Lançado originalmente em 2013, The Last of Us é um dos games mais aclamados por crítica e jogadores dos últimos anos. Seus personagens complexos e marcantes, uma belíssima trilha sonora, valores de produção dignos de uma obra cinematográfica e uma história emocionante fazem deste game um dos mais amados de todo o catálogo da PlayStation. Não à toa, as expectativas estavam nas alturas para o lançamento da série produzida pela HBO, que adaptaria a jornada de Joel e Ellie por um mundo pós-apocalíptico.
O sucesso da primeira temporada, lançada em 2023, foi arrebatador, com a audiência crescendo a cada novo capítulo e a série tornando-se a produção mais assistida da HBO na América Latina e Europa. Ao todo, estima-se que a série tenha conquistado uma média de 32 milhões de espectadores, além de todo o prestígio por parte da crítica.
Fato é que as expectativas para a segunda temporada ficaram ainda maiores. Após pouco mais de dois anos de espera, a HBO finalmente lançou o primeiro episódio da nova temporada: Dias Futuros. Mas será que a espera valeu a pena?
Desta vez adaptando o enredo de The Last of Us: Parte II (2020), a segunda temporada se passa cinco anos após os eventos da primeira, com Joel e Ellie vivendo uma vida relativamente tranquila na comunidade de Jackson. A relação entre os dois, no entanto, está bastante conturbada. E a situação só se complica ainda mais quando erros do passado de Joel retornam para assombrá-los.
Pode parecer meio óbvio o que vou dizer, mas este primeiro episódio é bem introdutório. Vou explicar: ao dizer que Dias Futuros é introdutório, quero dizer que ele serve para nos apresentar e estabelecer o novo status quo da série — a vida e as relações dos personagens em Jackson —, mas não avança necessariamente a trama em si. Meu ponto é: não acontece muita coisa neste episódio. Ele funciona mais como uma preparação de terreno para que a história engrene nos episódios seguintes.
Divulgação HBO
Mesmo que não entregue tanto em termos de narrativa, o que Dias Futuros nos mostra de Jackson é muito interessante, realmente transmitindo a ideia de uma comunidade viva, onde cada pessoa contribui como pode para a gestão da cidade. Isso gera um contraste marcante em relação à primeira temporada, mostrando que, mesmo em meio a um apocalipse de zumbis-cogumelo, nossos personagens ainda conseguem manter algum semblante de “vida normal”.
O valor de produção da série, assim como na primeira temporada, continua altíssimo. Os cenários são ricos em detalhes e referências aos jogos, os figurinos e adereços são bastante caprichados e as maquiagens e os efeitos especiais utilizados nos infectados pelo Cordyceps são excelentes, realçando o aspecto repugnante e assustador das criaturas, o que contribui para uma experiência mais real e imersiva para o espectador.
Também achei interessante como o episódio consegue posicionar os personagens dentro dessa nova realidade. Pedro Pascal, sendo o ator talentosíssimo que é, transmite com precisão o sentimento de dor que Joel sente por estar afastado de Ellie. Gostei também de vê-lo interagir com personagens como seu irmão Tommy (Gabriel Luna) e a nova amiga de Ellie, Dina (Isabela Merced). É bom ver que a série está conseguindo expandir em relação ao material original, proporcionando mais tempo de tela para esses personagens secundários e dando espaço para que os atores brilhem.
Quanto à Ellie de Bella Ramsey, admito que não sei se gostei tanto da interpretação da personagem. Apesar de Ellie ter, canonicamente, 19 anos — enquanto Ramsey tem 21 na vida real — e terem se passado cinco anos desde a última vez que a vimos, essa passagem de tempo não é sentida. A impressão é que se passaram apenas alguns meses e que a personagem não cresceu.
Divulgação HBO
Sua personalidade também me causou certo estranhamento. O distanciamento entre ela e Joel, que nos jogos é tratado com mais seriedade — uma raiva e mágoa decorrentes de um conflito real —, aqui parece mais uma birra adolescente com o pai. Seu comportamento desleixado e a atitude meio “levando na brincadeira” durante patrulhas de vigilância fora da cidade também me soaram incongruentes, especialmente considerando a seriedade da ameaça representada pelos infectados.
Isso não quer dizer que a atriz não entrega bons momentos. Suas cenas interagindo com Dina e Tommy são bem legais e mostra que a atriz está bem entrosada com os demais parceiros do elenco. Mas em um primeiro momento, não me agradou tanto sua caracterização. Isso é algo que pode mudar com o decorrer da temporada.
Outro ponto que sei que pode incomodar os fãs do game é a apresentação de Abby. Sem entrar em spoilers sobre eventos futuros, a série deixa muito mais claras as intenções da personagem logo de início, em comparação com a obra original, o que acaba tirando um pouco do fator surpresa e impacto.
No geral, Dias Futuros é um começo “ok”. Reintroduz os personagens e suas novas rotinas, mas sem avançar muito na trama. A terceira temporada já foi confirmada e continuará a adaptação da história do segundo game. Fica aqui minha torcida para que a narrativa comece a ganhar ritmo nas próximas semanas e que os episódios não se tornem uma “encheção de linguiça”.
Crédito da capa: HBO