Tragicomédia ‘Nastácia’ revisita Dostoiévski sob perspectiva da mulher

Foto Lucas Azevedo/O Folhetim Cultural

A última apresentação da temporada de Nastácia aconteceu no domingo, 5 de outubro, com todas as sessões esgotadas. A peça tem direção de Flávia Pyramo, que também interpreta a personagem-título. Flávia divide o palco com Gilberto Gawronski, no papel de Totski, e Lenine Martins, como Gánia.

Logo no início, acompanhamos a festa de aniversário de Nastácia — um momento que deveria ser de alegria, mas que se transforma em uma tragédia sobre a perversidade e as contradições dos homens.

Inspirada no romance O Idiota, de Fiódor Dostoiévski, a montagem faz um recorte específico da história: o aniversário de Nastácia, em que ela é colocada em uma espécie de leilão, com sua mão sendo disputada por seu pretendente Gánia e pelo latifundiário Totski.

O espetáculo apresenta um cenário único, composto por uma mesa de jantar elegante e quadros vazios, que simbolizam a riqueza oca dos personagens e da elite. Embora baseada em um romance russo que critica a aristocracia do século XIX, a peça estabelece um paralelo com a realidade de Curitiba, reforçando uma crítica universal: a existência de elites mesquinhas e tolas em qualquer lugar.

Foto Lucas Azevedo/O Folhetim Cultural

Desta vez, a história é contada a partir do ponto de vista da personagem feminina. A figura do príncipe, central no livro, é evocada na plateia — com a sugestão de que ele poderia ser qualquer um de nós. O espetáculo salta diretamente para o desfecho trágico da narrativa e abre espaço para um discurso sobre o feminicídio no Brasil, lembrando que existem muitas “Nastácias” por aí, ainda precisando de ajuda.

A tragicomédia foi vencedora dos Prêmios Shell e APTR de Melhor Direção e Cenário, e contou com intérprete de Libras na apresentação de sábado. Nastácia ainda terá *mais uma semana de apresentações em Belo Horizonte, em dezembro deste ano, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB BH).

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