Depois de muita espera e expectativa, Superman chega aos cinemas como o primeiro capítulo do novo universo DC, agora sob o comando do cineasta James Gunn. Após liderar projetos de grande sucesso tanto na Marvel, com a trilogia Guardiões da Galáxia (2014–2023), quanto na própria DC, com O Esquadrão Suicida (2021) e Pacificador (2022), o diretor recebeu a colossal tarefa de não apenas reintroduzir o Homem de Aço, como também apresentar um novo universo compartilhado para o público nas telonas. E, após assistir ao filme, posso afirmar com segurança: James Gunn iniciou esta nova era da DC com o pé direito.
Em seu terceiro ano como Superman, Clark Kent (David Corenswet) começa a questionar seu papel como super-herói após intervir em um conflito internacional, gerando repercussões na opinião pública e no governo dos Estados Unidos.
Talvez o maior acerto de Superman esteja na forma como o filme consegue estabelecer uma identidade própria, tanto em relação a outras adaptações do personagem quanto aos filmes da Marvel no MCU. Quantas vezes já assistimos a filmes de super-heróis, sejam da Marvel ou da DC, que soam idênticos em tom, estrutura e estética, tão homogêneos e, francamente, sem personalidade?
Se há algo que não falta em James Gunn e seus filmes é justamente isso: personalidade, e Superman é a prova disso. O longa é vibrante e colorido, abraçando um tom mais leve e resgatando o lado esperançoso do herói, um elemento bastante apagado na versão anterior dirigida por Zack Snyder e interpretada por Henry Cavill.
O filme também abraça o lado fantástico das histórias em quadrinhos de maneira que poucos longas live-action ousam fazer. Este é um universo que não tem vergonha de assumir a existência de super-heróis em trajes coloridos, monstros gigantes, robôs, alienígenas, clones, dimensões paralelas, e ainda assim há espaço para dilemas humanos reais. É essa “mistureba” de extrapolação e humanidade que dá charme e estilo às histórias que há décadas cativam milhões de leitores e espectadores.
Claro, talvez esse estilo não agrade a todos, especialmente por ir na contramão de outras produções com abordagens mais “realistas” (se é que se pode chamar super-heróis de realistas). Ainda assim, é revigorante ver uma produção que consegue se destacar no meio de uma enxurrada de filmes de heróis justamente por ter uma identidade própria.
O elenco é outro ponto alto. David Corenswet está excelente tanto como Clark Kent quanto como Superman. A inspiração na atuação de Christopher Reeve é evidente, especialmente na forma como ele diferencia os dois lados do personagem por meio da postura, do tom de voz e da presença em cena. E, acima de tudo, é muito bem-vinda a maneira como o ator transmite a bondade e a gentileza do herói. Depois de vermos um Superman que deixava pessoas se ferirem em O Homem de Aço (2013), é gratificante ver cenas do personagem protegendo civis e até animais em meio às batalhas.
A química com a Lois Lane de Rachel Brosnahan também é evidente. A atriz entrega uma Lois determinada e espirituosa, com ótima presença em cena. As interações entre ela e Corenswet rendem diálogos envolventes e um romance que realmente convence.
O elenco de apoio também é carismático, incluindo Jimmy Olsen, a equipe do Planeta Diário, os heróis da Gangue da Justiça e os sempre afetuosos Jonathan e Martha Kent. Mas quem realmente rouba a cena é Lex Luthor. Nicholas Hoult está fantástico no papel, incorporando com precisão a soberba, a inveja e o ódio que Luthor sente pelo Superman. Para mim, foi a maior surpresa do filme.
Se há um ponto que me incomodou, foi o excesso de diálogos expositivos no roteiro. Pode não ser algo que incomode a todos, mas para mim foi perceptível ao longo do filme. Apesar disso, a trama simples é compensada por uma excelente construção de personagens, sustentada por um elenco talentoso, o que torna a jornada envolvente e divertida.
Nos aspectos técnicos, Superman também se destaca. O design de produção é primoroso, trazendo à vida cenários icônicos dos quadrinhos como a Fortaleza da Solidão, o Planeta Diário e a Fazenda Kent. A fotografia cria planos belíssimos que parecem retirados diretamente de páginas e capas de HQs, e as cenas de ação são dinâmicas e bem coreografadas.
Os efeitos visuais são impressionantes e, em nenhum momento, parecem inacabados. É evidente que a estratégia de Gunn, de concluir as filmagens com bastante antecedência para dar à equipe de pós-produção quase um ano de trabalho, valeu a pena. O resultado é um filme visualmente coeso e bem finalizado.
A trilha sonora, composta por John Murphy e David Fleming, acompanha muito bem as cenas grandiosas e presta diversas homenagens ao clássico tema de John Williams, composto para o Superman de 1978.
Em resumo, Superman é um excelente pontapé inicial para o novo universo DC de James Gunn. Com um elenco carismático, alto valor de produção, muita personalidade e um respeito evidente ao legado do personagem, o filme não apenas me agradou, como também me deixou bastante curioso para o que vem a seguir. Após tantos tropeços da DC ao tentar correr atrás da Marvel, é reconfortante ver o estúdio finalmente trilhando um caminho próprio. Se futuras produções como Supergirl, Lanternas e Batman: Brave and the Bold forem tão únicas e cheias de identidade quanto este Superman, temos um futuro empolgante pela frente.
Assista ao trailer:
Foto de capa: Warner Bros
