No Céu da Boca: percepções oficiais de que menos é mais

Por Gabi Coutinho

Nessa quinta-feira, 13 de novembro, voltei a assistir No Céu da Boca, produção da Na Carreira Produções, dessa vez em curta temporada no Teatro Cleon Jacques.

Eu já havia visto a peça em sua estreia, em setembro, no Teatro José Maria Santos, e o elenco — Ane Adade, Kauê Person, Marcelo Rodrigues, Michele Bittencourt e Renata Bruel — já me encantava desde então; além de lembrar de como me impressionei com o impacto visual: figurinos exuberantes, uma encenação cheia de energia e um palco que transbordava vida. Tudo era grande, bonito e chamativo.

O estranho foi que, ainda assim, saí daquela sessão sem me sentir atravessada, com a sensação de que faltava algo. Talvez mais tempo de maturação, um final mais sólido, ou uma dose maior de profundidade, especialmente por se tratar de uma homenagem a Jamil Snege, autor curitibano marcante por sua ironia afiada e olhar humano sobre o cotidiano – mas que confesso eu pouco conhecia.

Até que hoje, vendo novamente, eu pude reconhecer que o sentimento anterior que eu tive de achar que precisava “de mais” era exatamente o inverso: precisava de menos. E foi exatamente isso que encontrei nessa nova versão: um espaço menor, mais íntimo, figurinos mais neutros, menos pompa — e, por consequência, mais verdade. Sem os excessos visuais que antes me distraíam, consegui me concentrar no que a peça tem de mais potente: um texto riquíssimo e sua brilhante atuação.

Foto: Gabi Coutinho (No Teatro Curitiba)

As palavras, agora ouvidas com atenção plena e sem distrações, revelaram-se perfeitamente faladas, com a leveza em improvisos perfeitamente calculados e cheios de sentimento. O elenco se movendo com naturalidade, dominando o ritmo e mantendo o público em estado de presença. As vozes em destaque pela qualidade e pela clareza, e o trabalho de corpo impressionante: expressivo, afinado com o humor e com a poesia da cena. Cada gesto e cada pausa em seu devido lugar, criando uma organicidade rara e envolvente.

Há algo muito bonito nessa transformação. O que antes foi espetáculo agora foi encontro. E foi nesse “menos” que a peça, pra mim, ganhou alma. A homenagem a Snege, que poderia facilmente se perder em adornos, passou a pulsar com simplicidade e precisão.

Reassistir No Céu da Boca me fez entender que o essencial não estava nas cores ou nos detalhes, mas no som da palavra dita, na entrega dos atores e na sensação de estar diante de algo verdadeiro. Se na estreia eu saí admirada, agora saí tocada. E isso pra mim, foi o que fez arrepiar.

Sem querer dizer o que é melhor ou pior, e ciente de que mesmo a montagem inicial agora pudesse ressoar diferente, senti necessidade de expressar: às vezes, o que a arte precisa para brilhar não é mais luz: é apenas menos ruído.

Foto: Gabi Coutinho (No teatro Curitiba)

Foto de capa: Nay Klym e Eduardo Ramos

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