Produzido pela Powerhouse Animation Studios, chegava ao catálogo da Netflix em 2020 uma das melhores e mais subestimadas animações do serviço, Sangue de Zeus. Na série, acompanhamos a história de Heron, um plebeu da antiga Grécia que descobre ser filho bastardo de Zeus. Ao saber de sua herança divina, o jovem semideus embarca em uma jornada para impedir a destruição do Olimpo. Contando com personagens interessantes, uma ótima história e uma belíssima animação, a série é um prato cheio para quem gosta de histórias de fantasia e mitologia grega. Após 4 longos anos de espera, a segunda temporada finalmente estreou e fico muito feliz em dizer que este é mais um acerto do estúdio.
Após a queda de Zeus na batalha contra os gigantes, Heron e o Olimpo estão de luto pela morte do Rei dos Deuses. Com o vácuo de poder, instaura-se uma disputa entre os deuses para decidir quem vai assumir o trono, e em meio a tudo isso, Hades finalmente revela-se do Submundo, tramando uma conspiração com Serafim, o meio-irmão de Heron.
Assim como em outras produções do estúdio como Castlevania (2017-2021), Sangue de Zeus chama atenção pelo esmero visual de sua animação, seja na direção de arte dos personagens, do mundo, na fluidez e dinamicidade das cenas de luta, o traço detalhado e expressivo, o trabalho com luz e sombra, são elementos que tornam a animação um deleite visual de se assistir do começo ao fim. Ressalto esse ponto pois até os créditos são legais de ver, mostrando storyboards, artes conceituais e rascunhos da produção de cada episódio, mostrando todo o empenho da equipe no desenvolvimento da série.
Quanto a história e personagens, Heron acaba ficando em segundo plano. Apesar de não ter tanto destaque quanto na primeira temporada, o personagem passa por uma jornada interessante sobre luto, aceitação e perdão, mas é inegável que o foco da segunda temporada está em Hades e Serafim. Depois de ficar ausente durante toda a primeira temporada, o lorde do Submundo finalmente dá as caras na série, sendo uma excelente adição ao elenco de personagens.
Os irmãos Charley e Vlas Parlapanides, criadores e roteiristas da série, escrevem personagens ricos e que intrigam o público, Hades sendo um ótimo exemplo. Hades ganha várias camadas na história, desenvolvendo bem em tela o ressentimento do deus por viver praticamente exilado, seu amor por Perséfone, a dor dessa paixão proibida e como sua história tem tantos paralelos com a de Serafim. Hades funciona tão bem não só por méritos do roteiro como também pelo ótimo trabalho de voz de Fred Tatasciore, um veterano da dublagem. Todos os dubladores e dubladoras mandam muito bem em seus respectivos papéis.
Já Serafim continua sendo de longe o personagem mais interessante de todo o seriado. Se o vilão já chamava atenção na primeira temporada por sua história cheia de manipulações e tragédias dignas de um mito grego, seu passado e personalidade são ainda mais aprofundados na segunda temporada, em uma jornada bastante íntima para o antagonista que agora assume um papel quase de anti-herói.
Outro ponto que já era ótimo na primeira temporada e segue na segunda, é a trilha sonora da animação. Composta por Paul Edward-Francis, as faixas combinam muito bem com a história, transmitindo a atmosfera de fantasia e conto épico mitológico.
Quanto ao ritmo da história, este talvez seja o maior problema para algumas pessoas. Fica claro que a história sendo contada é uma narrativa extensa, grandiosa e que envolve diversos personagens. Por extensão, o ritmo e a forma que a trama se desenrola é um tanto mais lento que a primeira temporada, para assim melhor estabelecer conflitos e relações de personagens. Assistindo aos 8 episódios, fiquei pensando comigo mesmo que esta temporada serviria para preparar o terreno.
E ao chegar no episódio final, descobri que de fato estava certo, já que a temporada termina em gancho para a próxima temporada continuar a história. Isso é algo que particularmente fico dividido. Por um lado, acho positivo a história beneficiar-se de uma duração maior e não cometer os erros que Castlevania comete ao passar vários episódios construindo a trama e resolvendo os conflitos rapidamente em apenas um episódio. Por outro, vejo como pode ser frustrante esperar 4 anos pela segunda temporada apenas para a história não concluir.
Dito isso, os criadores da série já confirmaram que a terceira temporada vai levar cerca de 1 ano para ser lançada e que o público não terá que esperar tanto para ver a continuação da trama.
No fim, a segunda temporada de Sangue de Zeus mantém o padrão de qualidade já esperado de uma produção da Powerhouse. Uma boa história, novos e interessantes personagens, um aprofundamento do elenco anterior e uma ótima animação, fazem dessa série da Netflix uma ótima indicação para fãs de histórias de fantasia e mitologia grega.
⭐⭐⭐⭐