Divulgação/Reprodução MAX
A segunda temporada de The Last of Us — e boa parte da primeira, se formos francos — é basicamente uma adaptação das cutscenes do jogo, os famosos “filminhos” em que a história é contada entre uma sessão de jogatina e outra. Pelo fato de os jogos já possuírem uma forte linguagem cinematográfica, a transição e adaptação para uma produção live-action é bastante natural. Mas e quanto às sessões de gameplay, nas quais o jogador está de fato controlando os personagens pelas fases, explorando os cenários e combatendo inimigos — como a série aborda isso? Fico feliz em dizer que o episódio 4, Dia Um, consegue retratar muito bem, em tela, a sensação e a tensão que é jogar The Last of Us.
Após deixarem Jackson no episódio anterior, Ellie e Dina finalmente chegam a Seattle. A busca da dupla pelo paradeiro de Abby se inicia, com ambas tendo que trabalhar juntas para explorar a cidade e evitar os perigos da WLF e dos infectados.
Dia Um é um episódio muito bem-sucedido em múltiplas frentes. Além de fazer a história avançar — algo que tenho criticado com certa frequência nos últimos episódios —, o novo capítulo consegue desenvolver muito bem a relação entre Ellie e Dina e retratar, em tela, a experiência de como é, de fato, jogar o game.
Para aqueles que não jogaram, o segmento de Seattle é basicamente um “mini mundo aberto”, no qual o jogador fica livre para explorar um amplo trecho da cidade delapidada em busca de suprimentos e informações sobre o paradeiro do grupo de Abby. A série transmite muito bem esse senso de exploração quando as meninas vasculham prédios abandonados e ruas tomadas pela natureza.
É durante essas sessões de jogo que a relação entre ambas é mais aprofundada. O relacionamento de Ellie e Dina é adorável de assistir, não só por serem personagens bem escritas, mas também pela ótima química entre a dupla. Isabela Merced arrebenta na atuação, conseguindo transmitir, ao mesmo tempo, alegria e emoção genuína — como na cena da loja de discos — e tensão e medo, como na sequência em que a dupla precisa lidar com os infectados.

A cena do violão, por sinal, certamente irá aquecer o coração dos fãs mais apaixonados pelo jogo, quando Ellie toca Take On Me para Dina, além dos acordes do tema principal de The Last of Us ao fundo.
O episódio também retrata muito bem os segmentos de combate do jogo, especialmente em sua segunda metade. A forma como as personagens devem ser cautelosas — agindo de forma furtiva, escondendo-se atrás de coberturas e pegando inimigos pelas costas — é bastante verossímil. A tensão desses momentos “caça-caçador” é muito bem retratada, seja contra soldados humanos ou infectados pelo Cordyceps. Vale dizer que a direção do episódio, cortesia de Kate Herron, consegue transmitir muito bem ao espectador essas emoções de perigo iminente.
Mais uma vez, é preciso mencionar o excelente trabalho de produção da série. Seja na criação dos cenários da Seattle destruída, na maquiagem de ferimentos e infectados, nos figurinos ou nos adereços, é visível em tela o grande orçamento da série e o esmero técnico da equipe de produção em tornar este mundo e cada mínimo detalhe, o mais palpável e crível possível.
Não poderia falar de Dia Um sem mencionar a ótima introdução de Isaac na série. Jeffrey Wright, ator que deu vida ao personagem em The Last of Us: Parte II (2020), reprisa seu papel na série. Mesmo com apenas duas cenas, o ator entrega um excelente trabalho ao mostrar um personagem extremamente frio, implacável e carismático, tanto na abertura do episódio quanto na cena de interrogatório. Só pelo pouco que apareceu, já fiquei bastante curioso e interessado em ver como a série irá desenvolvê-lo nos episódios seguintes.

Algo que, particularmente, não tem me incomodado tanto — mas que, com certeza, irá incomodar os fãs mais puristas do jogo — é a mudança de tom entre a jornada do game e da série. A Ellie retratada no jogo é motivada completamente por um desejo obsessivo de vingança, enquanto a versão da série da personagem ainda busca isso, mas transmite a sensação de que se trata de uma aventura entre as duas garotas e o desenvolvimento da relação entre elas. Vemos pouco em tela, até o momento, desta raiva e sede de vingança da personagem.
De forma geral, gostei bastante de Dia Um e fico feliz em ver que a equipe de produção consegue retratar muito bem o que é The Last of Us, não apenas em termos da história e das cutscenes do jogo, mas também da experiência de jogar essa aventura. Com boas atuações do elenco, um desenvolvimento eficaz e ótima química entre Ellie e Dina, a introdução de Isaac e boas sequências de ação e terror fazem deste um dos melhores episódios da temporada até agora. Agora que a temporada está entrando em sua reta final, veremos como a trama continuará nas próximas semanas.