Se alguém gostou de “O Corvo”, fale agora ou cale-se para sempre

Por que o Cinema existe? Qual a função de um filme? O que motiva a plateia a sentar-se à tela para dedicar cerca de duas horas de sua vida àquela produção? Obviamente, as respostas são muitas e bastante plurais – tanto quanto as pessoas que fazem e que consomem Cinema.

Posso lhes falar das minhas próprias motivações, preferências, impressões, e nada mais do que isso. 

Isto posto, vamos aos fatos: não sou do tipo que aprecia filmes de super-herois – salvo raras exceções que existem para confirmar a regra. Isso quer dizer que chego na sala de cinema com sete pedras na mão todas as vezes que vou assistir filmes de super-heroi? Sim. Quer dizer que nunca dou o braço a torcer quando o filme é bom? Não (Deadpool & Wolverine que o diga).

Foto: Reprodução / Lionsgate

 

Desnecessário

 “O Corvo” é o remake de um filme produzido em 1994 – 30 anos atrás – baseado numa HQ homônima. Esta produção mais antiga tinha a clara intenção de mostrar como seria a junção do Batman com o Coringa – mais Batman do que Coringa, diferentemente do “Batman que ri”.

O filme de 1994 apresentava cenários escuros e ambientes degradados, exatamente como deve ser a mente de uma pessoa atormentada pela sede de vingança (oi Batman). A maquiagem do protagonista trazia a boca desfigurada do Coringa, presente também na sua falta de pudor ao matar seus inimigos sem dó nem piedade. O Corvo era um justiceiro com sede de vingança (o morcego) sem respeito pela vida (o palhaço). Aquela produção levou o debate sobre fazer justiça com as próprias mãos ao próximo nível.

Já o Corvo de 2024 deve estar até agora tentando entender qual a sua razão de ser – e olha que o filme gastou um tempo de tela preciosíssimo fazendo malabarismos para tentar explicar seus personagens e seu universo. Ao final do longa não sabemos o que é o vilão e porquê devemos sentir medo dele; não temos a menor empatia pelo protagonista; sequer entendemos de onde vem o poder dessa galera toda. Não que essas explicações fossem estritamente necessárias, na verdade este é um dos maiores problemas do longa: acreditar que a plateia não é capaz de preencher as lacunas por conta própria.

Se o próprio filme não sabe o que é, fica a pergunta: precisávamos de um remake?


Uma tragédia, na acepção da palavra

O Corvo era um filme com bastante potencial e a cena de abertura colocou as expectativas lá no alto. Boa premissa, elenco com potencial e fãs curiosos, mas para por aí. Talvez o grande erro tenha sido a escolha do próprio diretor, Rupert Sanders, responsável por filmes desastrosos como “Ghost in the Shell” (“A vigilante do amanhã”, naquelas traduções que só existem por aqui) e Branca de Neve e o Caçador.

Roteiro ruim, cenários artificiais (os famosos filmes feitos na tela verde), maquiagem preguiçosa e atuações frígidas. Nada se salva. Haverá, claro, gente que goste dos tiros, das lutas e do sangue jorrando pornograficamente. Para mim, a única coisa boa do filme é quando ele acaba.

Leia mais: Longlegs é o terror que vale a pena – O Folhetim Cultural

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