Sequestro do Papa traz a tona um debate arriscado sobre a cultura do Vaticano

Em 1858, o Papa Pio IX ordena o sequestro de uma criança judia, Edgardo, que é retirado à força de sua família sob o discurso de ter sido batizado secretamente por uma babá. Baseado em história real, o filme ‘Sequestro do Papa’ é um drama histórico que propõe uma discussão acirrada entre religiões e apenas entrega um roteiro mais fraco do que esperado. 

Isso não quer dizer que o filme é ruim. Historicamente possui uma construção excelente da narrativa, atento aos detalhes e na relação dos personagens. Ao longo da narrativa, é possível perceber os problemas éticos que o Vaticano (antes de ser Vaticano em si) que muitos pensam existir apenas nos dias de hoje. Fica nítido que a perversidade da Igreja Católica não morreu depois da Inquisição. É uma cultura milenar passada a diante.

Edgardo e sua família são judeus. Todas as noites ele reza para o seu Deus, Yaweh, pedindo proteção e prosperidade. O mesmo que os cristãos. Mas é claro que para a Igreja Católica, isso não seria o suficiente. Quando o protagonista, retirado de sua família, chega ao castelo gótico do Papa e seus súditos, percebemos que ele não é o único. Centenas de crianças também estão ali, porém, o roteiro se limita a não apresentar suas origens e como chegaram até ali. 

A mãe de Edgardo, Marianna, luta incansavelmente durante anos por seu filho. Para que o tenha nos braços novamente. O caso chega aos tribunais italianos, mas adivinha só? A igreja vence. Afinal, sempre teve forte influência e apelo na Itália. Conforme os anos passa, Edgardo cresce doutriano e deixa oficialmente de ser judeu para tornar-se padre, após bençãos do próprio Papa. 

Marco Bellocchio, diretor do longa, tem uma proposta que não se vinga. Criticar a Igreja Católica deveria ser o objetivo principal, pois é nitido sua vontade em fazer isso. Mas o que o impediu de se aprofundar? O próprio tema central da história, os motivos do sequestro e a cultura católica se perde no andar da carruagem e se limita em apenas um drama familiar.

Não é segredo que Papa e Cia. protagonizaram centenas de escândalos ao longo da história. São fatos, não suposições. Então, deveria se arriscar e trazer à tona tudo isso. Quantas crianças foram arrancadas de seus pais com uma desculpa tão medíocre como um batismo para serem forçadas a doutrina Católica? 

O foco principal em Edgardo e a preocupação em contar apenas a história dele, torna o filme fraco. Bellocchio parece sentir medo das consequências que o longa poderia lhe trazer, pois vemos um Papa fascista, que se esconde atrás do conservadorismo e dos costumes para justificar uma atitude tão maldosa (ora ora, não é mesmo?). 

De qualquer forma, ‘O Sequestro do Papa’ é um filme bom. Para assistir em um streaming, quando se gosta de dramaturgias neste estilo. Com distribuição nacional da “Pandora filmes”, o longa chega aos cinemas na próxima quinta-feira (18).

⭐⭐⭐

About The Author