Você é do tipo de pessoa que deixa de assistir a determinada obra se um certo diretor está atrelado ao projeto? Bom, esse é exatamente o meu caso com Paul W. S. Anderson. Se vejo o nome do diretor responsável pelas atrocidades que são os filmes de Resident Evil (2002–2016), sei que receberei um filme de ação com um roteiro pífio, cenas bregas repletas de câmera lenta e atuações lamentáveis. Foi exatamente essa a sensação que tive ao ver o trailer de seu mais novo filme, Nas Terras Perdidas.
Entretanto, não dá para cobrir apenas filmes bons — trabalho é trabalho — e lá fui eu conferir a cabine de imprensa do filme, pensando que, ao menos, ele poderia ser divertido.
Ainda bem que, antes da sessão, tive o privilégio de receber um combo de pipoca e refrigerante — algo que não acontece com tanta frequência. Creio que resolveram entregar o combo aos convidados da cabine como forma de compensar a bomba cinematográfica que é Nas Terras Perdidas.
Baseado no conto homônimo de George R. R. Martin (Game of Thrones), Nas Terras Perdidas conta a história de Gray Alys (Milla Jovovich), uma bruxa que recebe a missão de viajar pelas Terras Perdidas e caçar uma criatura mortal. No caminho, ela contará com a ajuda de Boyce (Dave Bautista) para auxiliá-la nessa perigosa jornada.
Acho importante pontuar, logo de cara, que não tenho contato algum com a obra original de Martin. Portanto, não posso afirmar o quão fiel o longa-metragem é ao conto. O que posso fazer é julgar a história e o roteiro que o filme nos apresenta — e que roteiro chechelento Nas Terras Perdidas tem. Os personagens são extremamente rasos, caricatos e nada memoráveis; a trama não engaja nem empolga o espectador; os diálogos são bregas a ponto de fazer o público rir e/ou revirar os olhos, e o filme falha em construir um mundo interessante.
Esse é um ponto ao qual gostaria de chamar a atenção, pois é um dos poucos aspectos “interessantes” do filme. Nas Terras Perdidas se passa em um mundo pós-apocalíptico nos moldes de Mad Max e apresenta elementos de contos medievais, como famílias reais, Igreja e inquisidores. Existe também um aspecto de rebelião dos súditos contra o rei tirano — e de como a protagonista se torna símbolo de resistência — mas o roteiro peca, e muito, ao tentar desenvolver esses elementos.
Algo que também não é bem explicado é o mundo em si. É visível que se trata do nosso mundo após uma grande guerra, extremamente semelhante ao de Mad Max, mas, ao mesmo tempo, há magia. E não digo magia no sentido de crendice popular ou como um aspecto cultural dos habitantes desse mundo, mas magia real: há monstros, feitiços e poderes místicos nesse universo. Por não ser bem explorado, isso gera incongruências narrativas que acabaram por me desconectar do filme.
Obviamente, este não seria um filme de Paul W. S. Anderson se não tivesse sua esposa, Milla Jovovich, como protagonista. E o que posso dizer sobre sua atuação em Nas Terras Perdidas, senão que ela é exatamente igual à Alice de Resident Evil? Assim como a atriz sempre interpreta a mesma personagem em qualquer filme que faz, o que só reforça o quão limitada Jovovich é. Chega a me surpreender o fato de o diretor não ter colocado um papel para algum de seus filhos com Milla no filme. Dave Bautista também não se salva, entregando uma atuação bastante rasa e caricata — o mesmo vale para o restante do elenco.
Ok, o roteiro, a história e os personagens são ruins. Mas o filme ao menos consegue entreter com suas cenas de ação? Nem isso. Nenhuma das sequências realmente empolga, as coreografias são pouco inspiradas, e o excesso de câmera lenta é o bastante para fazer uma lágrima escorrer dos olhos de Zack Snyder. Os efeitos especiais do filme são horrorosos: não apenas ele é recheado de telas verdes quase o tempo todo, como também é extremamente fácil perceber o “recorte” em volta dos atores e como eles parecem completamente desconectados do ambiente.
A sensação que Nas Terras Perdidas passa é a de ser um filme dos anos 2000 que chegou 20 anos atrasado para a festa. Está exatamente na mesma vibe de filmes de ação bregas como Van Helsing (2004), Anjos da Noite (2003–2016) e os próprios longas de Resident Evil — daqueles que fizeram sucesso entre o público nos DVDs ou por serem exibidos na TV. Diabos, se ele fosse mesmo um filme dos anos 2000, com certeza teria alguma música do Linkin Park ou Evanescence tocando nas cenas de ação, o que ao menos o tornaria divertido.
Entretanto, o Nas Terras Perdidas que temos é um filme chato, com uma trama e personagens desinteressantes e mal trabalhados, além de cenas de ação nada empolgantes. É o tipo de filme que eu não recomendaria nem mesmo para quem curte os títulos que citei anteriormente — nem para assistir no streaming. É um filme que, pelo menos, não se arrasta, mas que não vale qualquer investimento do seu dinheiro ou tempo.
Créditos imagem de capa: Diamonds filmes
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