Premiado espetáculo “Buraquinhos ou O Vento é Inimigo do Picumã” chega ao Rio, após sete anos em cartaz em São Paulo

Um menino corre para escapar de uma bala que nunca erra o alvo: um jovem negro. Esse é o ponto de partida de Buraquinhos ou O Vento é Inimigo do Picumã, espetáculo de teatro negro épico-narrativo que transforma a brutalidade cotidiana em realismo fantástico. E assim, a partir de uma linguagem poética, a peça narra a fuga e, sobretudo, a persistência em sobreviver numa sociedade que mira sempre no mesmo alvo. Com direção de Naruna Costa e idealização e dramaturgia de Jhonny Salaberg, o espetáculo estreia no Teatro Cacilda Becker, nesta sexta (12 de dezembro), às 19h, e fica em cartaz até o dia 21 de dezembro, com apresentações de sexta a sábado, às 19h, e domingo, às 18h. O ingresso é gratuito. Também será oferecida uma oficina de dramaturgia gratuita, nos dias 17 e 18 de Dezembro (de 10h às 13h), também no Teatro Cacilda Becker.

A cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil. Diante dessa realidade brutal, Buraquinhos ou O Vento é Inimigo do Picumã opta pela delicadeza. “É por meio do lúdico, da leveza que falamos da importância de resistir. O fantástico existe não para maquiar a questão, mas para mostrar o absurdo e o trágico da própria vida. A ideia é convidar o público a sentir essa ferida, a olhar para o tema com a atenção e o tempo que ele merece”, conta Jhonny Salaberg.

Em cena, Ailton de Barros, Filipe Celestino e o próprio Salaberg conduzem o público por essa travessia simbólica, onde o real e o imaginário se unem. A dramaturgia foi construída a partir do conceito de Leveza, proposto pelo escritor italiano Ítalo Calvino no livro “Seis propostas para o próximo milênio”. Para Calvino, buscar a leveza é reagir ao peso do viver. E é justamente essa ideia que inspira o espetáculo a tratar de temas densos sem perder a potência da denúncia. Como falar sobre a morte e ainda assim afirmar a vida? Como ressignificar o noticiário e devolver humanidade às estatísticas? São essas as perguntas que movem Buraquinhos.

“A leveza também é uma forma de denunciar, de resistir, de lutar, de contar as nossas histórias de uma outra maneira, de resgatar nossas subjetividades e singularidades. Somos um coletivo de pessoas que resiste. E, para além da coletividade, estamos começando a olhar para as singularidades, resgatando a humanidade, contando as nossas histórias com os nossos olhos”, destaca Jhonny.

Mesmo escrita a quase dez anos, em 2016, a violência que inspirou a obra segue presente, mas o espetáculo escolhe olhar para o futuro com esperança. “Pensando lá na frente, quero que essa obra seja sobre algo que passou. Que a gente olhe para ela como um rastro da história”, reflete.

Com diversas temporadas realizadas em diferentes estados, o espetáculo vem lotando plateias e conquistando público e crítica. Além disso, a obra ultrapassou os palcos, tornando-se referência acadêmica: integra provas práticas de processos seletivos, disciplinas em universidades estaduais, federais e escolas de teatro em todo o Brasil. Também é estudada em cursos de Teatro Negro na Noruega e de Dramaturgia Afro-diáspórica na França.

A peça acumula troféus e indicações nas principais premiações do teatro brasileiro, entre elas APCA, Aplauso Brasil e Prêmio da Folha de S. Paulo. Entre as vitórias, destaca-se o APCA de Melhor Direção para Naruna Costa, que fez história ao se tornar a primeira mulher negra a receber o prêmio nessa categoria.

“Ganhar o APCA foi muito importante, é simbólico marcar presença, ocupar esses espaços. Mas, de alguma maneira, quando esses pioneirismos acontecem eles também revelam as estruturas: Em mais de 30 anos do prêmio, o não reconhecimento ao trabalho de diretoras negras diz muito sobre a falta de percepção sobre essas criações. Faço teatro há mais de 20 anos no Grupo Clariô, na região periférica de São Paulo, mas meu nome só foi reconhecido quando eu passei a fazer um trabalho na região central. Ou seja, revela uma falta de percepção”, reflete Naruna.

Oficina de dramaturgia gratuita

Conduzida pelo dramaturgo Jhonny Salaberg, a oficina A escrita entre o voo e o abismo propõe uma experimentação dramatúrgica acerca de narrativas que permeiam situações de abismo, dialogando com a construção de uma palavra que alça voo e sugere uma curva de perspectiva. A oficina investigará as diversas e infinitas maneiras de reconstrução de um fato através da escrita para o teatro. Realizada nos dias 17 e 18 de Dezembro (de 10h às 13h), no Teatro Cacilda Becker, a atividade é destinada a 15 alunos. Os interessados devem fazer a inscrição gratuita pelo link no Google Forms, a partir do dia 9 de Dezembro.

Sinopse

Um menino negro – morador do bairro Guaianases, zona leste de São Paulo – vai a padaria no primeiro dia do ano e leva um “enquadro” de um policial. A partir daí o menino começa a correr e não para mais, o que o leva a uma maratona pelo mundo passando por países da América Latina e África. Ao longo do caminho ele é atingido por 111 tiros de arma de fogo do policial que o persegue. Buraquinhos que abrem sem pudor e o vento que espanta o picumã. Uma denúncia ao genocídio em massa da população jovem, negra e periférica com fortes tintas de realismo fantástico.

Foto Noelia Nájera

Serviço

Buraquinhos ou O Vento é Inimigo do Picumã

Data: 12 à 21 de Dezembro

Horário: Sextas e Sábados às 19h | Domingos às 18h

Local: Teatro Cacilda Becker

Endereço: Rua do Catete, 338, Catete – Rio de Janeiro – RJ

Ingresso: Gratuito (Retirada de ingressos 1h antes da sessão)

Duração: 90 minutos

Classificação indicativa: 14 anos

Siga no Instagram: @buraquinhos

 

Oficina de Dramaturgia A escrita entre o voo e o abismo, com Jhonny Salaberg

Data: 17 e 18 de Dezembro (Quarta e Quinta)

Horário: 10h às 13h

Local: Teatro Cacilda Becker

Endereço: Rua do Catete, 338, Catete – Rio de Janeiro – RJ

Ingresso: Gratuito (Inscrições através do link a partir do dia 09/12)

Capacidade: 15 participantes (Seleção por ordem de inscrição

Ficha Técnica

Idealização e Dramaturgia: Jhonny Salaberg

Direção: Naruna Costa

Elenco: Ailton Barros, Filipe Celestino e Jhonny Salaberg

Músicos em cena: Erica Navarro e Giovani Di Ganzá

Preparação corporal: Tarina Quelho

Direção Musical: Giovani Di Ganzá

Cenografia e Figurino: Eliseu Weide

Desenho de luz: Daniele Meirelles

Operação de luz: Nayka Alexandre Eacjs

Identidade visual: Murilo Thaveira

Fotos: Alessandra Nohvais, João Silva, Juliana Vieira e Noelia Nájera

Cenotecnia: Douglas Vendramini

Assessoria de Imprensa: Monteiro Assessoria

Produção: Jack Santos – Corpo Rastreado

Foto de capa: Noelia Nájera

Via Assessoria de Imprensa

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