Com mais de 30 textos encenados na Europa, Estados Unidos e Canadá, pela primeira vez, a escritora francesa Karin Serres tem uma de suas obras montadas nos palcos brasileiros. Idealizada pela Pandorga Cia de Teatro, depois de sua estreia em abril deste ano, a peça “Louise/os ursos” volta ao Rio, em curta temporada no Centro Cultural da Justiça Federal, de 21 de outubro a 12 de novembro, com sessões aos sábados e domingos, às 16h. Com direção de Cleiton Echeveste, integrante e fundador da Pandorga, o texto foi traduzido especialmente para esta montagem por Thaís Loureiro e Hugo Moss.
“Louise/os ursos”, finalista no Grande Prêmio Francês de Literatura Dramática e integrante da lista de textos de excelência, segundo o Ministério da Educação da França, conta a história de Louise, uma menina de 11 anos que mora em Alberta, no Canadá, com o pai e a irmã mais velha. Certo dia, algo extraordinário acontece em sua vida: ela vê atrás de si um grande urso branco transparente, que a segue por todos os lugares: em casa, na rua, na escola. Não é fácil convencer sua família de que ele existe – principalmente quando, aos poucos, ursos transparentes surgem por toda parte, atrás do pai, da irmã e de todos os habitantes da cidade. A questão é: apenas Louise consegue ver e ouvir os ursos. Ela vê coisas que os outros não vêem ou eles são muito desatentos?
No palco quem dá vida a história são os atores Chris Rebello, Eduardo Almeida (integrante e fundador da Pandorga), Giuseppe Marin e Ingrid Peixoto que, de forma colaborativa, propuseram elementos para montagem do espetáculo no qual a palavra tem lugar de centralidade, funcionando como um trampolim para a cena. “Trata-se de um espetáculo textual, que busca trabalhar a ocupação de um espaço cênico bem delimitado e minimalista, que ressalta ainda mais a corporeidade dos atores”, explica Cleiton. Segundo ele, a preparação corporal de Barbara Abi-Rihan (que também atua como assistente de direção) teve como objetivo tornar esses corpos mais expressivos, para além do cotidiano, imprimindo uma linguagem cênica bastante nova no histórico da Pandorga.
Cleiton, que é integrante do Centro Brasileiro da Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ/ASSITEJ Brasil), conheceu o texto de Karin em 2014, durante o “New Visions, New Voices” – um programa bienal de dramaturgia promovido pela ASSITEJ (Associação Internacional de Teatro e Artes Cênicas para Crianças e Jovens), no Kennedy Center for the Performing Arts, nos Estados Unidos. “Desde então, mantive contato com a Karin e outros participantes. Depois, passei a integrar junto com a Karin a comissão diretiva da rede de dramaturgia ‘Write Local. Play Global’, da ASSITEJ Internacional”, conta o diretor.
Para ele, a obra aborda temas atuais a começar pela diversidade, isto é, como a sociedade lida com pessoas que apresentam um comportamento diferente da maioria. Outro ponto destacado por Cleiton é a forma como a autora aborda a transição da infância para a adolescência, o que faz com que o espetáculo dialogue diretamente com esse público. “Acho que o que mais me atraiu na peça, em primeiro lugar, foi essa porta de acesso ao mundo imaginário. Fui seduzido por essa discussão entre os limites do que hoje é entendido como saúde ou deficiência mental. Além disso, a história mostra todo o processo de transformação ou transição dos personagens de uma fase da vida para a outra, saindo da infância para a adolescência, falando sobre convivência, sexualidade e afeto”, explica.
Artista inquieta e múltipla, Karin Serres começou a carreira como cenógrafa. Ao longo de sua trajetória, trabalhou como diretora, figurinista, dramaturga e tradutora. “Escrever para teatro é sempre deixar grandes buracos para que os artistas possam preenchê-los quando forem encenar a peça. Para mim, a riqueza do teatro é que cada texto pode ser encenado por diferentes equipes e preencher esses buracos de formas distintas”, contou Karin durante um papo virtual com o elenco e a equipe de criação da montagem da Pandorga. “Louise/os ursos” é a peça mais traduzida de sua autoria em outras línguas. “Cada nova tradução traz novos aspectos da história, porque nem tudo é possível de ser traduzido como foi escrito em francês”, diz.
Assim como na temporada de estreia no Sesc Tijuca, as apresentações no CCJF também vão contar com uma sala especial _ sala de regulação sensorial _, voltada especialmente para pessoas neurodiversas. Desenvolvida por Cristiane Muñoz, o espaço, localizado no foyer do teatro, é uma proposta inovadora que vai além do próprio espetáculo, oferecendo de forma inclusiva e acolhedora, um local onde a pessoa possa se autorregular e, desejando, retornar a plateia para continuar assistindo o espetáculo.
Pandorga Cia de Teatro – Criada em 2006, a companhia foi gestada durante oficinas ministradas pelos integrantes Cia. dos Atores, na sua sede na Lapa, naquele ano. Composta originalmente por Cleiton Echeveste (dramaturgo e diretor) e Eduardo Almeida (ator e produtor), a Pandorga tem contado com a colaboração regular de diversos parceiros artísticos, nas diversas áreas da criação. Como companhia de repertório dedicada especialmente ao público infantojuvenil e jovem, habitualmente compartilha seus processos criativos através de leituras, encontros, oficinas, conferências e outras atividades artístico-pedagógicas. No seu repertório, estão os espetáculos: “O Menino que Brincava de Ser” (2007) “Cabeça de Vento” (2012), “Juvenal, Pita e o Velocípede” (2015), “Como Dobrar um Lençol com Elástico – Um Experimento Cênico (2021)”.
Cleiton Echeveste – Ator, dramaturgo, diretor e pesquisador, mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Integra o Grupo de Estudos e Pesquisa em Processos de Criação no Teatro para a Infância e Juventude. Sua pesquisa investiga dissidências de gênero e de sexualidade no Teatro para a Infância e Juventude, a partir de trabalho desenvolvido com sua companhia de teatro, a Pandorga. Possui graduação em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde cursou também Letras. Tem peças premiadas e traduzidas para o espanhol, e publicadas no Brasil, Peru e Argentina. Desenvolve projetos ligados à literatura, memória e terceira idade. Integra o Centro Brasileiro da Associação Internacional de Teatro para a Infância e Juventude (CBTIJ/ASSITEJ Brasil), no qual atualmente é presidente do Conselho de Administração. É membro da comissão diretiva da rede de dramaturgia “Write Local. Play Global”, da ASSITEJ Internacional.
Karin Serres – Artista inquieta e múltipla, Karin Serres tem sua formação em cenografia, mas, ao longo de sua carreira, sua atuação desdobrou-se para a direção, o figurino, a literatura, a dramaturgia e a tradução. Autora de textos teatrais para todos os públicos, já teve mais de trinta deles encenados na Europa, EUA e Canadá, e alguns ainda inéditos nos palcos. “Louise/os ursos” foi escrita em 2005-2006 e publicada pela L’Ecole des Loisirs, em 2006. Em 2007, foi finalista no Grande Prêmio Francês de Literatura Dramática e passou a integrar a listagem de textos de excelência, segundo o Ministério da Educação da França. Em 2014, “Louise/os ursos ganhou uma tradução norte-americana de Paula Wing, tendo sido selecionada para o Translation Project do “New Visions, New Voices”, programa de nova dramaturgia para crianças e jovens promovido pelo Kennedy Center for the Performing Arts, nos Estados Unidos.
SERVIÇO
Espetáculo: “Louise/os ursos”
Temporada: de 21 de outubro a 12 de novembro
(Excepcionalmente no dia 28 não haverá espetáculo)
Horários: Sábados e domingos, às 16h
Local: Teatro do Centro Cultural Justiça Federal
Av. Rio Branco, 241 – Centro, Rio de Janeiro – RJ
(Em frente ao Metrô e VLT Cinelândia)
Valores:
R$ 30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia)
Compras na bilheteria e pelo Sympla – https://www.sympla.com.br/evento/louise-os-ursos/2201120
Classificação indicativa: Livre
Recomendação etária: a partir de 7 anos
Gênero: Infantojuvenil
Duração: 60 minutos
Lotação: 150 lugares
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