Racismo do patriarca é o que mais demonstra o humanismo selvagem

Debater temas polêmicos e necessários ao mesmo tempo tem sido um desafio imenso para os artistas. A menos que não se importem em cair no modismo militante. Contudo, esse não é o caso de “Humanismo Selvagem”, peça de teatro que estreou em Curitiba no último dia 21 de setembro e escrita por Dinnis.

A peça retrata uma típica família sulista de classe alta organiza uma festa com seus entes mais íntimos para celebrar os 100 anos de seu patriarca. Quando a antiga empregada comparece ao evento, o passado criminoso de exploração do aniversariante vem à tona e traumas esquecidos ressurgem para desestabilizar as delicadas relações familiares. Como informa o press release divulgado à imprensa.

O grande embate entre os personagens se desenrola quando o serviço de empregada se revela ter sido uma escravidão horrorosa repleta de abusos e agressões. Contudo, nem todos irão lidar de forma coerente com a revelação que inclusive, leve o patriarca a morte.

ATUAÇÃO  E DIREÇÃO

Um grande ponto de destaque é a atuação do elenco. Há tempos Curitiba não se renova em sua performance cênica, saindo do comodismo pleno e trazendo uma autenticidade inabalável. É sobre isso que precisamos cada vez mais investir. Muitas vezes, principalmente durante o Festival de Curitiba, as atuações se prende no exótico e em militar que se perdem na qualidade.

Esse, definitivamente, não é o caso de “Humanismo Selvagem”, onde a direção influencia diretamente em como os atores sobrevivem em cena. Com links da atualidade e a destruição exemplar da quarta parede, Dinnis pode dizer que é revolucionário na forma de construir uma cena atual, pós-moderna e inteligente. Difícil um único espectador sair do anfiteatro frustrado por não ter entendido nada e cansado pela longa duração.

TECNICIDADE

A peça também traz elementos incríveis, como os figurinos que mesclam entre o estereotipado e o diferente. É uma brincadeira complacente o tempo todo. Já a iluminação é sutil, mas direta ao ponto de trazer os destaques ao elenco nos momentos certos.

Enquanto isso, a cenografia traz a simplicidade que muitas vezes grandes produções se recusam a fazer. É disso que falamos as vezes. É necessário que o cenário seja necessário e não exagerado. Não é simples em sua linguagem, portanto, pois ajuda a compor as cenas de uma forma bem inteligente.

O mesmo não se deve da sonoplastia, simples que só se envolve em momentos pontuais. Contudo, talvez tenha sido esse o objetivo de Dinnis e de sua equipe. Não trazer músicas, se não, entre atos e de forma minimalista.

“Humanismo Selvagem” é uma peça que debate o racismo dentro da casa de aqueles que pouco o veem. E o pior, que tentam oculta-lo a todo custo em busca da boa imagem. É um tema necessário, mas que muitas vezes são discutidos de forma batida e entediante.

A peça com duas horas de duração e dois atos parece, em primeiro momento, que se perderá em sua narrativa, mas não. É hipnotizante devido ao conjunto de fatores e linguagens muito bem construídas pela equipe que reescreve o teatro curitibano de 2023.

“Humanismo Selvagem” segue em cartaz na Caixa Cultural até o dia 8 de outubro, de quinta a domingo às 19h00.

 

Texto por Igor Horbach

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