O Brutalista: Um típico filme de Oscar (no pior sentido da expressão)

Recebendo um total de 10 indicações, incluindo Melhor Filme, O Brutalista é definitivamente um dos filmes mais comentados e prestigiados desta temporada de premiações. Levando um total de 7 anos para ser desenvolvido, o longa de Brady Corbet vem ganhando muito destaque desde sua estreia no Festival de Veneza 2024 e chega ao Oscar como um dos potenciais vencedores de Melhor Filme e Melhor Ator pela performance de Adrien Brody.

Chega a ser curioso como, em praticamente todas as edições do Oscar, há pelo menos um filme que é superprestigiado pela Academia e, quando você vai assistir, acha extremamente maçante e “um porre”, por falta de uma expressão melhor. Ataque dos Cães (2021) é um exemplo recente em que aconteceu a mesma coisa comigo. O filme chegou como um dos favoritos ao Oscar e, apesar de reconhecer as qualidades técnicas da produção, foi uma experiência muito difícil e entediante de assistir. Por que estou falando tudo isso? Porque sinto que O Brutalista é o meu Ataque dos Cães deste Oscar.

Ambientado na década de 50, O Brutalista narra a história de László Tóth, um arquiteto judeu que foge da Hungria após a Segunda Guerra Mundial para recomeçar a vida nos Estados Unidos.

Começando pelos aspectos positivos do filme, a performance de Brody realmente é muito boa. O ator consegue entregar um personagem tridimensional e falho, transmitindo bem o lado mais recluso e tímido do personagem, além das angústias de uma pessoa que teve de deixar sua família e terra natal para recomeçar a vida. Suas interações com o personagem de Guy Pearce, um excêntrico magnata que contrata os serviços do arquiteto, rendem diálogos interessantes e momentos de tensão.

O design de produção também é bastante competente ao recriar todo o período e estética da América pós-guerra, assim como a ideia do “Sonho Americano” e da “Terra das Oportunidades”, algo que é bastante coerente com a época em que o filme se passa e com as ideias e temas que a história busca explorar, já que se trata da jornada de um imigrante refugiado da guerra.

Outro aspecto que também foi bastante discutido em torno deste filme é a sua enorme duração. O Brutalista tem um total de 3 horas e 36 minutos. Some isso aos 15 minutos de intervalo no meio de sua exibição e mais uns 10 a 15 minutos de trailers no começo da sessão. Estamos falando de um total de 4 horas no cinema. Sei que isso já é motivo suficiente para muitos não verem o filme e, admito, que se ele já estivesse disponível em streaming para aluguel digital, eu teria visto em casa.

Acredito que a primeira metade do filme consegue estabelecer os personagens e criar conflitos interessantes. A segunda metade, no entanto, se torna bastante arrastada. O ritmo do filme também não ajuda nem um pouco, sendo uma verdadeira prova de resistência para não cair no sono. Se você anda com problemas de insônia, creio que O Brutalista poderá ajudá-lo com a questão. A conclusão do longa também é mal explicada e bastante anticlimática. Confesso que foi uma jornada exaustiva até os créditos subirem.

Quanto aos demais aspectos do filme, como figurino, trilha sonora, fotografia e edição, todos são bastante competentes, mas nada que eu diria ser muito memorável, impactante ou emocionante, pelo menos para mim.

Creio que um dos motivos pelos quais o filme está ganhando tanta repercussão e conversando tanto com votantes da Academia e demais premiações seja toda a narrativa construída em torno de seu desenvolvimento. Além dos 7 anos que Brady Corbet levou para produzir O Brutalista, o diretor optou por filmar o filme inteiro em VistaVision, uma técnica de filmagem que utiliza filme de 35 mm para gravar, remetendo a grandes épicos do cinema americano dos anos 60 e 70. O discurso de “fazer filmes como antigamente” também foi bastante utilizado nas campanhas de premiação do longa.

Por essas razões, creio que O Brutalista é um típico filme de Oscar que apela para um público muito específico e nichado. Comparando com outros indicados deste ano, Conclave é um filme que faz o perfil de longa que a Academia gosta, mas que, ao mesmo tempo, consegue ser muito mais engajante, seja você um cinéfilo de carteirinha ou apenas uma pessoa que gosta de assistir filmes.

Entre todos os indicados a Melhor Filme, O Brutalista foi o mais desinteressante de todos, pessoalmente. Ele não tem o impacto emocional de Ainda Estou Aqui ou A Substância, a grandiosidade de Duna: Parte 2, a magia de Wicked ou a intriga de Conclave. Nem eu acredito que vou dizer isso, mas até em Emília Pérez eu senti algo assistindo. Raiva, vergonha alheia e risada dos absurdos, mas ainda estava sentindo algo enquanto via. Tenho uma forte convicção de que a pior coisa que uma obra de arte pode te causar não é raiva, e sim a indiferença, o tédio.

Por mais que eu não tenha gostado ou me conectado muito com O Brutalista, ainda acho importante ressaltar que você assista ao filme e tire suas próprias conclusões. Provavelmente, você pode encontrar algo aqui que eu não achei e descobrir um novo filmaço. Mas, para mim, com exceção da boa atuação de Brody e da competência técnica, O Brutalista foi um filme extremamente arrastado, monótono e uma das experiências mais desgastantes que tive no cinema recentemente. Se quiser uma dica, deixe para assisti-lo em casa.

Nota: ⭐⭐

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