Ver mulheres como protagonistas no cinema ainda é raro, e mais difícil ainda é encontrá-las em histórias que não giram em torno de homens. Torniquete chega para romper com esse padrão. Com direção e elenco totalmente femininos, o filme escolhe olhar para dentro, para a dor silenciosa que mora nas famílias e que, muitas vezes, ninguém quer ver.
A cicatriz é a personagem principal. Ela aparece logo no começo e não vai embora, permanecendo firme como símbolo do que não conseguimos esquecer. É ela quem guia a história, mostrando que curar não é simples, e nem sempre é possível.
A trama reúne três gerações de mulheres sob o mesmo teto. Unidas pelo sangue, mas distantes pelo afeto, elas precisam reaprender a viver juntas. O lar vira campo de batalha e refúgio ao mesmo tempo. Lá fora, o mundo continua hostil; aqui dentro, os conflitos são outros, mais sutis, mais profundos.
Torniquete acerta ao usar metáforas simples para falar de temas difíceis: a ausência de carinho, o peso do passado, os laços que sufocam. O filme não tenta dar respostas prontas, apenas mostra, com delicadeza e firmeza, como a dor pode unir, mas também afastar.
A diretora Ana Catarina Lugarini já tinha se destacado com Da Janela Vejo o Mundo, em 2021. Agora reafirma seu talento ao colocar no centro da narrativa aquilo que costuma ficar à margem: o olhar feminino, a dor invisível, a resistência que vem do cuidado.
Em um cenário onde a presença de mulheres na produção cinematográfica ainda diminui. Segundo a Forbes, caiu de 25% em 2021 para 23% em 2024. Torniquete representa mais do que um filme, é um ato de afirmação. Mostra que as mulheres têm histórias para contar e que há quem queira escutá-las.
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