Longa tem boa repercussão de público e crítica e apresenta personagens cativantes
O filme “O Agente Secreto” é vencedor de quatro prêmios no Festival de Cannes, representante do Brasil na corrida para vaga no Oscar e é ambientado na Recife de 1977.
Marcelo (personagem de Wagner Moura), um homem de passado misterioso, retorna a sua cidade em um Fusca, em busca de anonimato, de rever seu filho e de mais informações sobre sua falecida mãe.
Ao parar para abastecer seu automóvel em um posto de gasolina, ele se depara com um corpo, coberto com papelão e uma vela. O frentista avisa a Marcelo para não se preocupar e conta uma história sobre como aquele homem foi assassinado. Nem ele, nem nós, os espectadores, jamais ficaremos sabendo se realmente aquela é a verdadeira história sobre o assassinato daquele homem. Em sua primeira cena já percebemos a premissa que conduzirá a trama, o segredo.
Marcelo chega ao endereço de sua hospedagem, uma vila de refugiados, e ali são apresentados vários outros personagens que, como ele, estão em busca de anonimato e de uma nova vida. O diretor Kleber Mendonça Filho, apresenta ao público um mosaico de histórias como pano de fundo aos vários personagens principais da trama. E, é exatamente o que acompanhamos no longa, a vida de vários “agente secretos”, homens e mulheres com segredos tão comprometedores que não podem usar seus nomes verdadeiros, suas histórias não podem ser contadas e seus novos destinos não podem ser revelados.
O diretor nos apresenta a Recife dos anos 1970, suas paisagens, filmes da época e suas lendas urbanas. Como a história da “perna cabeluda”, uma lenda urbana sobre uma perna branca e cabeluda que aparecia à noite, em praças escuras e chutava os transeuntes. Vemos no filme essa lenda sendo usada para esconder um assassinato terrível da época. Ao nos remeter a essa invencionice, Kleber Mendonça Filho, mostra um pouco de seu cinema fantástico, com referência a “Bacurau”, seu filme, de 2019.
Enquanto esse mosaico de tramas se desenvolve, ao longo de duas horas e quarenta minutos de filme, somos apresentados a personagens inesquecíveis, interpretados de forma tão magistral por seus atores, que é preferível não destacar nenhum para não cometer injustiça, pois todos são igualmente relevantes e cativantes. Porém, todos são persona em um abrigo de refugiados e mostram apenas uma camada superficial de sua personalidade, aquela que podemos acessar, para que se mantenham em segurança.
“O Agente Secreto” é um filme cheio de conversas confidenciais, cochichos, telefonemas anônimos, propinas, olhares à espreita e onde quanto menos você souber, melhor. Apesar do drama e um tom de thriller político, há uma leveza e bom humor, tudo isso dividido em três atos.
“O Agente Secreto” estreia nos cinemas brasileiros em 6 de novembro.
