruto de seu relacionamento com Perfídia. Agora, Bob está mergulhado em drogas e álcool, consumido pela paranoia. Até que um inimigo do passado retorna: o Coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn). Quando sua filha é sequestrada, Bob embarca em sua missão mais importante — resgatá-la — iniciando uma busca marcada por perseguições intensas.

Apesar da premissa, o filme é uma comédia, muitas vezes escrachada. Logo na primeira cena, no resgate dos imigrantes, já fica claro que estamos diante de uma comédia do absurdo, que dialoga com empoderamento feminino e ironia política.

Paul Thomas Anderson, diretor do longa, acerta ao criar um filme que mistura gêneros: drama, humor e ação. Ainda assim, a duração de quase três horas pesa, e em alguns trechos — especialmente no início — a narrativa fica arrastada demais, demorando quase um terço para chegar à perseguição, que é seu principal eixo.

O tom político permeia toda a obra, retratando um futuro dominado pela extrema-direita americana. O preconceito aparece em falas absurdas, que ao mesmo tempo soam surreais e verossímeis. Esse exagero garante a leveza de um filme fácil de absorver, sem ser “cabeça” demais. Entre os vilões, Sean Penn rouba a cena, entregando uma atuação intensa e marcante.

Leonardo DiCaprio também se destaca, alternando momentos cômicos — como quando esquece o código do grupo revolucionário — com trechos mais dramáticos, que exploram sua paternidade, fracassos e inseguranças. Seu personagem acaba funcionando tanto como alívio cômico quanto como figura humana com a qual o público pode se identificar. Já Willa, interpretada por Chase Infiniti, é a verdadeira revelação: ela se torna o centro da trama, e em muitos momentos assume o protagonismo que o pai perde. Bob, preso em suas falhas e vícios, não realiza nenhum ato heroico — e essa escolha narrativa subverte o clichê do herói salvador, mas também enfraquece sua jornada, deixando-o preso ao arquétipo do herói fracassado sem uma chance clara de redenção.

Tecnicamente, a fotografia de Michael Bauman e o som de Jonny Greenwood são destaques absolutos. A fotografia aposta em contrastes fortes e planos abertos que intensificam a grandiosidade das cenas, especialmente nas perseguições de carro, que se tornam um espetáculo visual à parte. Já a trilha sonora de Greenwood molda a narrativa: ora com silêncios tensos, ora com batidas e cordas nervosas, ela cria um ambiente de imersão total. Em alguns momentos, o som chega a sobrepor os diálogos, mas o resultado geral é um clima de tensão que prende o espectador na cadeira.

Por ser uma sátira política, o filme pode não agradar a todos. Alguns vão achar caricato demais; outros, político demais. Mas essa é justamente a intenção: provocar choque momentâneo e gerar discussão mais pelo absurdo do que pela sutileza.

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