Cena do documentário Cabra Marcado para Morrer
Em 7 de agosto, o Brasil celebra o Dia Nacional do Documentário Brasileiro. A data coincide com o aniversário do cineasta Olney São Paulo, nascido em 1936, um dos precursores do gênero no país. A criação da data busca ampliar a visibilidade do documentário e reconhecer a importância do gênero dentro da produção cinematográfica nacional.
O documentário brasileiro tem se afirmado ao longo das décadas como uma das formas mais poderosas de entender o país. Muito além do registro, ele investiga, provoca, denúncia e amplia o debate público. Em um país marcado por desigualdades históricas, disputas narrativas e apagamentos constantes, o documentário funciona como instrumento de memória e resistência. Produções como Cabra Marcado para Morrer (1984), Edifício Master (2002), O Processo (2018) e Apocalipse nos Trópicos (2024) não apenas retratam realidades, mas participam da construção da consciência crítica nacional.
Mesmo com seu valor cultural e político reconhecido, o gênero enfrenta barreiras na distribuição comercial. De acordo com o Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro de 2024, do total de 97 documentários, responsáveis por 31,3% dos longas brasileiros exibidos em 2024, tiveram um público de apenas 79 mil espectadores, 0,6% do total. Os dados apontam uma contradição: o Brasil produz muitos documentários, mas o acesso da população a essas obras segue restrito, sobretudo nas salas de cinema.
Com a popularização do streaming no Brasil, o cenário audiovisual tem passado por mudanças significativas. Quase metade da população assiste entre duas e quatro horas de conteúdo por dia, e 6% ultrapassa as seis horas diárias. As plataformas digitais já ocupam um papel central na rotina de consumo.

Nesse ambiente, os documentários nacionais conquistam espaço, alcançam públicos antes restritos aos festivais e se aproximam de novas gerações. Ainda assim, a produção brasileira enfrenta obstáculos. A presença de títulos nacionais cresce em ritmo lento, pressionada pela concorrência com produções estrangeiras e pela necessidade de diversificar os temas, formatos e abordagens.
No Brasil, onde as disputas por memória, identidade e pertencimento seguem abertas, o documentário tem ocupado um papel essencial. Documentar é também se posicionar, registrar realidades ignoradas, dar voz a quem foi silenciado e expor estruturas de poder tornaram-se atos políticos. Em tempos de apagamento, o documentário resiste e insiste em lembrar.
