(Atenção! A crítica a seguir contém spoilers da 4ª temporada! É recomendado ter assistido ao seriado antes de ler a crítica!)
Quando teve sua estreia em 2019, The Boys foi um verdadeiro sopro de ar fresco em produções de super-heróis. Trazendo uma história recheada de violência e humor ácido, o seriado é uma grande paródia com os clichês do gênero, ao mesmo tempo que traz sátiras e críticas sobre nossa sociedade atual, política e o mundo corporativo. The Boys se tornou de longe a franquia mais popular do Prime Video, rendendo múltiplas temporadas, um derivado com Gen V (2023) e a série de curtas animados Diabolical (2022). Neste ano, chega ao serviço sua 4ª temporada, lançamento pelo qual estava bem empolgado. Entretanto, com o passar das semanas, minha empolgação foi diminuindo cada vez com o que é de longe a temporada mais fraca da série até então.
Com Victoria Neumann cada vez mais próxima da Casa Branca e as tensões políticas entre os Luzes-Estrelitas e os apoiadores do Capitão Pátria aumentando, os The Boys devem descobrir uma forma de impedir os planos do Capitão Pátria de colocar Neumann, uma super, como Vice-Presidente. O tempo para agir, entretanto, é curto, já que o tumor de Billy Bruto continua crescendo, dando pouco tempo de vida para o personagem.
Sendo direto, o que mais me incomodou nesta temporada inteira é a sensação de eu estar assistindo um grande filler, uma encheção de linguiça na história. Não consigo tirar da cabeça que se você pegar todos os acontecimentos importantes que avançam a trama, teríamos resumido essa temporada em 2 ou 3 episódios nos máximo. Esta temporada é lotada, especialmente na primeira metade, de várias tramas paralelas que não agregam em nada a trama principal. O pior exemplo disso é a subtrama envolvendo Francês e a culpa de seu passado como executor, ao refletir que é o responsável pela morte de seu atual ficante. É uma história que não complementa de forma alguma a história principal e que é praticamente ignorada da segunda metade em diante. Collin, esse interesse amoroso que teve a família assassinada, desaparece da série.
Hughie também ganha uma subtrama envolvendo a morte de seu pai e o retorno de sua mãe, que o havia deixado quando ainda era criança. Mesmo que essa história renda cenas muito boas e emocionantes por parte da atuação e diálogos, no quadro geral, é outra trama que não leva a lugar nenhum e que os personagens praticamente ignoram da segunda metade em diante.
A impressão que fica na minha opinião, é que o showrunner Eric Kripke e o time de roteiristas só tinham história para 4 temporadas. Mas como Kripke já havia prometido que o seriado teria 5 temporadas e a série é de longe a mais popular da Amazon, eles optaram por não alterar o final e só esticar um pouco mais a história até chegar nesse final. Isso fica muito claro quando a trama principal da série, os The Boys procurando pelo vírus matador de supers, só começa a caminhar da segunda metade em diante apenas, o que reforça mais uma vez meu argumento de que é uma temporada que não precisava existir e que poderia ser resumida em 2 ou 3 episódios.
Esse problema das subtramas que não levam a nada, já é um problema que vimos em temporadas anteriores e que reforça ainda mais, para mim, o maior problema dessa série inteira: o roteiro não sabe se desapegar dos personagens. Como a série tem um elenco grande de personagens e o roteiro não sabe como utilizar todos na história principal, ele cria essas subtramas para dar a esses personagens algo a fazer. Profundo é o pior exemplo desta mania, já que é um personagem que está desde a 2ª temporada sem agregar em nada e sinceramente já tá fazendo hora extra nessa série.
Creio que ele só não morreu no episódio 7 na luta contra a Luz-Estrela, algo que seria tematicamente apropriado já que seria a vingança de Annie por ter sido abusada pelo Profundo, pois seu destino já está escrito na 5ª temporada. Da mesma forma que nada aconteceu com a Kimiko quando, ainda neste mesmo episódio, o cientista injeta o vírus em sua perna. Ao invés de morrer ou não conseguir mais regenerar a perna perdida, ela fica bem como se nada tivesse acontecido, pois nada de importante pode acontecer já que seu desfecho já está definido, fazendo desta cena um susto vazio para o espectador.
Até esse ponto, o texto está bem negativo e de fato foi uma temporada que me incomodou bastante, mas estaria mentindo se dissesse que não curti outros momentos deste 4º ano do seriado. A cena em que o Capitão Pátria retorna para o laboratório onde foi criado para torturar os cientistas foi uma das melhores e mais tensas partes dos 8 episódios, mostrando mais uma vez o quão bom Antony Starr é como ator.
O episódio 6 foi outro destaque para mim pessoalmente, ao trazer em cena Tece-Teia, o “Homem-Aranha” do universo The Boys, com um lançador de teia cientificamente acurado se é que você me entende, e Tek Knight, um “Batman” sadomasoquista com direito a mordomo, parceiro mirim e uma Tek Caverna, que na verdade é uma masmorra do “prazer”. Por se tratar de paródias dos meus dois heróis favoritos, foi algo muito engraçado de se ver em tela. O arco de redenção do Trem-Bala também foi bem interessante, mostrando uma evolução e lado mais humano do personagem, embora seja algo que não é resolvido na temporada.
Outra coisa que o seriado nunca deixou a desejar são as paródias que faz, especialmente quanto aos filmes e produtos licenciados dos heróis. Eu dei gargalhadas quando é apresentada uma versão da feira “D23” onde são anunciados trocentos filmes e fases no melhor estilo Marvel. O videogame de luta dos Sete, no melhor estilo Mortal Kombat foi algo que dei muita risada ao ver e que fiquei com vontade de jogar.
Esta é uma boa hora para explicar a escolha do título e como isso reflete minha opinião geral na temporada. Para cada coisa que eu gostei, tem tantas outras que me incomodaram bastante. 1 passo para frente, 2 passos para trás. Isso fica claro com as novas adições ao elenco. Mana Sábia e Espoleta foram duas novas personagens que gostei bastante, especialmente como trabalham o aspecto da manipulação de massas através da mídia e se apropriando de discurso religioso. Entretanto, na segunda metade em diante, ambas são quase que inteiramente escanteadas, tendo participações mínimas. Joe Kessler também é um personagem interessante, servindo como o “Tyler Durden” de Billy Bruto. Mesmo que seja bem óbvia a revelação de que ele seja fruto da mente de Bruto, ainda é personagem que rende boas cenas.
E já que estou falando dos personagens, a inconsistência deles pelos episódios foi algo bem irritante. Em um momento, os The Boys expulsam o Bruto do grupo e não querem mais nada com ele, para já no próximo ele voltar à equipe. O Francês faz todo um drama que precisa ser preso por seus pecado e no próximo episódio tá livre da cadeia.
Ryan foi o pior desses casos, já que em determinados momentos o garoto se mostra favorável ao seu pai, Capitão Pátria, depois em outro ele vai pro lado do Bruto, depois volta a ficar mal, volta a ficar bom e no último episódio, mesmo depois de descobrir que o Capitão Pátria violentou sua mãe, ele volta a ficar mal de novo e se une a seu pai. Estou dando esses exemplos, pois é algo bem irritante quando se assiste, fazendo com que eu não me importe de verdade com o que vai acontecer com os personagens, pois no próximo episódio vão desfazer essas decisões.
Mas sendo justo, o episódio final dá uma boa melhorada, com a história finalmente caminhando para frente, agora com a morte da Neumann, Capitão Pátria com o golpe de estado super e os The Boys sendo presos ao final da temporada. De fato é um episódio bom, com bons momentos e um encerramento interessante, mas o saldo geral da temporada é bem abaixo das anteriores. Apesar de partes boas, a 4ª temporada de The Boys não passa de um grande filler. Uma “temporada” onde caminhamos muito pouco em termos de progressão da história principal, em que o único real desenvolvimento de personagem que tivemos foi o do Trem-Bala, e por se tratar do penúltimo ano série, a temporada se preocupou demais em abrir novos pontos narrativos que não levaram a nada, ao invés de amarrar aqueles que já estavam abertos.
Fico na expectativa, no entanto, para a temporada final. Espero mesmo que os erros da 4ª temporada tenham sido algo pontual e que a 5ª possa encerrar de forma digna esse grande arco narrativo.
⭐⭐
One thought on “The Boys 4ªTemporada: 1 passo para frente, 2 passos para trás”
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